Crítica - The Birds (1963)

Realizado por Alfred Hitchcock
Com Tippi Hedren, Rod Taylor, Jessica Tandy, Suzanne Pleshette

Após o sucesso de “Psycho” em 1960, Alfred Hitchcock apresentou em 1963 este “The Birds”, um terrorífico suspense com nuances apocalípticas que surpreendeu o mundo com a sua misteriosa e perturbante história que fez com que muita gente olhasse para os pássaros de uma maneira bem diferente. Em “The Birds” somos apresentados a Melanie Daniels (Tippi Hedren), uma solteirona de São Francisco que se apaixonou à primeira vista por Mitch Brenner (Rod Taylor), um charmoso advogado que conseguiu domar os sentimentos da até então indomável loira. Melanie segue o seu amado até à sua casa na pequena cidade de Bodega Bay e, após alguns encontros caricatos com a família e amigos de Mitch, o impensável acontece. Durante a festa de anos da irmã mais nova de Mitch, um bando tresloucado de pássaros ataca violentamente as crianças, lançando o pânico pela pacata cidade que de uma hora para a outra se vê a braços com sucessivos ataques mortíferos de pássaros. Ninguém consegue explicá-los nem prevê-los, todos os habitantes se encontram à mercê das aves que parecem determinados a matar todos os seres-humanos.
No inicio, “The Birds” apresenta um ambiente descontraído e até cómico que desaparece no momento do primeiro ataque dos pássaros assassinos. A partir daqui a história desenvolve-se através de um ambiente de medo e apreensão, que faz gelar o sangue de qualquer espectador. Não se deixem enganar pelo título ou pelo inicio do filme, “The Birds” é na minha opinião uma das obras mais negras de Alfred Hitchcock e aquela que mais inquietação produz no espectador. O inicio da história aparece repleto de diálogos dignos de uma comédia romântica da época, conversas essas que roçam sobre temas banais e até de algum humor, mas uma observação mais atenta revela que esta aparente casualidade não passa de uma grande construção irónica. Esta análise torna-se óbvia quando analisamos os pormenores escondidos nas primeiras cenas, como é o caso do primeiro encontro entre Melanie e Mitch que ocorre numa loja de animais. São pequenos detalhes como este que tornam o filme especial e digno de ser ver várias vezes, porque nunca se sabe que mais se pode descobrir.
O inicio pouco revelador e aparentemente deslocado de “The Birds” fornece igualmente um elemento surpresa para o resto do filme, quase ninguém estaria a espera que um inicio suave como aquele pudesse originar um desenvolvimento atroz e sobrenatural, isto mostra a genialidade de Hitchcock que voltou a inovar, criando uma nova forma de suspense e surpresa. “The Birds” é uma obra que pauta pela inovação, distinguindo-se inclusivamente de qualquer outro trabalho de Hitchcock. Neste filme, o cineasta joga muito com o sobrenatural e com o inexplicável, desta vez não nos é fornecida qualquer explicação concreta e verosímil que ajude a explicar os fenómenos do filme, desta forma Hitchcock deixa o final em branco para ser preenchido pelas opiniões do espectador e é por isso que se diz que “The Birds” é dos poucos filmes sem sequela que não tem uma conclusão.
Ao utilizar o inexplicável, Hitchcock inicia um jogo psicológico com os espectadores com o objectivo de lhes enraizar o medo em situações quotidianas que à partida não fornecem qualquer perigo. No fundo, a lição de moral a retirar do filme é que também se deve temer aquilo que não parece temível. Os pássaros como os corvos ou gaivotas eram tidos como inofensivos, mas acabaram por revelar-se mais mortíferos e perigosos que um Leão ou um Tigre. A partir do seu ponto crítico, “The Birds” deixa de ter longos diálogos e a história passa a ser contada através das acções e dos gritos das personagens. A música é quase inexistente, os únicos sons que pautam o desenrolar do filme são os sons agoniantes dos pássaros e as vozes de desespero das suas vítimas. Sendo assim, o suspense e terror do filme não são cortados por diálogos inoportunos ou por longas e demoradas explicações.
Os efeitos especiais utilizados em “The Birds” atingem a perfeição. Os ataques dos pássaros aparentam uma realidade e credibilidade soberba para a época. Este magnífico trabalho ficou-se a dever ao completo e meticuloso trabalho de montagem e à criatividade da equipa responsável. Algumas cenas foram gravadas várias vezes utilizando diversos acessórios e animações, para depois serem editadas em conjunto originando vários elementos na mesma cena. O melhor exemplo é a famosa cena, onde Melanie se refugia dos ataques dos pássaros numa cabine telefónica. Para gravar esta cena foram utilizadas três situações diferentes, uma onde os pássaros voam contra a cabine, outra onde os pássaros passam pela cabine a alta velocidade e outra onde Tippi Hedren finge os gritos e a aflição. No final sobrepuseram as três cenas e o resultado final está à vista. O elenco tem como figura de proa a bela Tippi Hedren, uma actriz bastante inexperiente mas que se mostrou convincente ao longo do filme. A escolha de Hedren para actriz principal é um dos raros aspectos que assemelham “The Birds” a outros filmes do realizador, já que Hitchcock sempre preferiu jovens loiras para interpretarem os papeis femininos de maior destaque nos seus filmes. O restante elenco também assume uma qualidade fora do vulgar, mas serve apenas de apoio a Tippi e aos pássaros. “The Birds” é claramente uma das mais bem conseguidas obras de Hitchcock no campo do terror e, no meu entender, até consegue superar “Psycho” na forma como consegue assustar e atormentar o público. A dúvida continua a permanecer para quem já teve o prazer de ver o filme, afinal o que causou os ataques dos pássaros por toda a costa californiana?

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

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1 Comentários

  1. Falou tudo.
    Vi o filme muuuitas vezes, é meu filme favorito.

    Parabéns pela crítica

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