Crítica - Harry Potter And The Prisoner of Azkaban (2004)


Realizado por Alfonso Cuarón
Com Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint, Michael Gambon, Alan Rickman, Gary Oldman

Happiness can be found, even in the darkest of times, if one only remembers to turn on the light.

Harry Potter inicia o seu 3º ano em Hogwarts, uma vez mais sob o signo do perigo: Sirius Black, notável assassino de massas e fiel seguidor de Lord Voldemort, evade-se da prisão de alta segurança de Azkaban, aparentemente para perseguir e matar Harry. Mas o passado de Harry está intimamente ligado com o de Black e à medida que este vai conseguindo aproximar-se dele, Harry, como sempre acompanhado de Ron e Hermione, apercebe-se de que há muito mais na história para além daquilo que lhe contam.


Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban marca uma viragem no tom e na temática das aventuras do famoso jovem feiticeiro e dos seus amigos. É um dos livros mais tocantes porque lida com as emoções mais básicas: a falta dos pais, o sentimento de perda ao entrar-se na idade adulta, novas facetas da personalidade que afloram e que são assustadoras por serem até então desconhecidas. É o momento da passagem da infância à adolescência numa pessoa que quase não conheceu afecto e que, ainda assim, escolhe o caminho do bem. O mundo de inocência que o envolve começa a mudar, o seu passado trágico ganha novas proporções à medida que se vão desvendando as circunstâncias do assassínio dos pais, torna-se palpavelmente mais cinzento. Com um passado de horrores inomináveis, confrontado já por duas vezes com o mal supremo, as trevas dentro de si crescem e surge o conflito com sentimentos mais negativos, impregnados de raiva e tristeza. E como qualquer herói, qual Luke Skywalker, deve enfrentar os seus medos, personificados pelos Dementores, criaturas sinistras que sugam a energia vital das pessoas através das suas recordações e pensamentos mais felizes, que só se podem repelir através da evocação da mais feliz e luminosa recordação. Esta dicotomia luz versus escuridão, embora não sendo novidade, é muito interessante pela maneira como é concretizada.


Para abordar todos estes aspectos duais, era preciso um realizador com um sentido estético muito particular, e creio que a escolha não podia ter sido mais acertada. Era sem dúvida tempo de trocar de realizador. Chris Columbus, o realizador de, entre outros, "Sozinho em Casa", trouxe-nos os primeiros dois filmes desta saga sob um formato quadrado de filme infantil extraordinariamente redutor. Para o primeiro filme, a verdadeira preocupação foi ser o mais fiel possível ao livro para evitar a multidão em fúria de fãs com forquilhas e archotes, portanto a sua quadratura acabou por ser eficaz. Já no segundo, essas limitações foram bastante lesivas quanto a mim. Alfonso Cuarón, realizador de “Grandes Esperanças” em 1998, filme trucidado pela crítica mas de uma beleza rara, tem o dom de manejar luz e cor para melhor servir o contar de uma história. O universo não perdeu toda a sua infantilidade, mas já lhe foi conferido um certo negrume, um véu de amargura. Paisagens mais sombrias, cenas mais escuras, cores esbatidas. A fotografia de todo o filme é verdadeiramente notável. Cuarón não se importa de perder tempo a filmar o voo de um pássaro ou o cair de uma folha, para bem caracterizar ambientes e sensações, pausadamente. É por isso que tem tanto sucesso na transposição ao grande ecrã das duas mais importantes “personagens” da história e respectivas naturezas: os Dementores, em especial o efeito que têm em Harry, e os Patronos, tanto visualmente como na escolha de planos para que toda a sua grandeza seja assimilada. Toda a cena de viagem no tempo está também muito bem conseguida.


Este Prisoner of Azkaban tem três grandes adições ao seu elenco de luxo: Emma Thompson, no breve papel de excêntrica Professora Trelawney; Michael Gambon em substituição do falecido Richard Harris no papel de Dumbledore, numa interpretação mais dinâmica (às vezes até demais); e acima de tudo Gary Oldman no papel de Sirius Black, o desespero a roçar a loucura, a violência dos afectos. No entanto, e apesar de se verem evoluções positivas, os jovens protagonistas são mesmo os elementos que deixam a desejar, sobretudo Emma Watson que durante muito tempo, pelo menos até ao 5º filme, achou que representar com veemência é estar sempre sem fôlego e fazer subir e baixar as sobrancelhas com frequência. Excepção feita, talvez, a Tom Felton como Draco Malfoy, que foi desde sempre uma personagem detestável e, portanto, bem sucedida na sua caracterização.
Em suma, Harry Potter and the Prisoner of Azkaban era, na altura da sua saída, sem dúvida o melhor filme da saga, e no conjunto dos sete continua a poder reclamar ser o detentor de uma visão muito especial de um dos capítulos mais emocionantes da história do Rapaz Que Sobreviveu. Apesar de alguma inconsistência, algumas quebras de ritmo. o resultado final é deveras positivo. É uma história sobre laços de amor e de amizade que prevalecem mesmo após a morte e sobre como dentro de nós há sempre uma luz capaz de vencer as nossas próprias trevas.


Classificação - 4 Estrelas Em 5

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4 Comentários

  1. 4 em 5 não será um bocadinho (mas só mesmo um bocadinho) alto?

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  2. É um bocadinho, sim :) Mas teve que ser, porque em termos relativos gosto mais do que o Ordem da Fénix, a que dei 3,5, o qual por sua vez é melhor que o segundo, a que daria 3... enfim, as pontuações são sempre subjectivas, acho. O importante é mesmo a justificação.

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  3. penso que a critica está acertada, não sou um fã dos filmes porque sou un fã incondicional dos livros.. no entanto concordo que este é de longe o melhor filme (e o único que chega sequer aos calcanhares é o 7º, sendo que ainda não tive oportunidade de ver o último)..

    não concordo, no entanto, no que diz sobre a Emma Watson.. ela é a léguas o melhor actor (masculino ou feminino) de toda a série e foi exactamente no prisioneiro de Azkaban que começou a dar nas vistas com uma actuação simplesmente notável.

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  4. Curiosamente este é o filme que menos gosto...

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