Crítica - Secret In Their Eyes (2015)

Realizado por Billy Ray
Com Nicole Kidman, Julia Roberts, Chiwetel Ejiofor

Remake do consagrado thriller argentino "El Secreto de Sus Ojos" (2009), vencedor do Óscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009, "Secret In Their Eyes" até replica decentemente a fórmula do seu brilhante antecessor, mas sem aquele toque criativo e artístico que a sublime obra sul-americana conferiu à sua curiosa trama criminal e romântica. Esta versão americana é bem mais populista, ou seja, apela mais à sua vertente policial do que propriamente aos múltiplos dramas que são desencadeados pelo crime que serve de mote para todos os eventos que se vão desenrolando no ecrã. Embora seja um remake decente que entretém o espectador, especialmente para todos aqueles que nunca tenham visto a versão original, tem que se dizer que esta obra de Hollywood não se aproxima sequer do elevado nível da produção sul-americana que, quer como thriller, quer como drama, supera em todas as dimensões e vertentes este remake.
Há certas diferenças estruturais entra as tramas das versões de Hollywood e da Argentina, mas a sua base é relativamente similar. Em ambos os casos acompanhamos o longo e complexo decurso de uma investigação criminal em torno de um brutal crime de homicídio e violação. Tal caso mexe pessoalmente com o protagonista e atormenta-o diariamente anos a fio até que, finalmente, consegue dá-lo por terminado. A versão argentina apela muito mais ao lado dramático, pessoal e humano do espectador ao desenvolver esta premissa, isto para além de focar também vários aspectos históricos próprios bem curiosos que completam o filme. Esta versão americana também promove certas introduções históricas sobre a realidade americana, isto porque introduz o inicio da trama no pós ataques de 11 de Setembro. Esta época, como bem se sabe, promoveu uma ideia política que defendia que se devia promover um ataque cego contra o terrorismo, mesmo que tal implicasse injustiças e sacrifícios moralmente incomportáveis. Uma amostra do impacto dessas injustiças políticas é habilmente transmitido ao espectador pela forma curiosa como enquadra o decurso da investigação criminal em questão. O problema é que tal amostra, embora curiosa, peca por escassa e acaba por não ser explorada com a dimensão expressiva que se esperava, especialmente quando esta versão se debruça tanto sobre o aspecto criminal da história.


Este é apenas um exemplo básico que ajuda a demonstrar que esta obra nunca entra por caminhos demasiados complexos, nem sequer por exposições demasiado trabalhadas sobre qualquer um dos seus temas. Neste sentido, "Secret In Their Eyes" brinda-nos com uma trama criminal, dramática e até romântica mais básica que a do filme sul-americano, mas ainda assim eficaz. Esta versão entretém, mas se viu "El Secreto de Sus Ojos" vai certamente sentir uma drástica diferença. Se não o viu, então deve vê-lo antes de ver esta versão americana que, embora não seja de todo um mau remake, perde claramente em comparação com a qualidade da produção argentina que é muito mais delicada, intensa e interessante que esta obra. E tais diferenças notabilizam-se mais junto das suas componentes dramáticas e românticas, mas nota-se claramente uma diferença de qualidade entre ambos. Neste ponto basta referir que a versão norte-americana não explica ou justifica adequadamente o seu título para compreendermos na perfeição as diferenças criativas e de intenções que existem entre ambas as produções. 
Embora seja classificado como um thriller criminal, "El Secreto de Sus Ojos" tem na sua base uma forte tendência romântica que envolve o protagonista e o seu amor perdido que, curiosamente, representa também a face da justiça no mundo em que ambos vivem. Este desenlace romântico segue um percurso mais perto dos clichés e não tão proeminentemente vincado na versão de Hollywood. Tal romance mais temperado raramente sobressai junto do espectador e pouco acrescenta à dose de entretenimento promovida por esta obra. O seu real enfoque prende-se com a vertente criminal da história, mas para quem viu a produção argentina claro que este remake não terá o impacto suposto, até porque não há espaço para novas surpresas ou expectativas. Já quem nunca viu a consagrada versão original poderá ser facilmente seduzido pelo decurso moralmente incómodo da investigação criminal em questão. Não há dúvidas que o desenvolvimento deste aspecto criminal é curioso e interessante, mas não é dotado por aquela dose de dramatismo e moralidade que se esperava ou seria desejável. Tais sentimentos só aparecem de forma vincada na parte final do filme, mas já chegam um pouco tarde tendo em conta o desenvolvimento que levou a tal conclusão dramática.


É claro que há espaço para esta obra promover um certo nível de entretenimento e incerteza, mas se espera encontrar uma obra superior ao filme sul-americano ou então que apresente pelo menos uma história radicalmente diferente, então prepare-se para uma certa desilusão. Não quero com isto dizer que "Secret in Their Eyes" não seja interessante, mas sofre imenso pela negativa com as comparações com a versão original que é indiscutivelmente superior em todos os aspectos. E tal superioridade estende-se também aos elencos. Protagonizado por ilustres nomes de Hollywood, como Nicole Kidman, Julia Roberts e Chiwetel Ejiofor, "Secret In Their Eyes" não capitaliza esse luxo estrelar em interpretações luxuosas. A prestação de Kidman é demasiado plástica para os objetivos que se pretendiam de tal interpretação, tal como a performance de Roberts, que tinha potencial para ser muito mais arrasadora e emotiva. Já Ejiofor aparece a um bom nível, mas falta-lhe aquele toque de sofrimento que Ricardo Darín conferiu à correspondente personagem no filme original. Tal como se pode facilmente compreender a versão de Hollywood sai claramente a perder em tudo neste jogo de comparações entra as duas obras. Mas se a analisarmos como um projeto separado e, acima de tudo, sem nunca temos tido a experiência bem positiva de visualizar a versão original, então reconhecemos sem dúvida méritos bem positivos. O problema é que tais méritos tinha espaço de manobra para serem bem melhores, daí que apenas considere esta obra de Billy Ray como um thriller razoável que, como bem sabemos, tinha potencial para ser muito mais arrasador. 

Classificação - 3 Estrelas em 5

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