Crítica - Exodus: Gods and Kings (2014)

Realizado por Ridley Scott
Com Christian Bale, Joel Edgerton, Aaron Paul 

Não há dúvidas que “Exodus: Gods and Kings” é um espetáculo visual de proporções épicas, mas quanto a tudo o resto, nada neste blockbuster bíblico é épico ou impressionante. É pena que assim seja e pode até parecer cruel dizer que esta mega produção tem uma profundidade sentimental de um inseto, mas o que é certo é que dentro de todos os projetos bíblicos que já vi, sejam eles filmes ou telefilmes, “Exodus: Gods and Kings” entra diretamente para o topo dos que menos apreciei porque, lá está, pode até ter uma imponência técnica que não está sequer ao alcance da vasta maioria, mas o que é certo é que esta excelência visual não compensa a enorme e notada ausência de profundidade emocional e humana de um enredo que, acima de tudo, precisava de ser emotivo e carismático para vingar junto de um público que já conhece, de trás para a frente, a épica história de Moisés, o líder dos Hebreus, que enfrentou o faraó Ramses, para libertar 600.000 escravos e liderá-los numa viagem monumental de liberdade e crença até à Terra Prometida.
A história que serve de base a “Exodus: Gods and Kings” é já de si épica por natureza, sendo uma das mais populares e impressionantes do Velho Testamento da Bíblia, mas essa onda de imponência e importância nunca transparece ao longo deste retrato cinematográfico, pelo menos de um ponto de vista humano e emocional, porque de um ponto de vista meramente técnico, ninguém pode negar que Ridley Scott conseguiu dar à história em causa o apelo visual que era necessário. O problema é que isto não é suficiente. Ao longo de aproximadamente duas horas e meia, “Exodus: Gods and Kings” reproduz, quase de uma forma mecânica e impessoal, a épica lenda presente no Livro do Exodus sem apelar ao seu tão característico sentimento humano, tornando-se até num retrato insipido e sem qualquer chama de uma história que deveria motivar todo o tipo de emoções junto dos espetadores, sejam eles crentes ou céticos. Um perfeito exemplo deste completo desapego humano e imperfeição emocional por parte de “Exodus: Gods and Kings” é o pequeno ritual pré-sexual entre Moisés e a sua Mulher que, para além de risível, é simplesmente absurdo atendendo à génese e aos objetivos do filme e da história.  É por tudo isto que “Exodus: Gods and Kings” é, apesar de todo o seu impacto visual, uma mega produção extremamente sonolenta que, graças à sua surpreendente falta de sentimento e poder humano, aproxima-se mais de um péssimo documentário do que de uma mega produção de Hollywood sobre uma imponente história religiosa. 


No fundo, “Exodus: Gods and Kings” não fica muito atrás de “Noah”, outro fracasso na hora de contar uma história bíblica com sentimento. Os dois são blockbusters com uma componente técnica excelente, mas pecam na forma desinspirada, seca e maquinal com que exploram todos os recantos importantes das suas respetivas histórias bíblicas. A gigante falha de “Exodus: Gods and Kings” consegue ainda ser mais predominante, porque para além de não puxar pela emoção ou crença do espetador em nenhum ponto, consegue ainda tornar aborrecida e desinteressante uma história épica tão repleta de ação e drama. O que é certo é que esta mega produção de Ridley Scott não faz qualquer tipo de justiça ou presta uma homenagem justa à história que retrata, muito pelo contrário, consegue torná-la em algo banal e sem qualquer vigor ou poder para impressionar quem quer que seja, para além claro de ser uma adaptação que, incompreensivelmente, passa sempre a ideia de estar incompleta e de ser muito desprendida em relação à obra original, já que tudo é retratado com uma grande correria e, lá está, sem qualquer apego humano ou emocional que consiga vincar as características mais predominantes da história de Moisés contra Ramsés, sim porque “Exodus: Gods and Kings” foca-se quase em exclusivo na luta de crenças e forças entre estas duas figuras, deixando tudo o resto para a imaginação do espectador, que terá que recorrer à sua cultura geral para completar os inúmeros espaços em brancos que, por questões de tempo, Ridley Scott optou por passar à frente ou, então, explorar de uma forma resumidíssima. O próprio cineasta já confirmou que existe uma versão mais extensa de “Exodus: Gods and Kings” com aproximadamente quatro horas que, porventura, poderá satisfazer muitas dessas lacunas, mas o que importa realçar é que duvido que os noventa minutos adicionais tenham qualquer tipo de relevância prática para a dimensão humana e emocional deste projeto. 


O único apontamento que merece rasgados elogios em “Exodus: Gods and Kings” é a sua componente técnica. Os efeitos especiais utilizados por Scott, quer em imponentes cenários de impressionante detalhe, quer em batalhas épicas ou na exposição das pragas, enquadram-se numa categoria de elevada qualidade e profundidade que reforça o poder comercial deste projeto que, recorde-se, custou perto de cento e quarenta milhões de dólares. Há aqui muito pouco a apontar de negativo, sendo de realçar como ex-libris da qualidade e do pormenor técnico de “Exodus: Gods and Kings”, a sequência onde Moisés e Ramsés confrontam-se em pleno Mar Vermelho, ou então a primeira sequência de batalha onde Moisés salva a vida a Ramsés. Estas duas personagens, já agora, são interpretadas, respetivamente, por Christian Bale e Joel Edgerton. Tal como o próprio filme, quer Bale, quer Edgerton, apresentam uma performance emocionalmente distante e sem força humana que, obviamente, ajudou também a descaracterizar esta mega produção bíblica, cujo restante elenco também pouco se faz notar pela positiva. Não nego que “Exodus: Gods and Kings” tem potencial para tornar-se num daqueles clássicos natalícios que, ano sim, ano não, irá passar num canal televisivo qualquer, mas esta pretensão é demasiado baixa para um filme que prometia tanto, mas que no final de contas, pouco mais é que uma das grandes desilusões de 2014 e que, a partir de hoje, apenas pode aspirar a tornar-se num clássico televisivo de uma época sazonal, como o Natal ou até mesmo a Páscoa. 

Classificação - 2 Estrelas em 5

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1 Comentários

  1. Fui ontem ver o filme no cinema e fiquei desiludido, tal como havia acontecido com o ridículo filme de Noé, do ano passado.

    Este por sua vez, sendo uma produção Ridley Scott, esperava-se muito, mas à semelhança de Prometheus foi uma perfeita contemplação de interpretação desconexa.

    Vejamos o relato bíblico:

    Iahweh disse a Moisés: "Por que clamas por mim? Dize aos filhos de Israel que marchem. E tu, levanta a tua vara, estende a mão sobre o mar e divide-o, para que os filhos de Israel caminhem em seco pelo meio do mar. (Êxodo 14:16-16)

    Então Moisés estendeu a mão sobre o mar. E Iahweh, por um forte vento oriental que soprou toda aquela noite, fez o mar se retirar. Este se tornou terra seca, e as águas, foram divididas. Os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas formaram como um muro à sua direita e à sua esquerda. (Êxodo 14:21-22)

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