Crítica - Bombshell (2019)

Realizado por Jay Roach
Com Charlize Theron, Nicole Kidman. Margot Robbie

À partida, "Bombshell" tinha tudo para brilhar e para se tornar num dos grandes eventos cinematográficos do ano. Senão vejamos. É realizado por Jay Roach, um cineasta já com provas dadas em Hollywood e que, à sua disposição, teve um elenco de luxo liderado por estrelas máximas como Charlize Theron ou Nicole Kidman. Mas acima de tudo, "Bombshell" tem na sua base uma poderosa história real que implica intrigas políticas, sexuais, morais e jornalísticas. A estes três ingredientes de luxo que são o sonho de qualquer produtor, "Bombshell" junta ainda uma equipa técnica repleta de artistas competentes e o apoio incondicional da Lionsgate. 
A qualidade e o potencial estão lá e acabaram, efetivamente, por potenciar num filme competente que já arrecadou três nomeações aos Óscares (Melhor Atriz, Melhor Atriz Secundária e Melhor Caracterização). Mas terá "Bombshell" tido o impacto mediático e dourado que se esperava? A resposta, infelizmente, é negativa. Embora estejamos perante um filme acima de média que, dentro das possibilidades, apresenta um retrato minimamente factual dos eventos que rodearam as jornalistas e comentadoras da Fox News que terão sido sexualmente assediadas por várias figuras masculinas do canal, nomeadamente Roger Ailes, fundador do canal. O que é certo é que fica no ar a sensação que, pese embora as suas boas intenções, há algo nesta obra que acaba por não impressionar na sua globalidade.
Sim, "Bombshell" tem um elenco fenomenal que merece todos os aplausos, como também conta com um Departamento de Caracterização liderado por Kazu Hiro que fez milagres e conseguiu aproximar os visuais de Theron e Lithgow às suas respectivas personagens. Mas onde "Bombshell" realmente falha é ao nível do argumento, nomeadamente nas opções sensacionalistas que foram tomadas para retratar o escândalo. Os próprios intervenientes reais, quando comentaram o filme, aludiram a esta mesma preocupação que se torna notória para qualquer espectador. Embora a essência do escândalo esteja lá, certo é que há um esforço claro para mediatizar e dramatizar certos aspectos, tanto é que houve a necessidade de criar uma personagem fictícia (Margot Robbie) para transmitir uma ideia de misoginia. Essa ideia é corajosa e importante, já que representa a base da cultura de abusos sexuais no mundo empresarial, mas poderia ter sido explorada com uma maior objetividade e exigência factual! 
É notório que factos e ficção misturaram-se demasiadas vezes no retrato promovido pelo filme. E com isto não se nega os factos nem a existência do escândalo, mas o próprio filme põe-se a jeito para ser contestado e para não produzir os efeitos que se esperaria. Um dos pontos crassos das críticas que lhe são apontadas é quando "Bombshell" chama Donald Trump à discussão. Embora não seja uma personagem, Trump é sempre uma figura omnipresente ao longo do mesmo, sendo que este aproveita a sua figura altamente misogina para reforçar a dimensão e a relevância do caso que explora. O problema é que, para além de apoiar o contexto profissional de Megyn Kelly (Charlize Theron), a presença de Trump não acrescenta muito mais ao filme, para além claro está das claras metáforas e alusões ao seu comportamento abusivo. A sua presença, aliás, parece até indicar uma certa parcialidade do filme perante as ideologias políticas que Trump e os Republicanos/ Conservadores parecem defender. E ao falhar em manter a aparência de imparcialidade, "Bombshell" acaba por se colocar numa posição ingrata e num alvo fácil para os críticos. A história em si já era poderosa o suficiente, não se compreendendo portanto o porquê de os responsáveis pelo filme terem sentido a necessidade de jogar um jogo político que, claramente, não tinham nem necessidade, nem astucia para jogar.

Classificação - 3,5 Estrelas em 5

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