Crítica - Der Baader Meinhof Komplex (2008)

Realizado por Uli Edel
Com Martina Gedek, Moritz Bleibtreu, Johanna Wokalek

Se há conclusão que possamos tirar deste filme é que a Alemanha é um estado com um passado demasiado sangrento para poder abraçar pacificamente a democracia. Baarder-Meinhof foi o nome com que a imprensa apelidou as RAF, grupo terrorista que durante os anos 70 pugnou em acções armadas na Alemanha pelo fim do imperialismo americano e do capitalismo em geral. Esta obra de Uli Edel, ainda que assuma muitas vezes o registo de documentário, não explora o modo como o grupo de se formou nem exactamente as razões que terão levado uma jornalista com duas filhas pequenas a abandonar tudo para seguir a guerrilha armada. O grupo teria sido constituído por Andreas Baader (Moritz Bleibtreu) e pela sua companheira Gudrun Ensslin (Johanna Wokalek ) da qual se dá uma ligeira visão de uma jovem burguesa revoltada contra o pai e o que ele simbolizava), tendo-se Ulrike Meinhof ( Martina Gedek ) junto ao mesmo depois de conhecer pessoalmente Gudrun na prisão e com ela ter arquitectado a libertação de Baader. Historicamente sabe-se que a adesão de Ulrike poder-se-ia dever não apenas a uma identificação com o espírito revolucionário mas principalmente a uma consequência de um erro de uma operação ao cérebro a que fora submetida. No filme ela é apresentada como a face mais pacífica e mais intelectual do grupo. É ela que escreve, é ela que não consegue abandonar as filhas, chegando a levá-las para um campo de treino militar palestiniano, ao contrário de Baader e Gudrun que abdicaram dos filhos que tinha de relações anteriores, é ela a primeira a capitular emocionalmente logo que é presa. O papel de líder é completamente atribuído à carismática Gurun Esslin, sendo a face pública dessa liderança Andreas Baader.



O filme procura apresentar objectivamente o grupo sem minimizar os danos humanos das suas intervenções armadas bem como o lado dos políticos, juízes e polícias que os perseguem. Mas consegue-se perceber nas entrelinhas uma tentativa de enaltecimento dos ideais do grupo, dentro do contexto histórico em que nasceu, – a tal tentativa de contribuir para a resolução do complexo Baader–Meinhof – lançando a suspeição sobre a actuação da polícia, dos tribunais e dos políticos na resolução deste caso. Não tenho qualquer indicação sobre como seriam as solitárias onde os líderes foram encarcerados depois de presos, a não ser da de Ulrique que, tanto quanto sei, era totalmente branca e com isolamento de som, mas custa-me a crer que fossem quase T0s com TV, rádio, maquina de escrever, livros e tudo o que permitisse aos guerrilheiros continuarem a sua actividade dentro da cadeia. Tal como disse não sei se de facto tal era verdade, nem se lhes foi mesmo reservado um piso e se podiam ter contactos uns com os outros. Mas essa ideia bem com a beleza dos jovens terroristas, o guarda-roupa bem característico da época mas extremamente sensual, já para não falar no nudismo e no sexo livre que praticavam, dão a tal aura de glamour que o grupo teve e que levou a que muitos outros jovens a ele se juntasse, sem grande sucesso nas suas intervenções. O filme quer deixar ainda no ar a ideia de que a morte de Baader, Gudrun e do terceiro elemento foi um suicídio antecipando uma possível execução. A tese mais provável, no entanto, é que eles tivessem sido mesmo sumariamente executados na prisão, vítimas de tortura e que lhes tenha sido negado o direito de defesa. Tudo isso no filme embora seja sugerido não é devidamente explorado a fim de que a aura de heróis não se perca. Esta é portanto uma forma da Alemanha tentar exorcizar os fantasmas do modo democrático como lida com violência.

Classificação - 4,5 Estrelas Em 5

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