Crítica – Jeune & Jolie (2013)

Realizado por François Ozon 
Com Marine Vacth, Géraldine Pailhas, Frédéric Pierrot 

Temos assistido nos últimos anos ao  interesse crescente do cinema europeu pela adolescência  e, em particular, pela formação da identidade emocional e sexual nessa fase da vida. Lembro-me, neste contexto, de  filmes muito recentes como "Io e te" (Bernardo Bertolucci, 2012), "La vie d'Adèle - Chapitres 1 et 2" (Abdellatif Kechiche, 2013), ou mesmo "Dans la maison"  (2012) do próprio Ozon.
"Jeune & Jolie" gira em torno, como o próprio título faz perceber, da beleza arrebatadora ainda que ingénua de Isabelle/Léa (Marine Vacth, que aqui consegue conferir à personagem uma frieza dorida  assustadora). São aqui analisadas sem ser resolvidas uma série de questões como as relações conflituosas com a mãe e acima de tudo com o pai ausente, a cumplicidade não controlada com o irmão mais novo,  a iniciação sexual e, em última análise, a  grande dificuldade de crescer na civilização ocidental num mundo que é desconhecido dos pais e onde os jovens se podem desviar de um processo saudável de desenvolvimento com facilidade. Mas o filme vai mais longe, e aí  reside, a meu ver, o seu grande trunfo, ao levar o espectador a reflectir sobre a autenticidade dos seus princípios morais e, em particular, da sua moral sexual.


A câmara de Pascal Marti está literalmente apaixonada por Marine Vacth que consegue, quase sem mover um músculo, despertar em todos os que a observam um desejo de posse que raia a perversão. Nada no filme é, de resto, afirmado de forma peremptória, mesmo as mais claras cenas sexuais são sempre de grande ambiguidade quanto às reais motivações dos seus intervenientes. Essa ambiguidade que perpassa a obra é desenvolvida também em personagens secundárias como a do padrasto sem grande capacidade de acção (Frédéric Pierrot) ou a da mal (ou bem) amada viúva Alice (Charlotte Rampling) e tem o seu apogeu no final em aberto, que nos faz pensar muito seriamente sobre o modo como preparamos os nossos filhos, ou pior ainda, o modo como condenamos ou aprovamos comportamentos normalmente tidos como «desviantes».
Esta profunda análise do indivíduo dentro da sociedade, e do modo como está condicionado por esta na sua apreciação, desenvolve-se num ambiente  burguês e aparentemente seguro, contudo todos os perigos e desvios estão lá, como o estão nas nossas vidas, mesmo que nos seja, muitas vezes, mais confortável ignorá-los. O filme foi nomeado para a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2013 e ganhou o primeiro prémio do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián desse mesmo ano.

Classificação - 4 Estrelas em 5

Enviar um comentário

0 Comentários

//]]>