Os Primeiros Cinco Dias do FantasPorto 2016


A 36ª Edição do FantasPorto começou oficialmente no passado dia 26 de Fevereiro no Porto, isto após já terem passado pelo Teatro Rivoli oito longas metragens inserida no já habitual Pré-Fantas. A Cerimónia de Abertura esteve a cargo do drama sci-fi português "Gelo", de Luís e Gonçalo Galvão Teles, que, em jeito de curiosidade, foi apenas a segunda longa metragem nacional a abrir este festival portuense. Beatriz Pacheco Pereira, uma das responsáveis máximas pelo certame, fez questão de referir este ponto no discurso inaugural, onde também fez referência à ausência de Mário Dorminsky, que foi forçado a falhar o Fantas 2016 por se encontrar a recuperar de um AVC. Entre palavras de apreço e promoção à programação e aos apoiantes do FantasPorto, Beatriz Pacheco Pereira reforçou também que o festival está bem e recomenda-se, isto apesar dos vários problemas que o festival tem enfrentado nos últimos anos e que são de conhecimento público. O que é certo é que, polémicas e problemas à parte, o FantasPorto permanece de pé e mantém-se como um dos principais festivais de cinema portugueses, sendo a par do MOTELx, o único que exibe longas metragens dedicadas ao terror e ao cinema fantástico. 
Ao olhar para a programação da 36ª Edição observamos, como todos já fizemos nas últimas duas ou três edições, que já não fazem parte da seleção grandes produções comerciais ou grandes convidados de Hollywood. Isto acontece, recorde-se, porque há uns anos o FantasPorto teve que se reinventar, em parte por força das circunstâncias financeiras, e começou a apostar numa programação mais direcionada aos filmes indie que muito dificilmente chegarão às salas e cinema nacionais ou, até mesmo, aos maiores mercados internacionais. Há vantagens e desvantagens nesta aposta claramente mais económica, como é óbvio, mas o que é certo é que mesmo ao reduzir custos, o FantasPorto conseguiu desde então a proeza de continuar a apresentar uma programação rica e bem intencionada que continua a cumprir os gostos e expectativas do público que se habituou ao estilo e carisma do FantasPorto. O festival continua, assim, a trazer ao Porto e a Portugal muitas produções de diversos géneros e de várias partes do mundo de realizadores prometedores. E espera-se que continue a fazê-lo, porque afinal de contas o FantasPorto continua a ser o único festival de cinema do Norte que continua a dar um destaque central às longas metragens de ficção. E a verdade é que o FantasPorto faz parte ao panorama cultural português, não só pela sua história, mas pelo que representa para a cidade do Porto e para o Norte, juntamente, claro está, com outros festivais de relevo, como o Porto/ Post/ Doc, o Fest, o Curtas de Vila do Conde, o Festival de Avanca, o Douro Film Harvest ou o Porto7. 
O FantasPorto começou portanto com ondas de energia muito positivas relativamente a um futuro próximo e recheado de esperança na continuidade do nome já reconhecido internacionalmente do festival. A escolha de "Gelo" (CRÍTICA) para abrir o Fantas foi acertada, sem dúvida, mais não seja porque deu destaque a uma produção portuguesa. O filme em si tem as suas falhas, nomeadamente a grande desilusão que representa a performance de Ivana Baquero, a estrela de "O Labirinto de Fauno", mas há que dar os parabéns à sua equipa de produção que, pelo menos, apostou em algo de diferente no panorama nacional. Seguiu-se "Into The Forest", um drama pós apocalíptico canadiano protagonizado por Ellen Page e Evan Rachel Wood que, embora seja bem ameno, conseguiu ainda assim dar um cheirinho de Hollywood a esta edição do Fantas. Aliás, embora não seja nada de especial, "Into The Forest" é bem capaz de ser o único filme com potencial para receber uma distribuição nacional nas salas de cinema, isto a par de "Gelo", cuja estreia já está assegurada para esta semana. 
Os dias que se seguiram trouxeram ao Grande Auditório do Teatro Rivoli algumas longas metragens curiosas, como os thrillers "Prisoner X" e "The Lesson" ou o puros filmes de terror "Queen of Spades: The Dark Rite" da Rússica e "The Chosen: Forbidden Cave" da Coreia do Sul. A estes quatro tem que se juntar também a comédia musical polaca "The Lure", que se assemelha muito ao estilo de cinema fantástico de "Liza - The Fox Fairy", o vencedor da Competição de Cinema Fantástico em 2016. E, já agora, destaque também para o drama de terror brasileiro "Vampiro 40 Graus", que surge no panorama da competição como a única produção acima da média oriunda da América Latina, isto num ano em que este festival apostou muito forte neste continente. Embora estas cinco produções tenham marcado, para já, pela positiva o FantasPorto houve uma que arrebatou por completo o público e afigura-se, desde já, como o maior candidato à conquista dos principais prémios do certame. Falo da obra japonesa "I Am Hero" que, após vencer o prémio de Melhor Filme do Festival de Sitges, chegou ao Porto preparado para triunfar e, a julgar pelo que já se viu, tem todas as possibilidades de o fazer. Para já, "I Am Hero" fica na história desta edição por duas razões muito importantes. A primeira está relacionada com o interesse natural que gerou junto do público. O Grande Auditório do Teatro Rivoli registou, com esta sessão, a primeira grande enchente do FantasPorto 2016 e, a julgar pelo panorama das restantes sessões, será complicado que qualquer outro filme volte a repetir a proeza que esta obra nipónica conseguiu. E a verdade é que "I Am Hero" merece inteiramente toda a atenção e carinho que recebeu por parte do Porto. A outra razão prende-se com a presença e significado do filme. "I Am Hero" trouxe ao Porto um contigente japonês muito forte que se divide entre equipa técnica e jornalistas nipónicos, mas entre eles destaca-se a presença de um responsável máximo pela Toho, produtora deste filme e de alguns dos maiores clássicos do cinema japonês. Foi este produtor que subiu ao palco para receber, das mãos de Beatriz Pacheco Pereira, um prémio que o FantasPorto entregou para honrar, quase em nome de Portugal e da 7ª Arte, o enorme trabalho que esta história produtora tem feito desde a sua fundação em 1932. A presença japonesa continuou a fazer-se sentir graças à presença dos responsáveis máximos pelo filme que, graças à simpatia natural do povo japonês, fizeram as delícias do público presente. O filme, uma espécie de comédia zombie, fez questão de completar a melhor sessão, para já, do FantasPorto, já que entregou aos amantes do cinema japonês tudo aquilo que se esperava. 
O FantasPorto não é só feito de longas metragens, já que pelo Teatro Rivoli já passaram curtas metragens interessantes, mas houve duas que se destacaram. A primeira chama-se "Blight" e enquadra-se na perfeição no estilo do festival, já que promove um terror sobrenatural muito interessante e bem filmado. A outra, que em jeito de curiosidade antecedeu a sessão de "I Am Hero" e, por isso, acrescentou mais uma pitada de interesse à noite, chama-se "The Great Invention" e é bem capaz de ser das curtas mais interessantes que passaram pelo Fantas nos últimos anos, sendo por isso desde já uma candidata a conquista do prémio de Melhor Curta do Fantas 2016. Por fim, e em paralelo à competição, prosseguiu também a homenagem a Milcho Manchevski com a exibição de todas as suas longas metragens, cabendo a "Before de Rain" a honra de encerrar o festival no dia 5 de Março. 

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