Realizado por Edmund Elias MerhigeCom Brian Salzberg, Donna Dempsey e Stephen Charles Barry
Um deus esventrado, em agonia, relaciona-se intimamente com a mãe-natureza. Herdeira de um legado divino - a geração de uma vida -, a (mãe) natureza dá à luz um homem adulto, com o qual percorre uma realidade caótica e infértil, dominada pela violência e pelo irracional. A dureza dos cenários e a aparente naturalidade com que os inúmeros intervenientes - principais ou secundarizados - encaram a dor e a tortura, quer como vítimas, quer como assassinos, constitui o referencial da atmosfera criada por Merhige.
Em "Begotten" não é clara a dimensão do tempo, nem chega a esclarecer-se qual é a magnitude, ou escala, dos eventos ali representados. Sejam eles relativos a um homem, a uma civilzação, a um deus ou a qualquer outra entidade. Manifestamente gore, a narrativa é desprovida de diálogos, cabendo à banda sonora minimal, de inspiração naturalista (uma respiração inquietante e o ruído de grilos acompanham a totalidade do filme) e à sucessão de enigmáticas imagens monotónicas, a transmissão do terror e do mal.
Em "Begotten" não é clara a dimensão do tempo, nem chega a esclarecer-se qual é a magnitude, ou escala, dos eventos ali representados. Sejam eles relativos a um homem, a uma civilzação, a um deus ou a qualquer outra entidade. Manifestamente gore, a narrativa é desprovida de diálogos, cabendo à banda sonora minimal, de inspiração naturalista (uma respiração inquietante e o ruído de grilos acompanham a totalidade do filme) e à sucessão de enigmáticas imagens monotónicas, a transmissão do terror e do mal.
É conhecido o fascínio de Edmund Elias Merhige pelo oculto e pelo obscurantismo. Os clips que realizou para Marylin Manson (em "Cryptorchild" são usadas diversas sequências de "Begotten"), as duas curtas metragens "Spring Reign" (1984) e "A Taste of Youth" (1985), o amplamente divulgado "The Shadow of the Vampire", de 2001, e o sub-valorizado "suspect Zero" (2004) são disso reveladores, abordando-se o profano e o paranormal, e questionando-se o instituído. Independentemente do orçamento disponível, da motivação ou dos meios usados (a expectativa em torno de "Games they Play", a ser divulgado já em 2013, é grande). Em "Begotten", hoje considerado filme de culto, Edmund Merhige retrata as raízes dessa inspiração negra, conectando-a temática e plasticamente com a totalidade da sua obra e, numa perspectiva estritamente pessoal, revisitando o brutal acidente de viação de que foi vítima, aos 19 anos de idade.
"Begotten" é uma obra única, dirigida a apreciadores de cinema fantástico e a audiências que perseguem plasticidades experimentalistas e enredos de acepção meta-física. Um espectador desinformado corre o risco de se sentir maltratado por uma obra ininteligível, de ritmo atípico e impregnada por um esgar de dor permanente. "Begotten" foi bem recebido pela crítica e no meio artístico ocidental, tendo, enquanto debutante, colhido reconhecimento no San Francisco International Film Festival, em 1990.
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