Crítica - The Grey (2011)

Realizado por Joe Carnahan
Com Liam Neeson, Dermot Mulroney, Frank Grillo, Dallas Roberts

Liam Neeson anda numa de guerreiro solitário. E nós não temos qualquer tipo de problema com isso. Depois do surpreendente “Taken” e do interessante “Unknown” (dois filmes onde basicamente se viu forçado a desancar em meio mundo para salvar a pele), o famoso actor irlandês vê-se agora a contas com uma alcateia feroz neste competente e deveras satisfatório “The Grey”. Este filme foi carinhosamente apelidado de “Liam Neeson contra os lobos” logo nos primeiros dias de produção. Um título que lhe faz toda a justiça, já que depois de ter enfrentado mafiosos e agentes secretos trapaceiros com os punhos e pouco mais, é apenas natural que o público entre na sala à espera de ver Neeson despachar lobos uns atrás dos outros enquanto corre pelas montanhas cobertas de neve. Para dizer a verdade, “The Grey” é muito mais do que isto. O trailer leva-nos a pensar que vamos ver o actor irlandês armado em Rambo pelas montanhas do Alasca, desancando em tudo o que lhe apareça à frente como se isso fosse a coisa mais fácil do mundo. Mas “The Grey” acaba por ser muito mais sereno e profundo do que se pudesse imaginar. Ao contrário do que se pudesse pensar, estamos perante um thriller que não tem nada de vulgar e que nos mantém num estado de tensão constante. O fio narrativo acaba por tomar alguns dos caminhos previstos e a segunda metade da acção acusa alguma repetição que maça o espectador, mas nem por isso esta obra deixa de ser uma das mais meritórias do ano transacto, afirmando-se como uma bela surpresa digna de visionamento.



Ottway (Liam Neeson num dos melhores papéis da sua carreira) vive dias de luto e de tormento. Vítima de doença prolongada, a sua esposa partiu para o outro mundo sem deixar rasto. E sem esse foco de luz que lhe transmitia coragem e placidez espiritual, Ottway vê-se furtado da sua razão de viver. Farto daquilo a que chama o pior emprego do mundo e de passar os dias na companhia de gente pouco civilizada, o caçador de lobos ainda considera pôr um termo à vida. Porém, não o faz. E como recompensa, o destino prega-lhe uma grande partida. Num dia miserável como tantos outros, o avião em que viajava conjuntamente com os seus colegas de trabalho despenha-se no meio do nada e apenas um punhado de homens acaba por sobreviver. Não podendo permanecer na montanha enregelada por muito tempo, Ottway e os restantes sobreviventes despedem-se dos que pereceram e partem para sul em busca de água e comida num qualquer aldeamento desconhecido. Mas logo chegam à conclusão de que a viagem será ainda mais árdua do que esperavam. Pois o local em que se despenharam é o habitat natural de uma enorme alcateia de lobos ferozes. E os animais depressa deixam bem claro que não estão dispostos a fazer amizades…



“The Grey” é um daqueles filmes que não está com meias tretas. Um pouco à imagem do seu amargurado protagonista, mostra o que tem de mostrar, diz o que tem de dizer e leva as coisas a bom porto da melhor maneira possível. Graças a esta abordagem inteiramente meritória e ambiciosa, afasta-se da vulgaridade que muitas vezes acompanha estas histórias de sobrevivência em locais inóspitos e consegue mesmo surpreender o espectador mais céptico, captando-lhe a atenção por inteiro. “The Grey” mostra que quer chegar um pouco mais longe e triunfar nos aspectos onde muitos falharam. Apesar de possuir uma estrutura narrativa ligeiramente previsível e que praticamente obedece a todas as regras santas do género, nunca trata o espectador como um imbecil e tem a força de espírito necessária para se afastar do moralismo barato e do happy-ending imaturo. Há certas partes da película em que esperamos que certa coisa aconteça e ela acontece mesmo, o que lhe retira alguns pontos. Mas há também outras partes em que imaginamos um certo sentido para a narrativa e esta toma uma direcção completamente oposta, o que desperta a nossa aprovação. Depois do sofrível remake de “The A-Team”, o realizador Joe Carnahan mostra que está longe de ser um caso perdido, pois redime-se agora com uma obra que poucas falhas grosseiras contém. O produto final não abusa dos CGI usados para animar os lobos em postura de ataque, a banda-sonora de Marc Streitenfeld ajuda a manter a emotividade no ponto certo, as personagens principais recebem o aprofundamento que merecem e os equilíbrios entre a acção e a melancolia estão muito bem conseguidos. Para além do mais, Liam Neeson brilha como há muito não o víamos brilhar, buscando forças ao seu próprio drama pessoal (não podemos esquecer que o actor perdeu a sua esposa Natasha Richardson há pouquíssimo tempo) para dar uma credibilidade enorme às emoções da sua personagem. Em suma, “The Grey” não é filme para se ver vezes sem conta. Mas é filme para merecer uma ida ao cinema, mesmo com o preço dos bilhetes mais elevado do que nunca.

Classificação – 4 Estrelas Em 5

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