Crítica - Second Life (2009)

Realizado por Alexandre Valente
Com Ana Padrão, Cláudia Vieira, José Wallenstein, Lúcia Moniz, Nicolau Breyner

Após a estreia de “Contrato”, o cinema português voltou a desiludir com a apresentação deste “Second Life”, uma espécie de thriller dramático sobre as ambiguidades e ínfimas possibilidades da vida. No meu entender, Alexandre Valente pretendia apresentar uma história intelectual e filosófica que deixasse de boca aberta os portugueses, mas em vez disso apresenta-nos uma história oca e completamente desprovida de conteúdo, que apenas choca e capta a atenção do público através das suas múltiplas cenas sexuais.
O protagonista de “Second Life” é Nicholas (Piotr Adamczyk), um homem que decide passar o seu 40º aniversário na companhia da sua mulher e de alguns amigos na sua herdade no Alentejo. À medida que a festa progride no tempo, descobrimos as profissões, os segredos, as paixões, os vícios, as traições e as ambições de cada um dos personagens presentes na festa. Após a diversão, a festa é abalada por um trágico acontecimento que envolve o aniversariante Nicholas, encontrado morto na sua piscina. A partir deste momento, o argumento assume uma postura completamente incoerente e ilógica que é exteriorizada por uma narrativa confusa e mal construída que nunca assume uma linha coerente de pensamento, acabando mesmo por ter um daqueles finais incompreensíveis que tenta ser filosófico mas que apenas é estúpido.
O argumento, um dos piores elementos do filme, não se preocupa com a coerência da história ou com a construção das personagens, preocupa-se apenas em chocar o espectador através de segredos macabros e cenas de sexo blasfémicas. No fundo, estamos perante um filme comercial que apenas tem como objectivo agarrar o dinheiro do público português que, graças a uma campanha publicitária vergonhosa, foi convencido a entrar numa sala de cinema para ver esta tentativa falhada de cinema português. Quando uma obra cinematográfica portuguesa conta com o apoio financeiro de uma televisão privada (SIC e TVI) sabemos à partida que essa obra não irá apresentar nenhuma qualidade, nem irá fazer jus ao verdadeiro valor do cinema português. Normalmente esses filmes são pautados por uma história pouco desenvolvida e por uma realização que promove a actividade sexual e o nudismo dos protagonistas. Ora como já referi, este “Second Life” não foge à regra e volta a apostar nesses elementos que aparentemente resultaram no passado. Infelizmente, enquanto o público português não abrir os olhos e começar a boicotar este tipo de filmes, as estações televisivas privadas continuaram a apostar neste cinema sem sentido e depreciativo da capacidade portuguesa.
Numa perspectiva desconstrutiva, acredito piamente que a Playboy apresenta produtos com menos cenas sexuais e com mais consistência e coerência narrativa que este “Second Life”. Acredito também que os actores que trabalham para a Playboy são mais talentosos e convincentes do que alguns que trabalharam em “Second Life”. Não consigo entender como é que nomes importantes e talentosos do cinema português, como Lúcia Moniz ou Ruy de Carvalho, decidiram participar numa obra como esta. Apesar do seu comprovado talento, nem estes actores conseguiram arrancar uma boa prestação neste filme, muito por culpa das personagens mal construídas que incorporam e da fraca história em que se vêem envolvidos. Em contraste com o elenco talentoso temos o elenco dispensável e o elenco comercial, o primeiro é composto por actrizes como Liliana Santos, Sandra Coias ou Cláudia Vieira, esta última podia ser muito talentosa na TVI mas a partir do momento em que se transferiu para a SIC começou a desempenhar papéis onde só o seu aspecto físico conta. O elenco comercial é composto por nomes como Luís Figo ou Fátima Lopes, celebridades que não estão ligadas ao cinema mas que fizeram aqui uma aparição especial para ajudar a vender o filme.
Em suma, “Second Life” é mais um produto do capitalismo e comercialismo do cinema português. Um produto vergonhoso que vende sexo em vez de qualidade. Nesta altura do ano, começam a chegar a Portugal os melhores filmes internacionais do ano passado, portanto aconselho vivamente ao público português a preferirem esses filmes em detrimento desta obra portuguesa. Na minha opinião, só devemos respeitar e apoiar o cinema português de qualidade e nunca devemos alimentar o lixo português como este “Second Life”.

Classificação - 0,5 Estrelas Em 5

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16 Comentários

  1. Concordo com a critica. O enredo do filme é simplesmente vergonho e até as cenas de sexo sao deprimentes e aparecem sem qualquer sentido lógico com o enredo.

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  2. Gostei muito desta crítica feita ao filme. Concordo plenamente. Apenas fui ao cinema ver o filme porque participei na figuração e tinha curiosidade em ver a minha figura. Posso também dizer que logo nas filmagens reparei o modo amador como tudo é feito em filmagens, apesar de mesmo assim, todos na equipa respirarem pretensiosismo. Ah, e no site oficial do filme não são aceites comentários negativos (realistas) ao filme. Fascistas!

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  3. Para o bem do cinema português, espero que a Sic e a Tvi se afastem da 7ª arte para se dedicarem em exclusivo às novelas que é para isso que servem, entreter as velhotas à noite com as novelas e de manhã e a tarde com as julias e fátimas lopes. Viva a RTP1 com a sua programação de qualidade

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  4. Ainda não vi o filme (nem devo ver...) mas de qualquer forma, como sempre, basta ver o trailer para se perceber o que nos espera. Infelizmente, o cinema português é cada vez mais uma panóplia de cenas de sexo e palavrões sem qualquer sentido lógico ou significado. Mas o que podíamos esperar de uma produção TVI (TeleVisão Incompetente)? O cinema português tem a mania que é de culto mas continua a ser uma fantochada... Apostam em figuras públicas sem qualquer jeito para representar em vez de apostarem em actores formados para isso (porque não recorrerem aos teatros onde abundam novos talentos?), e apostam no comercialismo de pôr sexo e asneiras de 5 em 5 minutos da película. Sinceramente, nos últimos anos só se salvam "Alice", "Coisa Ruim" e talvez "Entre os Dedos"...

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  5. Não concordo contigo Rui. Existe bom cinema português, mas de certo não são estas comercializações de meia tigela que identificam o nosso cinema. Veja-se Manoel d'Oliveira, veja-se João Botelho, veja-se Pedro Costa, João César Monteiro, Teresa Villaverde, Paulo Rocha, José Nascimento, João M. Grilo, João canijo, António Macedo... é só procurar bem que se encontra bom cinema português. Agora é claro que não é comercial como estes Second Life e Contrato que só servem para entreter alienados que percebem tanto de cinema como eu de pintura, ou menos.
    Mas como há quem idolatre o Van Damme e o Steven Seagal....já nada me surpreende.

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  6. Um filme verdadeiramente deprimemente...sem qualquer comentários a acrescentar!

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  7. Acho que esta critica tá bem construida, mas continuo a não concordar com algumas das coisas que aqui foram faladas. Já vi o filme, e como aqui disseram a história é muito confusa. Quanto ao cinema português, existe bom cinema português. Vejamos o caso do talentoso Amália, que eu amei, e não conhecia fado, achava secande e enfadonho. Hoje tenho uma opinião bastante diferente, e vejo a nossa Amália como um ser inigualável. Quanto aos actores que participaram neste filme, achei que todos eles são bons naquilo que fazem, embora neste filme não o demonstre. Claúdia Vieira na novela que integra nao mostra só o corpo. Mostra o talento que possui. Se vissem a novela sabiam. Concordo plenamente que nomes como Lúcia MOniz e Ruy e Carvalho não deveriam estar ligados a este filme, mas discordo com a participação da Fátima Lopes. Dêem-lhe as manhãs e já chega. Enfim, continuem com as vossas criticas, que eu estarei cá para lê-las.
    Cumprimentos

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  8. Um artigo da revista Visão nº 830 dizia:
    " O que é que o Second Life, filme realizado pelo produtor Alexandre Valente (ao lado de Miguel Glaudêncio) TEM?

    - Uma viagem de balão;
    - Uma menina (Cláudia Vieira) em frente da Fonte de Trévi, em Roma;
    - Um morto na piscina (e fala);
    - Um cego que gosta de conduzir a alta velocidade (Nicolau Bryner);
    - Uma cena de sexo lésbico (com Liliana Santos e Sandra Cóias);
    - Um passeio de vespa por Roma;
    - uma jornalista que só fala de publicidade (Lúcia Moniz);
    - Um mordomo que éo culpado (Tiago Rodrigues);
    - Jorge Malato,Figo e Fátima Lopes;
    - Um toureiro chamado Pepe (Paulo Pires);
    - Uma rave com mulheres de lingerie e máscara,e Ruy de Carvalho com rabo de cavalo.

    O que é que O Second Life NÃO TEM?
    -Pés;
    -Cabeça."

    Ora isto explica básicamente a História do Filme, que se resume apenas nestas palavras. Realmente estou de acordo com todas as criticas negativas que aqui foram argumetadas. Eu ainda nao tinha visto o filme quando li este artigo, no mesmo dia fui ao cinema e obrigaram-me, básicamente, a ver este filme pois ja tinha a ideia que apenas não passava de mais uma fantuxada do cinema português, no entanto quando entrei naquela sala 3 restavame ainda uma pingo de esperança que poderia estar enganada. Saí Desapontada. Uma das fraquesas deste nosso país é a enorme falta de creatividade no que toca ao cinema, isso deveria constituir num dos alicerces para o desenvolvimento cognitivo e cultural deste país. O cinema americano é bastante mais patrocinado isso é verdade, mas também é bastante cativante e tem uma perspectiva culta e interessante, eu olho para os filmes portugueses e não conto pelos 5 dedos de uma mão os filmes que gostei até hoje: Apresentam.me somente "Soraias Chaves", como Claúdia Vieira e liliana Santos que apenas aclamam pelo sexo e nudismo. Faltará efectivamente mais filmes como Anikibobo e o mais recente Amália. A falta de descernimento destes produtores e a falta de profissionalismo e caracter dos actores de hoje em dia, faz-me pensar que o cinema português meramente não passa de uma indústria de erotismo e pornografia. Não estará na hora de sairmos desta crise de falta de consciencia que todos os dias nos tentam incutir??

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  9. Eu sinceramente acho deprimente o modo como o povo português se envergonha de tudo o que é seu e estes pseudo-críticos que no fundo são pessoas frustadas ligadas ao cinema que nunca tiveram exito a fazer algo directamente no cinema. Se este filme fosse fruto do cinema capitalista americano toda a gente ia venerá-lo e dizer sim senhor (apesar de as asneiras estarem lá mas em ingles, os maus actores e o sexo também). Se as pessoas entram com a cabeça pré-formatada quando vao ver um filme é claro que vão sair e dizer que o filme é mau. O cinema português tem filmes muito bons como também tem filmes muito maus como todo o cinema. Este filme para mim não é um dos maus. Tem um argumento bem construído apesar de denso, talvez não compreendido por toda a gente. Tem óptimos actores, também alguns péssimos e tem uma deliciosa banda sonora.

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    1. O anónimo da 1:18 já parece as pessoas que fizeram este filme miserável, acha que o filme é um espetáculo e quem não concorda é porque não percebeu. Não, amigo, o filme é uma m*rda mesmo, você está é a inventar interpretações e significados porque por alguma razão decidiu dar uma de culto do cinema. Esqueça lá isso, está mais que visto que não é para si!

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    2. o Anónimo da 1:18 já parece as pessoas que fizeram este filme miserável, acham que o filme é bom e quem não achar é porque não o percebeu. Não, o filme é mesmo uma m*rda, a maior parte dos actores fez figuras tristes, e as piadas já estavam em ingles (quer-me parecer é que não viu o filme, ou se viu a sua cabeça deve ter por alguma razão inventado significados e interpretações para a porcaria que o resto de nós viu, se calhar porque decidiu dar uma de culto ''do cinema''. Esqueça isso, está mais que visto que não é para si.

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  10. o Anónimo da 1:18 vai mas é receber o cheque da produtora do filme, não te fica bem seres tão mentiroso lol agora queres ver que o Second Life merecia ir aos Óscares. É por pessoas como tu que o cinema portugues tem destas obras merdosas e sem nexo.

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  11. Se o Second Life ganha-se um Óscar ai é que tinhas razão, não passava de mais um filme comercial que tinha tido êxito nas bilheteiras.

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  12. Finalmente alguém põe o dedo na ferida!!! Parabéns pela crítica. E acrescento... Porquê que não houve nenhum realizador Português que pegasse no Ensaio Sobre a Cegueira e fisesse o filme? Era assim tão dificil realizar aquilo? Foi porque era cultural. Os realizadores portugueses têm aversão à cultura. Eles que continuem a realizar a porcaria que os estrangeiros vêm cá aproveitar o que é bom e cultural. E ainda se acham cultos e importantes...eu tenho é pena da ignorância deles...

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  13. O filme precisava de...
    -Melhor argumento
    e dispensavamos..
    -Figo
    -F. Lopes
    -Malatos
    O k o filme já tinha para ser mto bom
    -Claudi vieira
    -L Moniz
    -Ruy de Carvalho
    -N Breyner
    -Pedro Lima
    pena que que o sexo todo no filme acabou por se tornar num mau filme, tinha quase tudo para ser um bom filme comercial.

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  14. E qual o mal de um filme português ser comercial? O que eu acho é a maior parte dos filmes considerados "bons" são muito pouco comerciais.Alguns enfadam-me ate ao ponto de não os conseguir ver até ao fim. O que este filme tem mesmo de bom, é o mérito de conseguir ser comercial. ah... e de facto uma excelente banda sonora. O filme entretem, e cumpre a sua função.. não aquece nem arrefece. E é português! viva!

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