Crítica - Les Misérables (1998)

Realizado por Bille August
Com Liam Neeson, Geoffrey Rush, Uma Thurman, Claire Danes

“Now don’t forget, don’t ever Forget, you’ve promised to become a new man”. E é com estas palavras que começa a nova vida do antigo prisioneiro Jean Valjean. Com pratas de enorme riqueza na mala tenta recomeçar sua pessoa com humildade, compaixão, piedade e bondade. A famosa história de Jean Valjean, personagem principal do célebre e aclamado livro de Victor Hugo, “Les Misérables”, sempre move as pessoas que a ouvem, vêm ou leem. A história comove sempre qualquer um.
O filme conta a vida de Jean Valjean (Liam Neeson), um homem preso por roubar um pão. Posto em liberdade condicional após cumprir 19 anos, Valjean é recebido na casa de um Bispo. Ainda assim, à noite, Valjean rouba alguns objetos de grande valor do Bispo; mas quando os policiais perguntam-lhe sobre o roubo, o Bispo confirma que deu a prata a Valjean e ainda lhe dá dois castiçais. Depois de 9 anos, Valjean se torna um rico industrial e prefeito. Sua paz acaba quando Javert (Geoffrey Rush), um inspetor de polícia, que anteriormente foi um guarda da prisão onde Valjean trabalhava feito escravo, o reconhece e tem quase certeza de que o prefeito é um ex-prisioneiro que nunca se apresentou para cumprir as exigências da liberdade condicional. O caminho de Valjean é cruzado com o de Fantine (Uma Thurman), uma mulher sofredora com uma filha doente para cuidar, antiga trabalhadora da sua fábrica, tendo sido injustamente despedida. 
Ao longo deste filme notamos que melhor título não poderia ser dado à grande obra de Victor Hugo. De facto, isto é um enorme drama, recheado de dissabores e tristezas, são todos uns verdadeiros miseráveis na vida, onde nenhum deles consegue alcançar a verdadeira paz. Isso consegue-se, particularmente, ver na performance de Liam Neeson, que se carateriza por ser simples, reservada, mas eficaz a transmitir os sentimentos mais profundos do personagem. O desespero, o desassossego, o amor que sente pela “filha”, tudo isso pode ser sentido pelo espectador através desta performance impecável.


Uma Thurman lança-nos para a realidade mais assustadora e medonha da época, a extrema miséria. O corpo já não aguenta tanta batalha, os olhos suplicam por perdão, as mãos já se desgastam, o tempo esgota-se. Não conseguimos deixar de nos sentir impotentes ao ver a pobre situação de Fantine que tenta a todo o custo dar um futuro a Cosette, sua filha. Tanto o amor como o sofrimento podem ser acompanhados pela postura e olhar expressivos de Uma Thurman, que nos transporta para uma vida miserável, no sentido mais puro da palavra. O mesmo não poderá ser dito sobre Geoffrey Rush que, a fim de expor uma personalidade cruel, calculista e obsessiva, oferece-nos sempre as mesmas expressões faciais, como se estar zangado, arrependido ou até mesmo com fome fosse exatamente a mesma coisa.
Apesar de nos transmitir a história de uma maneira simples e funcional, faltam algumas coisas que dariam ao filme muito mais alma, como uma direção um pouco mais especial. Os movimentos de câmera são os mesmos que nós vemos em todo o lado, têm só como único objetivo contar a história que se narra. Não oferece nada propriamente de novo. Outro ponto que faltou foi a Revolução em si, em que tudo o que rodeava soava bastante forçado. Aonde estava o verdadeiro desespero do povo francês para pedir uma Revolução? Não me vem mais nada à cabeça senão comparar com o filme Tale of Two Cities, que mostrava realmente o desespero do povo, sendo uma justificativa para uma Revolução. O peso da revolta, as cenas de batalha, o sopro dramático, nada encontra-se suficientemente lá. A banda sonora também não se mostra capaz de adquirir o gosto monumental da história, não permanecendo na nossa memória tal como gostaríamos. 
Em suma, “Les Miserábles” de Bille August é um filme eficaz a contar uma história tão grandiosa mas não surpreende, com algumas interpretações impecáveis, outras nem tanto, diálogos naturais e quase poéticos, laços inquebráveis, cenas de batalha rudimentares e banda sonora esquecível. Para quem quiser uma adaptação simples e sem grandes surpresas do livro de Hugo, este filme é para isso.

Artigo Elaborado por Bellatrix Alves

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