Crítica - The Bling Ring (2013)

Realizado por Sofia Coppola 
Com Emma Watson, Leslie Mann, Taissa Farmiga 

Entre Outubro de 2008 e Agosto de 2009, um grupo de sete jovens de classe média-alta originários de Calabasas, um dos bairros mais proeminentes e pomposos de Los Angeles, participaram numa série de invasões e assaltos às propriedades privadas de várias celebridades do mundo da moda e cinema, como Paris Hilton, Lindsay Lohan, Rachel Bilson, Orlando Bloom e Megan Fox. Este gang juvenil, que posteriormente foi apelidado pela imprensa norte-americana de Gangue Bling Ring, acabou por ser desmantelado e todos os seus membros foram presos e presentes a julgamento, onde ficou provado que todos os membros presos participaram nos assaltos que, ao todo, renderam ao grupo cerca de três milhões de dólares. A natureza superficial dos crimes e os objetivos ainda mais superficiais dos criminosos catapultaram o Caso do Gangue Bling Ring para o topo das prioridades da imprensa e do público, que acompanharam de perto todos os desenvolvimentos judiciais ligados ao caso e aos seus intervenientes que, de um momento para o outro, ganharam uma espécie de fama instantânea que, entretanto, já se esfumou. Este badalado caso passou um bocado ao lado de Portugal e da Europa, mas mexeu bastante com a bússola moral dos norte-americanos, que ficaram incrédulos com a leviandade das ações destes jovens criminosos que, segundo entrevistas dadas pelos próprios, participaram nos assaltos para se divertirem e para satisfazerem a sua luxuria pessoal. A singularidade deste caso não passou despercebida à perspicaz cineasta Sofia Coppola, que viu potencial neste impressionante caso para render um filme capaz de entreter o público e mostrar-lhe o lado mais superficial e negativo da juventude americana. Infelizmente, “The Bling Ring” ficou aquém dos planos e desejos de Coppola, porque embora seja factual e curioso, não aproveita as enormes potencialidades da sua polémica base verídica para aprofundar ao pormenor o lado negro, frívolo e despreocupado dos jovens envolvidos nos assaltos nem a esquisita obsessão que as novas gerações têm vindo a alimentar pela fama e luxuria.

 

Tal como a história que retrata, “The Bling Ring” é um filme infeliz e fútil. O seu argumento transmite ao espetador, de forma organizada, todos os factos e eventos pertinentes do caso, mas perde muito pouco tempo com os seus aspetos mais subjetivos, como as questões sociais e emocionais que motivaram os jovens assaltantes a praticarem atos criminais, ou os problemas inerentes ao fugaz e superficial estilo de vida que deslumbrou o grupo e alimentou a sua obsessão pela boa vida. O guião de “The Bling Ring” sofre portanto de um evidente distanciamento humano, emocional e intelectual que acaba por transformar este projeto num retrato sem emoção e meramente factual que, infelizmente, ignorou todo o potencial humano e dramático que poderia advir de uma análise mais pormenorizada e pessoal às personalidades dos vários sujeitos que organizaram e participaram nos assaltos, algo que permitiria ainda ao espetador ficar com uma perspetiva mais humana e dinâmica do caso. O filme acaba então por não nos conseguir mostrar o lado pessoal e subjetivo dos criminosos, mas evidência em grande escala a sua personalidade frívola e consumista que se materializa, por exemplo, no seu gosto incurável por grandes festas cheias de ostentação e comportamentos de alto risco ou numa aparente obsessão pela imagem e pelo consumismo. Esta imagem de jovens superficiais que fazem tudo pela diversão e pelo estatuto social não é nada exagerada e exterioriza na perfeição a fútil realidade que marca a vida atual de muitos jovens em todo o mundo. Neste campo, “The Bling Ring” consegue convencer e atrair o espetador, mas Coppola (Guionista e Realizadora) precisava também de ter dado mais atenção à parte íntima e emotiva desta história que, ainda assim, permite ao espetador conhecer melhor o caso real e entreter-se com alguns eventos mais extravagantes, como as engraçadas mas moralmente preocupantes cenas que envolvem a fútil Nicki Moore, que representa Alexis Neiers, a figura mais mediática e controversa do Gangue Bling Ring. Esta personagem é maravilhosamente interpretada por Emma Watson, que consegue vender na perfeição a imagem de uma adolescente mimada, cabeça de vento e sem nenhuma noção da realidade que, para piorar as coisas, está presa a um ambiente familiar que promove o seu preguiçoso e superficial estilo de vida, como nos é dado a entender pelas atitudes irresponsáveis da sua mãe (Leslie Mann), que parece instigar as suas filhas a seguir uma vida cheia de futilidade e comportamentos de riscos. Este pequeno apontamento familiar enquadra-se sem problemas no espírito da narrativa e até lhe incute alguma substância subjetiva, porque nos mostra que a educação e a família estão profundamente ligados aos comportamentos menos próprios dos jovens que, no caso de Nicki Moore/ Alexis Neiers, parece que foram provocados pela irresponsabilidade da sua mãe, que baseou toda a sua educação em práticas perigosas e nos questionáveis ensinamentos do livro “The Secret”.

   

Embora não tenha um guião de valor, “The Bling Ring” destaca-se, ainda assim, com um exercício cinematográfico relativamente interessante por parte de Sofia Coppola, que atenua levemente os problemas do enredo com a sua cuidada e visualmente atrativa direção que, mais uma vez, privilegia os planos mais íntimos que reforçam a dinâmica do grupo. Tal como já vem sendo hábito, Coppola também apostou em força numa banda sonora proeminente e competente, que neste caso pega em várias músicas dos estilos hip hop e house para ilustrar sonoramente o mundo repleto de luxos e festas que rodeia os jovens protagonistas, cuja maioria é interpretada por atores sem experiência que não se portaram nada mal. Não é de estranhar que “The Bling Ring” tenha sido mal recebido na Secção Un Certain Regard do Festival de Cannes 2013, porque normalmente os filmes que passam pela competição deste certame têm um pouco mais de substância, mas penso ainda assim que este produto de Coppola pode suscitar alguma curiosidade e promover alguma forma de entretenimento junto da maioria dos espetadores que, no mínimo, aprenderão a tornar as suas casas mais seguras e à prova de miúdos mimados que as queiram assaltar. Se calhar algumas das celebridades cujas mansões foram assaltadas também precisam de aprender esta lição…

 Classificação - 2,5 Estrelas em 5

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