Ainda sem data de estreia prevista para Portugal, "Firebrand", novo projeto do cineasta brasileiro Karim Aïnouz (realizador do acalmado "Vida Invisível", teve a sua estreia mundial no Festival do Rio no Brasil, onde não teve propriamente uma receção muito calorosa. Este thriller de época protagonizado por Jude Law e Alicia Vikander também passou em Maio por Cannes, onde também não deixou saudades. Mas então porque é que tantos ficaram desapontados com esta obra que marca a estreia de Aïnouz nos filmes em língua inglesa?
Já responderemos, mas antes de que se trata esta obra? Para os fãs de produtos sobre a Realeza, mais particularmente a Realeza Britânica, "Firebrand" será à partida um produto muito atrativo, ainda para mais porque se foca num pedaço particularmente sumarento da monarquia inglesa que já deu origem a vários filmes, histórias e séries. Falamos claro está do reinado do polémico Henry VIIV que, como se sabe, teve um reinado marcado pela crueldade e pela revolução que promoveu na igreja, mas é no campo pessoal que este monarca é mais conhecido, já que todos conhecem a história das seis mulheres que teve (duas das quais mandou decapitar). Apesar de ser considerado um dos Reis mais tiranos da história país é, ainda assim, lembrado como um dos maiores monarcas do seu tempo. "Firebrand" foca-se especificamente num período do reinado de Henry VII (interpretado por Jude Law), nomeadamente nas várias peripécias do seu casamento de Katherine Parr (interpretada por Alicia Vikander) que foi a sua sexta e última esposa e aquela que ficou para a história como a sobrevivente!
Vamos começar pela maior crítica. "Firebrand" não é um relato historicamente correto da relação e de vários elementos do casamento entre Katherine e o Rei. Há demasiadas liberdades criativas pelo meio e apesar de alguma da dinâmica entre ambos ter alguma base real, certo é que muito dos eventos que pautam a trama nunca aconteceram ou foram drasticamente exagerados para promover o tão desejado drama. É claro que no final do dia, Henry VIII é retratado como o grande vilão que abusa do seu poder para maltratar (e matar) quem lhe apetece, já Parr é a inocente sofredora que é arrastada para dramas contra à sua vontade e luta para proteger a sua própria vida quando não consegue proteger quem lhe está mais próximo. Bem, Henry VIII não era tão mau assim e nem Parr foi tão inocente, sobretudo na reta final da história de ambos que o filme pretende retratar. Basta aliás olhar para a série "Os Tudor" que, apesar das suas falhas, representa um melhor retrato desta relação. É precisamente nos dramas exagerados e talvez algo absurdos do argumento que "Firebrand" se perde e acaba por nos arrastar para um relato de história falsa que pretende colocar Parr num pedestal, mas que acaba mesmo por conseguir o oposto já que a torna extremamente desinteressante aos olhos modernos. Entre personagens confusos e uma linha temporal que não faz grande sentido e que contraria a história real, "Firebrand" poderia até assumir-se um bom drama de época ficcional (estilo fan fiction), mas até neste campo não consegue capitalizar e desaproveita o grande filão dramático que tinha à sua disposição.
Mas há algumas notas de salvação. Tecnicamente é um produto bem trabalhado e executado. Os cenários, guarda roupa, fotografia e edição estão acima da média e conseguem concorrer com grandes dramas de época já aclamados e premiados em Hollywood. Sem serem brilhantes, Jude Law e Alicia Vikander também apresentam uma performance satisfatória, mas claro que sobretudo Vikander beneficiaria mais com um enredo melhor trabalhado e à altura do eu talento. Valerá por isso a pena ver "Firebrand" quando chegar a Portugal em 2024? Se for já preparado mentalmente para uma falsa história (em todos os sentidos), talvez....
Classificação - 2 Estrelas em 5
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