Crítica – The Curious Case of Benjamin Button (2008)

Realizado por David Fincher
Com Cate Blanchett, Brad Pitt, Taraji P. Henson

"The Curious Case of Benjamin Button" é um filme sobre o tempo e o seu impacto sobre as nossas vidas, impacto esse de que nem sempre nos apercebemos. Mark Twain terá dito que era lamentável que a melhor parte da vida fosse no início e a pior no fim. Tal reflexão levou Scott Fitzgerald a escrever um conto sobre o tema intitulado "The Curious Case of Benjamin Button". Foi a partir daí que o argumentista Eric Roth (que criara já Forrest Gump) concebeu esta muito livre adaptação à grande tela.
Nascido em circunstâncias pouco usuais no final da Primeira Grande Guerra, Benjamin não só perdeu a mãe à nascença , como o facto de o seu corpo de bebé ter nascido estranhamente envelhecido, levou o seu pai a abandoná-lo poucas horas depois à porta de um lar de idosos governado pela maternal Queenie (Taraji P. Henson) que logo o adoptou e criou entre os velhos que lentamente abandonavam a vida. Só que, ao contrário dos outros residentes, Benjamin (Brad Pitt) rejuvenescia a cada dia até ao momento em que se sentiu suficientemente forte para sair de casa e se fazer à vida. Foi marinheiro na Segunda Guerra Mundial, à qual escapou com vida por pouco, conheceu e amou a mulher de um espião na Rússia, viajou, correu mundo e um dia regressou a casa e descobriu que sempre amara Daisy (Cate Blanchett) que visitava, quando era pequena, a avó aos fins-de-semana no lar e que era agora uma promissora bailarina. Vivem juntos e têm uma filha mas a inexorabilidade do tempo obriga-os a afastarem-se fisicamente.


Esta grande obra de Fincher enriquece-nos enquanto espectadores de cinema de diversas formas. Em primeiro lugar, o modo com as interpretações de Blanchett e Brad Pitt dão vida a corpos e personagens que se transfiguram no tempo é fabulosa e muito bem suportada por uma excelente caracterização que não diminui o trabalho dos actores. Depois o argumento não pode deixar de tocar cada um de nós pois a personagem principal, o tempo, é o nosso companheiro de toda a vida. O tempo que nos ajuda na infância a nos tornarmos mais fortes e independentes e que gradualmente nos vai retirando todas essas conquistas, actua de forma inversa em Benjamin Button. Não sei , contudo, se esse efeito é melhor ou pior do que o envelhecimento normal. Benjamin perde, como todos nós, as pessoas que ama porque o seu relógio gira no sentido contrário, passa por todos o estádios de decrepitude até à mais exuberante juventude para terminar um bebé tão dependente como quando nasceu.
Benjamin Button é também uma reflexão sobre as relações humanas, o pai que o abandonou e que depois se torna um grande amigo – o que nos leva a pensar como seria a vida de Benjamin se a mãe não tivesse morrido de parto; Queenie que julga não poder ter filhos e por isso o adopta inteiramente – que nos faz pensar como seria vida de Benjamin se ela soubesse que podia ser mãe de verdade; a súbita interrupção da carreira de bailarina de Daisy provocada por um estúpido atropelamento – situação que suscita dentro do próprio filme uma reflexão sobre os acasos que condicionam a existência.

Classificação - 5 Estrelas Em 5

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7 Comentários

  1. Parabéns pela crítica. Está muito boa. O filme é tudo isso e muito mais. Grande filme de Fincher que vai ficando cada vez mais na história do cinema como um dos grandes nomes americanos desta sétima arte. Fight Club, Se7en,
    The Game, Alien3... não me lembro de um filme ruim deste senhor.
    O Brad Pitt?!! Muito boa a interpretação, mas cada vez me convenço mais que tem que ter um grande realizador por trás para ter uma interpretação deste calibre.

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  2. Na minha opinião, quem faz uma excelente crítica deste filme e, em particular, do papel de Brad Pitt contenta-se com pouco.
    A história tem um potencial enorme que nunca chega realmente a ser explorado, essencialmente porque a personagem de Benjamin nunca deixa de ser um livro em branco em termos emocionais.
    A ideia é genial, o início é genial, em especial a história do relógio cujos ponteiros rodam no sentido oposto ao convencional e do seu relojoeiro cego que foge de barco em direcção ao horizonte. A fotografia está muito bem conseguida em termos de iluminação e cenografia, e até a música convence. A caracterização é brilhante!
    De resto, acho que preferia não ter sabido como acabava Benjamin, a um final que deixa muito a desejar. Além disto, irritou-me bastante durante o filme as constantes interrupções à história principal para que fosse contada a azáfama das enfermeiras do hospital em pleno Katrina (já agora, qual é a relevância de o inserir no filme?).
    Outra coisa que me desiludiu, logo no início do filme, foi o facto de Benjamin, com apenas algumas horas de vida, sorrir. Mas admito que isto possa ser discutível, porque ele de facto era diferente. Para mim, teria sido evitável.
    Oscares? Talvez sim, mas de certeza não para melhor actor principal.
    Já agora, parabéns pelo blog!

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  3. Concordo plenamente com a Filipa Beijoco. Mas mesmo integralmente. Também achei que não fazia sentido o final do filme - ele não deveria ficar criança, e finalmente bebé! Também adorei os ponteiros do relógio andarem para trás.
    As pequenas histórias que se desenrolam ao longo do filme e que no seu final são relembradas rapidamente, são uma ternura, e os personagens e as suas 'manias' ficam-nos na memória. Finalmente, a Cate Blachet está fantástica... e para mim deveria estar nomeada para óscares!
    É um filme que nos deixa a pensar muito depois de sairmos do cinema.

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  4. Vi o filme. Enfim, vi o filme. Fiquei oco e mudo por dois dias. Depois voltei ao normal, com forças para respirar e escrever. No entanto, sei que deveria permanecer oco e mudo, ainda sob o impacto da história, fazendo jus à sua beleza. Mas parece que tudo sofre mesmo da ação paradoxal do tempo – e por isso estou aqui, escrevendo.

    Escrevendo na expectativa de fazer alguns comentários sobre a história, isto é, de quase chegar a fazer uma história sobre a história, visto que a vida não é nada sem uma boa história. Antes de tudo, devemos agradecer a F. Scott Fitzgerald pela sua narrativa, e por demonstrar que a vida tem a sua própria escritura, tem desenvolvimento próprio – como um livro que se auto-escreve, e cujos capítulos vão se enredando de um modo tão lógico e tão inimaginável que só resta ao último capítulo se juntar ao primeiro, fechando o círculo. A vida é círculo. Não deve ser por acaso que os relógios sejam redondos. E que o bater das asas de um beija-flor formem o símbolo do infinito: dois círculos sobrepostos, de uma continuidade elegante e levemente elíptica.

    Será a infinitude o quadrado ou o dobro da vida? Será esta a equação matemática que, apesar de oculta, constitui a trama da existência? Não sei, não sei. Só o que sei é que, depois de ter visto O Estranho Caso de Benjamin Button, cri, mesmo que por um breve instante, que o fim e o começo não existem – vide o anacronismo expresso da história. E que estes só são uma intercessão do tempo. E que raramente saímos do seu círculo, exceto quando percebemos que há uma continuidade infinita que nos abarca e nos engloba, que nos redime, nos orienta e nos enche de glória - o que só ocorre para quem se resigna, aquiesce e aceita essa Imensidão.

    Benjamin Button aceita. Mamãe aceita.

    Outros personagens, cada um a seu modo, aceitam ou aprendem a aceitar.

    Eu, como sou osso duro de roer, estou aqui tentando aprender alguma coisa.

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  5. esperava mais do filme, é bom ninguém lhe tira isso de facto, mas é tem uma duração um pouco longa que no meio do filme faz com que a pessoa perca um pouco o interesse, voltando a recuperar o interesse inicial no fim do filme.

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  6. Fogo! Grandes filmes, superiores a este, não têm nota 5... Enfim... Já não confio neste site

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