Pérolas Indie - Under The Skin (2013)

Realizado por Jonathan Glazer
Com Scarlett Johansson, Jeremy McWilliams, Lynsey Taylor Mackay
Género - Sci-Fi

Sinopse - Uma jovem e sensual alienígena (Scarlett Johansson) chega à Terra e começa a percorrer estradas desertas e paisagens vazias à procura de presas humanas. A sua principal arma é a sua sexualidade voraz, mas pelo caminho descobre que, lá no fundo, é estranhamente parecida com os humanos que tanto detesta.

Crítica - Estreou em simultâneo nos festivais de Veneza e Toronto em 2013, tendo na altura sido considerado por muitos como um dos filmes mais estranhos e alternativos de ambas as seleções oficiais. É difícil não concordar com esta avaliação, porque "Under The Skin" é de facto um filme estranho. A julgar apenas pela sua misteriosa premissa, parece até ser um thriller pouco dado a subtilezas emocionais e filosóficas, mas sim um projeto mais direcionado para uma visão mais comercialista. Mas este não é de todo o caso desta pequena obra independente da autoria de Jonathan Glazer, que no passado foi responsável pela direção do igualmente singular thriller dramático "Birth" (2004), que também só pode ser descrito como um filme complicado de ver e avaliar. Embora seja de certa forma mais apelativo e superior a "Birth", "Under The Skin" não deixa de ser um daqueles filmes que não é claramente para todos os gostos e espetadores. É provável que muitos o considerem aborrecido e estrambólico, porque de certa forma é de facto um projeto bizarro dotado de uma dimensão humana e filosófica por vezes pouco dada ao raciocínio. Mas não há dúvidas que é a sua excentricidade que o torna estranhamente cativante e curiosamente sinistro.
É importante referir que o argumento de "Under The Skin" está longe de ter uma intriga linear e estruturada do início ao fim que permita assim ao espectador tirar conclusões pertinentes e claras para qualquer um. Isto porque no mínimo,pode-se dizer que estamos perante um produto subjetivo muito visual que por vezes roça a loucura e a estranheza. É neste ponto que aparecem várias sequências bizarras e únicas que não fazem grande sentido no plano geral do filme, mas que acabam por reforçar um certo carácter psicológico que nos permite conhecer um pouco melhor a protagonista. Esta vai mudando e evoluindo, aproximando assim os seus instintos predatórios e de superioridade a instintos mais frágeis e tipicamente ligados ao ser humano. É certo que não há um grande traço narrativo neste projeto, mas há uma grande atenção aos pontos bizarros e íntimos relacionados com a personagem central e com as suas peculiares características, personagem essa cujo real rumo é sempre uma incógnita, não se sabendo nunca o que está na base das suas reais motivações. O que importa realçar é que, apesar de ser por vezes ilógico e excessivamente negro sem grande sentido, "Under The Skin" é intrigante mas opaco, porque nunca se sabe o que virá a seguir ou o que irá acontecer à protagonista no final da sua extravagante demanda. É portanto um filme complexo que apesar de tudo afasta-se satisfatoriamente de uma parvoíce generalizada e que, no final, consegue satisfazer com o seu profundo sentido de subjetividade obscura que dirá coisas diferentes a cada espectador. Sendo certo que é impossível ficar indiferente a tudo aquilo que representa ou, pelo menos, tenta representar, porque acredito que é quase impossível chegar a conclusões certas e definitivas sobre os reais objetivos desta obra. Esta tanto apela ao sempre louco género de ficção científica, como à extravagancia do melodrama filosófico e até a uma vertente mais próxima à vertente artística do cinema arthouse.
É óbvio que estamos perante um puzzle cinematográfico muito estético e com pouca claridade, mas se o seu guião até pode ser alvo de muitas questões e problemáticas o mesmo já não se pode aplicar ao resto do filme. A performance de Scarlett Johansson, por exemplo, até é bastante singular e surpreendente, porque esta bela atriz tem aqui uma interpretação bem física e curiosa que se afasta claramente da sua zona de conforto. Mas, apesar desta grande condicionante, não há dúvidas que consegue brilhar no meio de uma película confusa e pouco dada a grandes brilhantismos individuais, até porque "Under The Skin" é praticamente um filme mudo, especialmente no que toca à personagem de Johansson. O que também brilha em "Under The Skin" são certos aspetos técnicos, como por exemplo a sua fotografia, que se enquadra perfeitamente na temática bizarra e estrelar deste projeto, tal como a sua banda sonora, cujo espírito moderno e curioso consegue incutir ainda mais extravagância a várias sequências já de si densas e nada normais, conseguindo compensar ainda a clara proeminência de diálogos. A própria direção de Jonathan Glazer é bastante capaz, apesar de ter feito questão de lhe incluir várias componentes que não fazem grande sentido prático e que alimentam apenas o seu espírito metafísico. Mas no geral há que lhe dar o devido crédito por ter criado um filme visualmente bonito e curioso com múltiplas sequências que variam desde o escandaloso até ao curioso, mas que reforçam apenas a peculiaridade de um argumento exclusivo e verdadeiramente louco que não deixa por isso de ser penetrante, intenso e enigmático. Não há dúvidas que este consegue deixar qualquer espetador preso a uma teia de perplexidades, dúvidas e problemáticas banais ou filosóficas.

Classificação - 3 Estrelas em 5

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