Crítica - Balada de Um Batráquio (2016)

Realizado por Leonor Teles 
Género - Documentário

Nos onze minutos de "Balada de um Batráquio”, Leonor Teles não nos apresenta um filme tradicional. O conceito desta curta está bem pensado e representa um bom exemplo de como uma ideia barata e fácil pode ser transformada num projeto sociológico. Embora deva ser encarado na desportiva, "Balada de um Batráquio" pretende realçar, num patamar mais sério, os comportamentos xenófobos dos portugueses perante a comunidade cigana. O título deste projeto, aliado aliás ao objetivo central da premissa levada a cabo pela própria Leonor Teles, demonstram bem este intuito.
Antes de descobrir este projeto não sabia, mas pelos vistos havia em tempos a tradição portuguesa de colocar sapos de loiça à entrada de restaurantes e outros estabelecimentos comerciais para afastar as pessoas ciganas. Isto porque, por via das suas crenças, os próprios ciganos não encaram com bons olhos os sapos. Leonor Teles pegou neste conjunto de tradições supersticiosas e juntou-as ao facto de, ela própria ser cigana, para pôr em prática um curioso exercício sociológico. É certo que este exercício roça um pouco a criminalidade, daí ter que ser levado na desportiva, mas o que é certo é que promove um resultado curioso que demonstra uma velha realidade. E que realidade é essa?
Nos dias que correm é quase impossível não encontrar alguém na rua que  não faça, quase por instinto, a ligação do povo cigano à irresponsabilidade social e criminal.  E isto deve-se aos múltiplos estereótipos religiosos, culturais e sociológicos que afetam, hoje em dia, a comunidade cigana em Portugal, mas também no resto da Europa. O povo cigano é aliás visto na Europa como uma pária da sociedade. Esta ideia, já enraizada há décadas,  apenas tem sido atenuada recentemente pela chegada em massa dos migrantes muçulmanos e africanos à Europa. Este migrantes parecem ter substituído, pelo menos para já, os ciganos na posição dominante de ódio de estimação junto das populações europeias. 
Perante esta realidade que tão bem conhece por ter sofrido e ainda sofrer este mesmo tipo de descriminação, Leonor Teles criou este projeto diferente e curioso que, num patamar menos sério e dramático, expõem esta realidade e combata-a simbolicamente ao aniquilar um dos seus símbolos. Foi por esta mensagem e pelo conceito deste projeto que "Balada de um Batráquio” saiu do Festival de Berlim com o Prémio Melhor Curta Metragem. Pela sua humildade, talento e vontade de criar, Leonor Teles mereceu este prémio, não só pelo seu filme mas também pela sua personalidade que demonstra que estamos perante uma jovem criadora com uma boa cabeça e a quem desejamos todo o sucesso do mundo nos seus futuros projetos.

Classificação - 3,5 Estrelas em 5

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