Crítica - Relatos Salvajes (2014)

Realizado por Damián Szifró 
Com Ricardo Darín, Liliana Ackerman,Leonardo Sbaraglia 

Depois da projecção internacional conseguida com títulos como “Nueve Reinas” (2000) ou “El Secreto de sus Ojos” (2009), o Cinema Argentino recuperou boa parte do reconhecimento que merece no panorama internacional. 
O candidato argentino ao Oscar para Melhor Filme em Língua Estrangeira 2015 surge, assim, como a confirmação das tendências de qualidade que já se anteviam. Damián Szifrón realizou os seus “Relatos Selvagens” em sketches autónomos (há quanto tempo eu não via um bom filme em sketches!), não se preocupando muito em tornar evidentes os pontos comuns a todas as histórias, antes apostando nos ambientes e nas motivações dos personagens para fazer evoluir a narrativa. A produção e alguns dos dinheiros envolvidos são Espanhóis, e do clã Almodóvar. 
O tema comum a todos os segmentos é a vingança, o “fazer alguém (ou todo o sistema) pagar” pelos nossos males, a denúncia de uma sociedade que ou é corrupta ou simplesmente não funciona, e aquele sentido de humor tão particular que é tão latino quanto negro. Há imensas referências ao Cinema Clássico e a filmes bem conhecidos, mas isso são pequenas e singelas homenagens que só enriquecem a proposta de Szifrón.


Um homem de quem se fala, que todos conhecem mas nunca aparece, planeia e executa uma terrível vingança (lembram-se da “Rebecca”, de Hitchcock, onde a personagem principal está morta desde que a história começa, não deixando por isso de ser a protagonista?). É esse o fabuloso “Pasternak”, o primeiro relato bastante selvagem. Por entre outros menos conseguidos (é impossível um filme manter o mesmo nível de qualidade em todos os episódios), realça-se “O Bombista”, uma espécie de homenagem velada ao “Falling Down/ Um Dia de Raiva” com Michael Douglas: Um homem a quem tudo corre mal e que um dia descompensa e entra numa espiral de violência sem retorno contra a sociedade que ele considera culpada? Pois este sketch é exactamente o mesmo, versão Buenos Aires 2014! E superiormente interpretado pelo premiado Ricardo Darín! Dois homens sozinhos na estrada entram num duelo ao bom estilo western, no episódio “O Mais Forte”, que remete para o “Duel/ Um Assassino pelas Costas”, de Steven Spielberg. E nota ainda para o último segmento, “Até que a Morte nos Separe”, a história de uma festa de casamento onde os recém-casados se desnudam (de corpo e alma) à frente das famílias e convidados, num registo mesmo muito especial e latino.
Tudo isto é servido por um fantástico trabalho de câmara (a busca por enquadramentos raros, a qualidade com que são feitos os travellings e a singeleza na escolha das mudanças de foco), por uma escolha musical que consegue a alternância ideal entre as canções participantes na narrativa e as músicas que apenas pontuam o ambiente, e por um excelente trabalho de direcção de actores, em estilo algo clássico como que a pedir contenção a actores que interpretam personagem imbuídos de loucura. Cinema inovador, numa época onde essa característica só se encontra no Cinema Asiático (Coreia, Japão), em algum Cinema Europeu e, agora confirmo, também no Cinema Latino-Americano. Vale a pena a deslocação. A sério!

Classificação - 4 Estrelas em 5
Autor: António Pascoalinho

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1 Comentários

  1. Eu não vi o filme, mas estou impressionado com Leonardo Sbaraglia, um bom ator que eu já vi na série da HBO O Hipnotizador.

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