Crítica - Ice Age: Continental Drift (2012)

 
Realizado por Steve Martino e Mike Thurmeier
Com Ray Romano, Denis Leary, John Leguizamo, Peter Dinklage

Tal como acontece com as sagas de “Madagascar” e “Shrek”, a saga “Ice Age” parece ter vindo para ficar, dado que vai já na sua quarta aventura e os recordes de bilheteira continuam a ser rebentados com estrondo. A fórmula começa a desgastar-se um pouquinho, pois já nem o esquilo mais azarado da 7ª Arte (estamos, claro está, a falar de Scrat) consegue ter a mesma piada. Porém, o que é certo é que ninguém se parece cansar das aventuras de Manny, Diego, Sid e companhia limitada. Verdade seja dita, a saga “Ice Age” nunca esteve ao nível dos projetos mais sólidos e deslumbrantes da Pixar (ou mesmo da Dreamworks). Apesar de ser visualmente competente e de apresentar um conjunto de personagens bastante divertidas, esta saga deixou sempre no ar a sensação de que se estava perante um produto mais infantil e menos ambicioso. E o problema é que, a cada filme que passa, essa infantilidade torna-se mais notória, aproximando “Ice Age” dos filmes da Disney mais simplistas e conservadores. Não há nada de tremendamente errado neste “Ice Age: Continental Drift”, essencialmente porque as personagens continuam genuínas e engraçadas quanto baste para seguirmos as suas proezas com algum agrado. Contudo, os pontos centrais da narrativa são excessivamente previsíveis (e até mesmo moralistas), dispersando a atenção do público adulto. E a insistência em trazer mais e mais personagens secundárias para o enredo só danifica o equilíbrio da obra como um todo, pois nem todas elas recebem o aprofundamento que mereciam, transformando-se em meros peões que vão ajudando a narrativa a desenrolar-se sempre que esta chega a um impasse.


Nesta quarta aventura, o mamute Manny (Ray Romano) vê-se obrigado a enfrentar duas problemáticas: os terríveis anos da adolescência da sua filha Peaches (Keke Palmer) e a desagregação da crosta terrestre, um fenómeno que parece determinado em conferir à Terra um novo desenho geográfico. Num dia como tantos outros (leia-se um dia em que Manny dá um raspanete à filha por esta desobedecer às suas ordens e insistir em aventurar-se por locais proibidos), um tremor de terra abala a ilha onde todos viviam tranquilamente. Fendas enormes abrem-se no solo e, como consequência disso, Manny, Diego (Denis Leary) e Sid (John Leguizamo) são forçados a separar-se dos outros membros da comunidade, ficando isolados e por sua própria conta no topo de um bloco de gelo que zarpa em direção ao mar aberto. Assim se inicia uma longa demanda para tentar fazer com que o bloco de gelo regresse ao ponto de partida. Mas a tarefa não se revela nada fácil. Não apenas porque Granny (Wanda Sykes) – a avozinha de Sid – decide fazer a vida negra ao grupo de amigos, mas também porque estes se deparam com um bando de piratas liderado pelo macaco Gutt (Peter Dinklage) que promete dar-lhes água pela barba.

   

A seguir a “Ice Age: The Meltdown” (o segundo filme, estreado em 2006), este “Ice Age: Continental Drift” é o mais fraquinho da saga. “Ice Age: Dawn of the Dinosaurs” (de 2009) tinha voltado a conquistar alguns pontos porque abandonava as narrativas moralistas (e mais que vistas) das famílias felizes e colocava os heróis a viverem de novo uma grande aventura. Ora, este quarto filme torna a descair um pouco, porque volta a insistir no aborrecido e desgastado tema das famílias felizes que tudo são capazes de alcançar se se unirem em prol de um objetivo comum. A mensagem por detrás do fogo-de-artifício faz todo o sentido, como é óbvio. O problema é que se trata de uma mensagem explorada até à exaustão em fitas anteriores, destruindo o sentimento de novidade e realçando o déjà vu. Estamos perante uma obra que é divertida quanto baste para entreter espectadores de todas as idades, apresentando sequências de ação de bom nível, tiradas cómicas minimamente satisfatórias e um leque de personagens principais que se complementa de forma quase perfeita. Porém, a narrativa roça por momentos uma infantilidade excessiva, levando o espectador adulto a pensar se entrou na sala de “Ice Age: Continental Drift” ou na sala de “Sininho Salva as Fadas: Parte 4”. Das personagens novas trazidas pela dupla de realizadores Steve Martino/Mike Thurmeier, apenas três se aproveitam verdadeiramente: a Granny de Wanda Sykes, o Capitão Gutt de Peter Dinklage e o pirata Flynn de Nick Frost. Todas as outras eram escusadas, com especial destaque para Shira (a tigre dentes-de-sabre de Jennifer Lopez), que apenas realça a infantilidade da narrativa através da necessidade mórbida dos argumentistas em arranjar casalinhos para toda a gente. Se houver uma quinta parte da saga, só falta mesmo arranjar par para Sid, pois todos os outros estão já casadinhos da silva (aqui se compreende a razão pela qual referimos que a narrativa era conservadora…). Em poucas palavras, até o pobre Scrat já não conseguedesencadear o mesmo lote de gargalhadas, pelo que fica a ideia de que a saga “Ice Age” já deu o que tinha a dar (como a saga “Shrek”, aliás). 

 Classificação – 3 Estrelas em 5

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2 Comentários

  1. "a narrativa roça por momentos uma infantilidade excessiva, levando o espectador adulto a pensar se entrou na sala de (...) “Sininho Salva as Fadas: Parte 4”

    Infelizmente acertastes na mouche com esta frase... desde o 2º filme que cada vez mais a série Ice Age tem menos pontos positivos por onde pegar e nem as cada vez melhores animações me dão a minima vontade de voltar a ver o Sid e Companhia!

    Boa critica ;)

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  2. Obrigado, Peter.

    É verdade, a saga "Ice Age" tem-se infantilizado ao longo dos anos e é uma pena que assim seja, até porque o trio de personagens principais é bastante carismático. Apesar de tudo, esta quarta parte não é má, mas também deixa muito a desejar.

    Abraço

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