Crítica - The Conjuring (2013)

Realizado por James Wan
Com Vera Farmiga, Patrick Wilson, Lili Taylor

Que o género cinematográfico do terror anda a viver os anos mais obscuros da sua História não é novidade para ninguém. Vivemos num tempo em que o terror é muitas vezes confundido com ação desmiolada com monstros à mistura, o que trai a própria essência do género em questão. Filmes como “The Unborn”, “Silent Hill – Revelation” e “Resident Evil” (só para referir alguns dos mais recentes) são um autêntico insulto à integridade de um género com enorme tradição cinematográfica e uma base de fãs incalculável, precisamente porque não entendem o potencial que lhe é inerente e porque teimam em dar tiros nos próprios pés com opções técnicas e artísticas absolutamente duvidosas (como ignorar os jogos de sombras e de silêncio, e enveredar por miúdas sexy a desancar em criaturas pálidas ao som de música eletrónica). Felizmente que, de quando em quando, uma ou outra obra digna de respeito lá surge da mente criativa de algum iluminado que não foi às aulas dos professores Uwe Boll e Paul W.S. Anderson. É o caso deste “The Conjuring” e do talentoso realizador James Wan. Apesar de ainda não ter criado nenhum filme de culto somente merecedor dos mais rasgados elogios, Wan conta já com um lote de filmes que lhe garantem um lugar muito especial no moderno cinema de terror. Obras como “Saw”, “Insidious” e este “The Conjuring” transformam-no desde já num realizador com provas dadas no género, pelo que lamentamos a sua decisão de deixar os sustos e calafrios para trás das costas. Wan pode querer abraçar outros desafios, mas pelo menos teve a decência de nos oferecer “The Conjuring” antes da partida anunciada, filme que se afirma por enquanto como a melhor fita de terror de 2013 e uma das melhores dos últimos anos.

A narrativa é relativamente simples e insere-se até em terreno bastante explorado dentro do género. Baseado em factos alegadamente verídicos, “The Conjuring” narra as desventuras de Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga), um casal que dedicou a sua vida ao paranormal e à investigação científica de diversas ocorrências sobrenaturais. Após ganharem uma reputação invejável no seio da comunidade, são contactados por uma família desesperada que não sabe mais o que fazer para sobreviver ao violento e arrepiante poltergeist que lhes inferniza a vida. Ed e Lorraine decidem investigar o caso e cedo descobrem que estão a lidar com um espírito que não está para brincadeiras. A premissa faz lembrar quase de imediato dezenas de outros filmes do género, mas “The Conjuring” consegue ser refrescante e provocador quanto baste para deixar a sua própria marca. O final excessivamente cor de rosa estraga um pouco o que está para trás e retira alguns pontos a uma película que vale sobretudo pela ambição e pelas sequências de horror muito bem encenadas, mas felizmente esse final algo convencional não desmorona por completo duas horas de puro terror, de eletrizante tensão e de calafrios sem fim. A atmosfera que paira sobre toda a película é de enregelar os ossos e os efeitos sonoros bizarros introduzidos pela equipa de som conferem uma tensão particularmente aterradora a algumas sequências de cortar a respiração. Nota-se que Wan pensa bem as cenas antes de as filmar e nota-se igualmente que o jovem realizador de origens asiáticas sabe o que é bom terror à moda antiga. São vários os momentos em que o espectador salta da cadeira porque Wan não comete o erro de inserir música nos momentos de maior tensão (jogando desta forma com os silêncios desesperantes) e também porque os ângulos de câmara que escolhe proporcionam momentos de imprevisibilidade muito bem-vindos. É necessário dizer que “The Conjuring” dificilmente alcançará o estatuto de filme de culto porque, convenhamos, também não é tão extraordinário quanto isso, sobretudo no último terço (onde podia levar as coisas um pouco mais além e criar sequências de horror verdadeiramente marcantes). No entanto, é bem capaz de ser o melhor filme de assombrações das últimas décadas, o que por si só já vale o preço do bilhete. Se gosta de filmes de terror, “The Conjuring” é o filme certo para si, e que bem sabe dizer isto ao fim de tantos e tantos falhanços épicos. Assegure-se apenas de que não leva um balde de pipocas a abarrotar para a sala de cinema. Porque metade das pipocas pode acabar espalhada pelo chão da sala. E dizer que a culpa do acidente foi da criatura que apareceu de rompante na tela não lhe trará o dinheiro de volta quando for protestar às bilheteiras.
Classificação – 4 Estrelas em 5

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1 Comentários

  1. Agreed. O final cor de rosa, como o autor desta peça indica, também foi um dos pontos menos bons para mim. Mas o filme perde muito pouco ou nada com isso. Os silêncios ensurdecedores são desesperantes, de facto =)

    Bom filme!

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