Crítica - Aristides de Sousa Mendes - O Cônsul de Bordéus (2012)

Realizado por Francisco Manso e João Correa
Com Leonor Seixas, São José Correia, Vítor Norte

Em 2007, a RTP1 emitiu um programa televisivo bastante popular intitulado “Os Grandes Portugueses”, que convidou todos os portugueses a elegerem os seus conterrâneos mais importantes de todos os tempos. A história nacional é, como sabemos, fértil em exemplos de grandes homens e mulheres que, com as suas ações ou omissões, contribuíram para o benefício ou evolução do país e/ou da humanidade, assim sendo, as votações foram bastante renhidas e a lista final incluiu apenas alguns dos grandes portugueses que agraciaram a nossa história com os seus feitos. O ditador António de Oliveira Salazar acabou por ser eleito o Maior Português de Todos os Tempos, mas num próximo terceiro lugar e à frente de grandes nomes históricos como D. Afonso Henriques, Vasco da Gama, Luís de Camões, Fernão de Magalhães, Eça de Queiroz ou António Egas Moniz ficou Aristides de Sousa Mendes, um diplomata português que salvou mais de trinta mil vidas durante a Segunda Guerra Mundial. O grande momento da sua vida é agora explorado ao pormenor por esta produção nacional, que infelizmente não faz justiça à vida e às ações de um corajoso homem que merecia um filme melhor. A história de “Aristides de Sousa Mendes – O Cônsul de Bordéus” revisita então a extraordinária história de Aristides de Sousa Mendes, o Cônsul de Portugal em Bordéus que, durante a Segunda Guerra Mundial e após a Invasão da França pela Alemanha Nazi, decidiu conceder mais de trinta mil vistos a refugiados judeus, contrariando assim as ordens expressas de António Oliveira de Salazar. Esta nobre atitude custou-lhe a sua carreira, mas assegurou a salvação de milhares de pessoas que, se não tivessem obtido um visto, teriam tido como destino os temíveis campos de concentração nazis.
Infelizmente, “Aristides de Sousa Mendes – O Cônsul de Bordéus” não parece um filme profissional com um orçamento respeitável, mas sim um telefilme amador com um valor técnico muito baixo e uma narrativa francamente insatisfatória. A vida de Aristides de Sousa Mendes tinha tudo para dar um filme de excelência, afinal de contas estamos a falar de um homem que nasceu rico e morreu na miséria, porque ousou desafiar um ditador para salvar mais de trinta mil vidas. O problema é que, ao contrário do que seria de esperar, os guionistas João Nunes e António Torrado não conseguiram aproveitar esta riqueza dramática e histórica para criar um argumento minimamente digno das valorosas ações desta nobre personalidade nacional. O resultado do trabalho de Nunes e Torrado é um enredo artificial sem densidade emocional que se limita a expor fatos verídicos, mas desprovidos de uma convincente ou tocante sustentação dramática, ou seja, nunca somos presentados com uma profunda análise aos duelos internos do protagonista ou às consequências, positivas e negativas, das suas ações. O filme faz questão de nos mostrar, por intermédio de uma espécie de entrevista a um sobrevivente, como é que as várias pessoas que foram salvas reagiram à atitude do protagonista e como é que as suas ações contribuíram para o bem geral, mas “Aristides de Sousa Mendes – O Cônsul de Bordéus” falha ao não nos mostrar o que se passou na vida de Aristides nos anos que antecederam e sucederam o seu ato heroico, mas também ao não explorar conveniente os seus dilemas internos ou a dinâmica da sua vida familiar e social. Ao mau enredo junta-se uma vertente visual sem qualquer brio técnico, como se nota pela fotografia sem fulgor, pelos cenários pesados ou pela forma factícia e aérea como Francisco Manso e João Correa captam os eventos. Esta injustificada pobreza visual contribui ainda mais para o descrédito desta produção, que conta também com um elenco nada favorável. A única exceção é Vitor Norte que nos surpreende com um desempenho forte e carismático, bem à medida da personagem que interpreta. É pena, mas “Aristides de Sousa Mendes – O Cônsul de Bordéus” não é um bom retrato histórico ou dramático da vida de um dos maiores heróis da nossa história. O potencial estava lá, mas Francisco Manso, João Correa, João Nunes e António Torrado não o souberam aproveitar da melhor maneira. 

 Classificação - 2 Estrelas em 5

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