Crítica - We Need To Talk About Kevin (2011)

Realizado por Lynne Ramsay
Com Ezra Miller, John C. Reilly, Tilda Swinton

Um ano após a sua muito falada estreia mundial durante a 64ª Edição do Festival de Cinema de Cannes, “We Need To Talk About Kevin” estreou finalmente nas nossas salas de cinema no início deste mês, para gáudio de milhares de cinéfilos nacionais que podem finalmente apreciar esta fantástica obra no grande ecrã. Este sublime melodrama de Lynne Ramsay foi alvo de fortes e merecidos louvores por parte da crítica internacional que não hesitou em considera-lo um dos melhores filmes do ano transato, um honroso estatuto que se ficou a dever, em grande parte, à sua magnifica narrativa e às soberbas performances de Tilda Swinton, Ezra Miller e Jasper Newell. A sua história é baseada no homónimo trabalho literário de Lionel Shriver e centra-se em Eva (Tilda Swinton), uma mulher com uma forte personalidade que coloca de lado toda as suas ambições para dedicar toda a sua atenção ao seu filho (Jasper Newell/ Ezra Miller). A relação entre mãe e filho revela-se difícil desde os primeiros anos e o distanciamento entre ambos torna-se cada vez mais evidente para os restantes membros da família. Nas vésperas do seu décimo sexto aniversário, Kevin faz algo irracional e imperdoável aos olhos da comunidade, algo que leva a sua mãe a lutar contra os seus próprios sentimentos de mágoa e responsabilidade.


Será que Eva alguma vez amou o seu filho? Será que é responsável pelos terríveis crimes que Kevin cometeu? Porque é que Kevin fez o que fez, em vez de descarregar toda a sua raiva na pessoa que mais despreza no mundo? Estas são apenas três das várias perguntas que nos surgem após o final deste soberbo e mundialmente aclamado drama que nos leva numa sublime e intelectualmente desafiante viajem até à génese do atribulado e delicado relacionamento familiar entre Eva e Kevin, duas personagens com personalidades muito vincadas que sempre tiveram uma relação cheia de atritos que se foi deteriorando, com o passar dos anos, por culpa dos óbvios distúrbios mentais de Kevin, mas também por causa do evidente ressentimento de Eva que nunca aceitou totalmente a sua gravidez e o consequente fim da sua liberdade. O filme nunca nos responde diretamente às perguntas mencionada, mas fornece-nos várias e valiosas informações que nos permitem tirar as nossas próprias conclusões sobre as razões que levaram Kevin a cometer os terríveis crimes e a odiar, desde o inicio, a sua mãe que, por sua vez, chega à conclusão que teve culpa na forma como Kevin foi criado, aceitado por isso ser humilhada e atacada pela comunidade como forma de castigo. O enredo de “We Need To Talk About Kevin” assenta numa estrutura muito eficaz que alterna constantemente entre o passado e o presente da Família Katchadourian, contextualizando assim a difícil dinâmica familiar entre Kevin e Eva, bem como a forma como Eva lidou com o seu filho e como encara agora o seu encarceramento e a destruição da sua família. É através dos vários flashbacks/ memórias que ficamos a conhecer melhor estas duas personagens e conseguimos compreender muitas das suas ações e reações, no entanto, é sempre difícil de avaliar se Eva foi ou não uma boa mãe para Kevin e se poderia ter impedido que este se transformasse num monstro, porque desde início ela foi a única que pôs em causa a estabilidade emocional e mental do seu filho, mas o seu marido e os médicos nunca acreditaram nela. Esta crónica falta de apoio levou-a a distanciar-se de Kevin e a focar grande parte da sua atenção na irmã deste que, ao contrário do seu irmão, sempre idolatrou a sua mãe. O filme termina com a exibição de pequenos segmentos do dia em que Kevin cometeu o massacre familiar e escolar, mas uma das cenas que mais se destaca nesta conclusão e em todo o filme é aquela que encerra esta fantástica obra e que nos mostra uma espécie de reconciliação entre mãe e filho.


O trabalho de realização de Lynne Ramsay é soberbo. Esta cineasta escocesa brilhou nos maiores festivais internacionais de cinema com as suas duas primeiras longas-metragens – “Ratcatcher” (1999) e “Morvern Callar” (2002) – mas foi este seu terceiro filme que a catapultou para a fama e reconhecimento mundial, porque o seu cuidadoso trabalho de câmara e a forma como vai revelando os detalhes da trama sem confundir o espectador ou abusar dos saltos entre o presente e o passado contribuíram significativamente para o sucesso deste “We Need To Talk About Kevin”, que também deve muito do seu valor ao seu fantástico elenco, onde se destacam Tilda Swinton e Ezra Miller. A carreira de Swinton está recheada de bons e distintos trabalhos, daí não ser nada surpreendente vê-la assumir com tanta categoria e qualidade uma personagem tão complexa e subjetiva como Eva Katchadourian. O mesmo pode ser dito de Ezra Miller, que após ter assumido de forma brilhante o papel de um jovem psicopata em “Afterschool” e de se ter destacado em outros filmes indies de valor como “City Island”, volta a nos maravilhar como o misterioso Kevin. O pequeno Jasper Newell também está brilhante e desconcertante como Kevin em criança. John C. Reilly também surpreende pela positiva. O estilo sombrio, intelectual e indie de “We Need To Talk About Kevin” é digno de elogios, mas acabou por impedir que este magnifico drama tivesse um maior impacto na lista de nomeações aos grandes prémios cinematográficos do último ano, muito embora seja largamente superior a alguns dos grandes candidatos/ nomeados aos Óscares ou BAFTA’s. O facto de não ter sido nomeado ao Óscar de Melhor Filme é chocante mas não retira nenhum valor a “We Need to Talk About Kevin”, uma soberba experiência cinematográfica que engloba a maior parte dos grandes géneros da sétima arte – drama, terror e suspense.

 Classificação – 5 Estrelas em 5

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5 Comentários

  1. É tudo isso que disseste e, eventualmente, muito mais.
    Este filme é uma extraordinária experiência cinematográfica que durante duas horas nos mantém agarrados à cadeira, ansiando ver e saber mais.

    A sua presença no leque de melhores Filmes do ano de 2011 é inteiramente justa, compreendendo-se o seu afastamento da listas dos mais conceituados prémios cinematográficos(americanos) pelo constante menosprezo pelo cinema independente que as academias tradicionalmente revelam para com os filmes. Mas o que interessa é a opinião individual de cada um de nós e, no que toca a este filme em concreto, a avaliação não podia ser melhor.

    Parabéns pelo trabalho!
    Cumprimentos

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  2. Excelente, brilhante, fantástico filme... SUPER ACONSELHO....

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  3. Olá,
    ainda não vi o filme e vim à procura de críticas relativas. agradeço por isso, por existir uma crítica, e gostei desta que li. mas seria necessário denunciar o final do filme?

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  4. Kevin é um psicopata típico.
    Já nasceu assim, sua mãe nao tem culpa de nada.
    Ele foi ensinado a ter amor e respeito pelas pessoas, mas o fato é que todos os psicopatas tem desvio de carater, são dotados de muita inteligência, muita razão e nada de emoção.
    Para eles uma imagem de um estupro ou uma flor ou uma crinça chorando ou uma paisagem tem a mesma conotação.
    Ou seja, seus batimentos cardíacos continuam o mesmo, sua pressão sanguinea continua a mesma, ao contrário, das pessoas que fazem o uso da razão e da emoção, com diferentes cenas, demonstram repulsa, suam, seus batimentos cardíacos mudam, sua expressão facial muda, seus olhos ficam arregalados.
    Os psicopatas são incapazes de demonstrar algum tipo de sentimento, se demonstrarem são puro teatro, estão ensenando pois querem alguma coisa daquela pessoa, mas nunca se importam com aquela pessoa mesmo que ela algum dia venha a ajudá-lo.
    Resumindo, ele usa as pessoas e deixa um rastro de desgraça e tristeza por onde passam.
    Fujam deles.
    Essas observações são dadas pela Dra. Ana Beatriz Barbosa.
    Façam uma pesquisa no Google.

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