Crítica - Trouble With The Curve (2012)

Realizado por Robert Lorenz
Com Clint Eastwood, Amy Adams, Justin Timberlake

É impressão minha ou agora todos os anos, antes da época de prémios, é lançado um filme dramático que envolve o mundo do basebol e que acaba por criar grandes expetativas junto do público e da crítica especializada. Em 2011, "Moneyball", de Bennett Miller, confirmou essas grandes expetativas e conseguiu obter por isso um lugar entre os melhores filmes do ano, mas “Trouble With The Curve”, o candidato deste ano, não terá certamente o mesmo destino. As razões que sustentam o seu estatuto de desilusão e a sua mediana classificação encontram-se disseminados um pouco por todo o filme e saltam à vista de todos, já que é praticamente impossível ignorar a falta de criatividade ou o excesso de falsa emoção da sua narrativa, que infelizmente tem mais pontos negativos do que positivos. A sua mediana história centra-se então em Gus Lobel (Clint Eastwood), um homem sério que durante anos foi um dos melhores olheiros de basebol mas, apesar dos esforços para tentar escondê-lo, a idade começa a pesar-lhe. Gus recusa afastar-se do que poderá ser o início do final da sua carreira, mas pode não ter muito voto na matéria porque Pete Klein (John Goodman), um dos principais responsáveis da equipa que o emprega, começa a questionar o seu discernimento. A única pessoa que poderá ajudá-lo a manter o emprego é Mickey (Amy Adams), a única pessoa a quem ele nunca pediria ajuda. Mickey é uma inquisitória advogada cuja ambição a levou a chegar à administração da sociedade onde trabalha. Mickey é também a sua única filha, mas ela nunca teve uma relação muito próxima como o seu pai, que simplesmente não estava preparado para ser um pai solteiro. A sua atual relação é bastante distante e nos raros momentos em que estão juntos, ele distrai-se facilmente com o basebol que, aos olhos da sua filha, é o seu primeiro e grande amor. Contra a vontade de Gus, Mickey junta-se ao seu pai na sua última viagem à Carolina do Norte, colocando em risco a sua própria carreira para salvar a dele. Os dois são por isso forçados a passarem algum tempo juntos pela primeira vez em anos, algo que os motiva a revelarem verdades guardadas sobre o seu passado e presente que poderão mudar o seu futuro.


O fato de ser um filme que se desenrola nos bastidores do mundo do basebol, um desporto que não está nada enraizado no nosso país, ajuda como é óbvio a alimentar o nosso desinteresse, mas não é por causa disto que “Trouble With The Curve” falha, até porque os norte-americanos também não teceram grandes elogios a esta previsível obra, cujo maior defeito reside na sua narrativa pretensamente sentimental mas efetivamente exígua. A sua essência pedia efetivamente um argumento emotivo e melodramático, mas não pedia um enredo recheado de atalhos emocionais e análises limitadas, que visam apenas arrancar ao espetador uma série de emoções superficiais que derivam sobretudo dos infelizes exageros da conturbada e disfuncional relação familiar entre o interveniente central e a sua filha, relação essa que parece saída de uma telenovela mexicana e não de um filme deste calibre. Esta ideia fica patente na forma oca e forçada como os seus dilemas internos e familiares são tratados ou até no conteúdo das suas conversas, onde reinam os clichés, a melosidades e a foleirice. O filme também passava muito bem sem a relação de intimidade que se desenvolve entre Mickey e o olheiro Johnny Flanagan (Justin Timberlake), mas numa obra com tanta falta de criatividade seria quase impossível não darmos de caras com uma desnecessária e cansativa relação amorosa, que acaba por ser alvo de mais atenção do que devia. No fundo, “Trouble With The Curve” merecia uma trama merecedora de tudo aquilo que se esperava dele, mas também do estatuto do seu elenco que, por acaso, também desilude, tal como a direção do estreante Robert Lorenz. Eu acho que todos nós consideramos Clint Eastwood um ator interessante e resiliente, mas a sua performance neste melodrama fica muito aquém do que seria de esperar. Eu não quero com isto dizer que Eastwood tem um mau trabalho, mas verdade seja dita que já lhe vimos desempenhos muito mais empolgantes a todos os níveis. A talentosa Amy Adams também desilude, bem como Justin Timberlake que, apesar das suas evidentes limitações no género dramático, poderia ter feito melhor. É basicamente esta a ideia que paira no final do filme, ou seja, ficamos com a forte sensação que todos os envolvidos poderiam ter feito melhor, mas não fizeram e o resultado está à vista de todos. 

 Classificação – 2 Estrelas em 5

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1 Comentários

  1. Não concordo nada com esta crítica do Sr. João Pinto. O filme até superou as minhas expetativas, pois quando vi que o realizador do filme não era Eastwood, fiquei com algumas reticências, dado que o realizador/ator não "representava" para outro diretor que não fosse ele próprio desde o filme "in the line of fire" de 1993, quase 20 anos antes. A realização é de um colaborador de longa data de Eastwood e de facto quase parece que estamos a ver um filme realizado pelo próprio Clint Eastwood, dadas as semelhanças de estilo. Acho que este facto não desvaloriza o filme em nada. É justo dizer que o desenvolvimento do filme é diversas vezes previsível, mas mesmo isso não retira o seu encanto, numa história bem contada, interessante, muito bem interpretada (neste aspeto não concordo mesmo nada com a crítica) pelo trio principal de atores, Clint Eastwood, Amy Adams e Justin Timberlake, aos quais ainda se juntam um excelente John Goodman. É verdade que Timberlake é um ator um pouco limitado, mas achei que neste filme ele tem uma ótima performance, bem acima do nível habitual. Quanto ao resto, é ver, como noutros filmes, tais como "Gran Torino", Clint Eastwood a representar com mestria a sua própria velhice, fazendo-o mais uma vez com grande sensibilidade e brilhantismo. Obviamente que o filme não tem a força de "million dollar baby" ou "gran torino", nem sequer tem pretensões a isso, mas trata-se de um filme de muito bom nível, sensível, que conta uma boa história, que se vê com imenso prazer. (7.5/10).

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