Crítica – Nymphomaniac – Volume 1 (2014)

Realizado por Lars von Trier 
Com Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgård, Uma Thurman

Estreou hoje a última fase da Trilogia da Depressão iniciada por von Trier em 2009 com "Antichrist" e continuada em 2011 com "Melancholia". Esta parte, contudo, e contrariamente aos desejos do realizador, vem dividida em duas metades. Poderemos assistir à segunda no dia 30 de Janeiro. Para além desta versão de quatro horas, existe uma outra, mais dura, de cinco horas e meia, também ela apresentada em duas partes. É-me difícil, por isso, reflectir sobre um filme quando apenas assisti a metade do mesmo e considero, verdadeiramente, de lamentar esta opção comercial pela sua divisão  e com a qual, diga-se de passagem, o próprio realizador não concorda.
Joe (Stacy Martin e Charlotte Gainsbourg) é encontrada espancada num beco por um homem que a acolhe na sua casa e ouve a sua história enquanto ela se recompõe dos ferimentos. Assistimos, portanto, a uma narrativa completamente subjectiva onde a narradora recorda os factos com a carga emocional com que os viveu. Só assim sem compreende o progressivo escurecer dos seus olhos à medida que cresce e vai perdendo a inocência. Nesta primeira parte, assistimos ao seu crescimento, desde a mais tenra infância até à idade adulta e acompanhamos o seu gradual envolvimento em práticas sexuais menos ortodoxas. Não sei se, como um dos cartazes promocionais do filme afirma, esta é uma história de desamor ou o relato de uma psicose cuja detentora tenta resolver da forma que consegue. É muito curioso que as recriminações e condenações morais venham da própria e sejam sistematicamente atenuadas pelo seu interlocutor numa inversão de papéis que não deixa de nos surpreender.


É também muito sugestiva a longa aproximação da arte da pesca ao esforço necessário para se conquistar tantos amantes. Trier filma com uma beleza poética estonteante e um assombroso rigor técnico pormenores secundários mas de uma estética tão perfeita que valem só por si.
O tema da adição sexual foi recentemente abordado em "Shame" (2011) com a diferença de que aqui a adicta ser um mulher e existir um jogo de poder em que ela se mantém, pelo menos nesta primeira parte, sempre no controlo da situação. Mas "Shame", ainda que se trate de uma obra muito interessante, fica a grande distância da perfeição estética de "Nymphomaniac".
De realçar são os pausado, erótico, ingénuo e paranóico desempenho de Stacy Martin, que detém o papel principal nesta primeira parte, e a histérica e completamente desvairada interpretação de Uma Thurman. É importante também notar que o elenco de luxo engloba, além dos já referidos nomes, os de Shia LaBeauf e outros notáveis distribuídos entre as duas partes.
Chocantes mas usados, a meu ver, até limites desnecessários são as imagens de sexo explícito, caindo mesmo na fácil conquista do público. Concluindo, von Trier mantém  seu estilo inusitado mas absolutamente fascinante e totalmente politicamente incorrecto com que me conquistara já nas suas anteriores obras. Aguardemos, por isso, com muita curiosidade o desenlace da história desta ninfomaníaca.

Classificação - 4,5 Estrelas em 5

Enviar um comentário

1 Comentários

  1. Boa noite. Pode-me confirmar se viu a versão censurada ou não censurada? é que se viu a versão censurada, não vimos o mesmo filme. Se viu a versao não censurada, aí terei d rever o filme..

    ResponderEliminar

//]]>