Crítica - Trance (2013)

Realizado por Danny Boyle
Com James McAvoy, Rosario Dawson, Vincent Cassel

O pequeno interregno cinematográfico de quase três anos de Danny Boyle chega ao fim com um thriller bastante meticuloso e astuto, que evidência as melhores características deste aguerrido cineasta britânico que, acima de tudo, soube controlar da melhor maneira possível um argumento complexo e imprevisível que, nas mãos erradas, poderia ter originado a um enorme desastre cinematográfico. A história de “Trance” explora os dilemas e dificuldades de Simon (James McAvoy), um leiloeiro de arte que se junta a um grupo de criminosos para roubar uma obra de arte no valor de milhões de dólares, mas, depois de sofrer uma pancada na cabeça durante o assalto, ele acorda para descobrir que não tem nenhuma memória sobre onde escondeu a pintura. Quando as ameaças físicas e tortura não produzem respostas, o líder do grupo, Franck (Vicent Cassel), contrata a hipnoterapeuta Elizabeth Lamb (Rosario Dawson) para explorar os recantos mais sombrios da mente de Simon. Conforme ela penetra no seu subconsciente, os riscos tornam-se muito mais elevados e as fronteiras entre realidade, desejo e sugestão hipnótica começam a diluir-se e desaparecem.


Há quatro elementos de grande destaque e qualidade em “Trance”. O primeiro é, obviamente, o argumento da autoria de Joe Ahearne e John Hodge, que transforma um básico produto de ação num imponente thriller com uma forte envolvente psicológica e hipnótica. Este perspicaz guião nunca negligencia a lógica, mas obriga o espetador a prestar muita atenção aos altos e baixos da sua complexa e fragmentada narrativa que, embora siga um rumo coerente, apresenta uma série de pertinentes reviravoltas que podem confundir com alguma facilidade o espetador. A estrutura não linear do seu enredo é desafiante e a sua trama tem um certo valor intelectual, mas “Trance” não é de todo um filme consensual e não é também um filme sem desafios. Às vezes é difícil seguir o desenrolar do seu guião e nem sempre conseguimos perceber se o que estamos a ver é uma realidade ou uma fantasia, mas, embora seja momentaneamente confuso, não consigo deixar de ver “Trace” com um bom thriller que consegue estimular o nosso cérebro. A meticulosa e ritmada realização de Danny Boyle é também uma das mais-valias deste filme. Este cineasta britânico conseguiu moldar e domar um argumento potencialmente confuso com a sua imaginação e atenção aos pormenores, que se evidencia particularmente nas sequências mais aguerridas e ambíguas deste tenso projeto que, graças ao trabalho deste poderoso realizador, surpreende e intriga os espetadores até ao último diálogo.

   

Em “Trance” há uma envolvente mistura de drama, ação e humor. Esta conjunção cheia sequências com suspense, personagens habilmente cogitadas e surpresas em todas as esquinas deriva de um argumento bem equilibrado e de uma direção magistral, mas esta produção também deve muito ao seu elenco e à sua banda sonora. James McAvoy está fenomenal como Simon, um ladrão hesitante que vai alertando a sua forma de ver a vida à medida que o filme caminha para a sua conclusão. Por vezes torna-se difícil avaliar as intenções de Simon, porque nem sempre conseguimos perceber até onde é que Simon quer ir com as suas conjeturas e planos, mas McAvoy consegue vender muito bem estas incertezas e ideias tresloucadas que ajudam a alimentar a incerteza que rodeia esta obra. A simpática Rosario Dawson também agrada à vista com a sua interpretação de uma enigmática femme-fatale, cuja verdadeira natureza humana mantém-se envolta em mistério durante grande parte do filme. A sua personagem está bem construída mas, apesar de estar no epicentro dos episódios mais acalorados do filme, não se destaca tanto como as personagens de McAvoy ou Vincent Cassel. Este último pode até dar vida a um vilão que incorpora alguns clichés preocupantes graças à sua origem francesa, mas ninguém pode criticar a inegável qualidade da sua alucinante performance. A banda sonora de Rick Smith também é fenomenal. Esta pulsante e singular composição musical é composta por eletrizantes e ritmadas baladas que ajudam a alimentar o espirito incerto e dúbio de um grande thriller que vos dará um grande espetáculo cinematográfico, desde que estejam preparados para verem com toda a atenção um filme bastante cerebral. 

 Classificação – 3,5 Estrelas em 5

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