Pérolas Indie - Being Flynn (2012)

Realizado por Paul Weitz
Com Julianne Moore, Paul Dano, Robert De Niro
Género – Drama

Sinopse - A história de “Being Flynn” é nos contada sob o ponto de vista de Nick Flynn (Paul Dano) e Jonathan Flynn (Robert de Niro). O primeiro é um jovem escritor que procura definir-se. Ele tem saudades da sua falecida mãe, Jody (Julianne Moore), e da sua natureza ternurenta, mas mal se lembra do seu pai, porque já não o vê há mais de dezoito anos. O seu pai chama-se Jonathan Flynn e há muito tempo que se definiu a si próprio como um dos grandes escritores norte-americanos Após ter abandonado a sua mulher e o filho, Jonathan decidiu enfrentar a vida com os seus próprios meios, e acabou por cumprir uma pena de prisão por passar cheques falsos. Após sair da prisão, ele começou a conduzir um táxi durante alguns anos, mas com a bebida e as excentricidades a aumentar, Jonathan perde subitamente esta sua forma de subsistência e a sua própria casa, recorrendo por isso à compaixão do seu distante filho que não hesita em ajudá-lo. Nick prepara-se então para integrar o pai na sua vida, mas depressa se apercebe que o seu esforço é em vão, pois o pai desaparece outra vez sem deixar rasto. Prosseguindo a sua vida, Nick aceita um emprego num centro para os sem-abrigo, onde aprende a relacionar-se com os que menos afortunados que chegam, noite após noite. Ao lidar com os sem-abrigo - alguns de forma permanente, outros temporários - e ao ouvir as suas histórias, Nick encontra finalmente o seu propósito de vida e de trabalho. Para além disto, envolve-se romanticamente com uma bela colega de trabalho chamada Denise. Numa noite, Jonathan surge no centro, à procura de uma cama, e o sentido de compaixão de Nick vacila. Para dar a ambos uma oportunidade real de futuro, Nick terá de decidir para quem procurar primeiro redenção. 

Crítica – É bom ver Robert de Niro a brilhar ao mais alto nível num drama tão forte como este “Being Flynn”, uma realista e comovente adaptação cinematográfica de “Another Bullshit Night in Suck City”, um aclamado livro de memórias da autoria do poeta e dramaturgo Nick Flynn. A história desta obra foca-se sobretudo nos altos e baixos da difícil relação familiar entre Jonathan e Nick, duas personagens com personalidades bastante fortes e altamente destrutivas que finalmente chocam uma com a outra quando o negligente Jonathan é obrigado a pedir ajuda e apoio ao seu desnorteado filho. Este seu súbito recontro familiar abala de imediato a sanidade e a confiança de Nick, um jovem adulto cheio de potencial mas com um passado bastante traumático que envereda por um caminho autodestrutivo quando começa a lidar diariamente com o violento e volátil temperamento do seu pai, que não consegue aceitar ou assumir que é um simples sem-abrigo sem nenhuma brilhante carreira literária pela frente. Esta delicada e atribulada relação deixa portanto várias mazelas emocionais em Nick, mas ele acaba eventualmente por recuperar e por encontrar o seu próprio rumo, já o racista e teimoso Jonathan parece irremediavelmente perdido no meio da ilusão de grandeza que foi criando na sua cabeça ao longo dos anos e que o levou a deixar a sua família. As suas maiores fraquezas são expostas por esta relação mas também pelo progressivo declínio da sua vida que nunca foi tudo aquilo que ele esperava. Para além deste comovente duelo familiar, “Being Flynn” também aborda levemente o crescente problema da pobreza e da proliferação dos sem-abrigo, ao utilizar as duras experiências de Jonathan no sobrelotado abrigo social e nas frias ruas citadinas para demonstrar a crueldade e a violência da lei das ruas. Este retrato socioecónomico é interessante, mas teria sido ainda mais abrangente e complexo se tivessem sido exploradas, com um pouco mais de profundidade e qualidade, as histórias de vida de outros sem-abrigo. Esta clara falta de ambição não retirar nenhum valor ao cativante argumento desta produção independente, que também podia ter abordado com um maior detalhe o traumático passado familiar das personagens centrais, no entanto, estas pequenas falhas acabam por não abalar as suas fortes mensagens morais. O sucesso dramático desta obra também deriva das carismáticas e convincentes performances de Paul Dano e Robert De Niro, este último destaca-se sobretudo graças à forma imensamente expressiva como aborda algumas das cenas mais poderosas do filme. No final de contas, “Being Flynn” tem que se encarado como um filme pesado e pouco ritmado mas é, mesmo assim, um drama bastante bom que leva o espetador numa gratificante viagem melodramática pela frieza das ruas e pelos meandros de uma difícil relação familiar. 

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

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1 Comentários

  1. Toda história densa sempre é narrada de forma fragmentada e lacunar, não há outro meio de contá-las. O filme é genial e proporciona muitos momentos de reflexão. A participação do próprio Nick Flynn no filme (que aparece na reunião do grupo de ajuda a dependentes químicos, afirmando ter se drogado pela primeira vez aos 11 anos de idade) imprime ainda uma vez mais o caráter autobiográfico e biográfico do filme. Uma produção imperdível e mesmo na sua agudeza, cativante.

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