Crítica - The Wrestler (2008)

Realizado por Darren Aronofsky
Com Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood

Randy "The Ram" é um lutador de wrestling outrora nos píncaros da fama e da glória, como o realizador faz questão de nos mostrar com algum detalhe logo no genérico inicial. Encontramo-lo velho, falido e só mas, sacrificando a sua já débil saúde, teimosamente ligado e dependente do que sente ainda dar sentido aos seus dias: lutar, fazer no ringue o que há muito já desistiu de tentar na vida. O cenário é a América dos subúrbios (neste caso New Jersey), escondida de qualquer cartão de visita da tão propalada "terra das oportunidades", onde participa em combates realizados em salas pequenas, apenas para sentir o apoio dos poucos que ainda o lembram e conseguir uns míseros trocos que mal chegam para a renda e os medicamentos. Com uma reedição do combate que 20 anos antes o tornara famoso, sente uma nova oportunidade de voltar ao esterlato, mesmo que apenas por uma noite, intensificando ainda mais a sua rotina de treino e dedicação à única companhia a que se manteve fiel em toda a sua vida. Mas um precalço leva-o a questionar o seu percurso, conduzindo-o a um regresso a feridas que deixou abertas no passado e que quer tentar sarar, antes que o tempo o derrote no combate para manter a vida.


Mickey Rourke regressa aos grandes palcos e Aronofsky proporciona-lhe o papel de uma vida. É um daqueles casos em que temos a sensação que realizador e actor principal estavam destinados a encontrar-se e que Rourke foi em dúvida a 1ª escolha. Mas na realidade não foi isso que sucedeu. Como Rourke revelou em diversas ocasiões, Aronofsky contactou-o mas, consciente da sua fama de "bad boy" destrutivo e intratável, aceitou trabalhar com ele com a condição de que não lhe poderia pagar e de que nunca aceitaria que ele o desrespeitasse em frente à equipa, isto caso conseguisse angariar o dinheiro necessário para concretizar o filme, tarefa dificultada a partir do momento em que Rourke fosse parte do elenco. A dupla resultou na perfeição, com Aronofsky a defendê-lo contra tudo e todos e Rourke a ter inclusivé liberdade para fazer adaptações no guião. Os resultados não tardaram. O triunfo auspicioso do Leão de Ouro em Veneza foi o início de um percurso memorável no último ano, com a aclamação unânime da actuação de Rourke e de um filme singular, pela sua frontalidade e honestidade.É um caso típico do que os anglo-saxónicos apelidam de "art imitating life", já que é demasiado óbvio o paralelo entre o protagonista e homem por detrás dele. Ambos trilham o mesmo caminho de procura do tempo perdido e do potencial dos tempos em que estavam no topo, mantendo a perserverança e, a cada passo novo, recuperando a auto-confiança.
O filme transcende a realidade dos bastidores do wrestling e foca-se antes na natureza humana, no imenso manancial de tenacidade que cada um de nós, mais sonhadores e solitários como "The Ram" ou mais realistas, temos perante uma oportunidade da fazer a vida valer a pena. Aqui fala-se de um dos sentimentos mais transversais e inevitáveis no Homem, qualquer que seja o seu estado de alma ou a sua profissão: a esperança de dias melhores. E até onde somos capazes de chegar em busca da felicidade, mesmo que esse caminho traga consigo a solidão. Faltou o Oscar a Rourke. Mas o regresso a que todos assistimos, esse ninguém lho tira.

Classificação - 4 Estrelas Em 5

Enviar um comentário

2 Comentários

  1. Randy The Ram é uma personagem que se identifica com muitos ex-lutadores da WWF que agora andam na miséria ou a viver às custas de aparições em locais impróprios que não condizem com a sua qualidade. O filme também retrata o mundo dos esteroides na modalidade, uma problemática cada vez mais crescente que já instigou a intervenção do Senado Norte-Americano. A par destes temas, o filme também aborda os dramas da vida como o relacionamento difícil com os filhos ou a procura pelo amor, na minha opinião, a única cena indispensável deste “The Wrestler” é aquela cena de sexo entre Randy e a fanática por bombeiros, vê-se que foi mesmo para inserir o elemento sexo no filme algo que era perfeitamente dispensável porque o filme não precisa de mais “atractivos”. Boa Crítica ;)

    ResponderEliminar
  2. O que mais me agradou no filme foi esse paralelismo entre o mundo da luta livre e o mundo real, a analogia da luta que se trava em ambos e a tragédia de por vezes não se conseguir vencer a do segundo. Que tem como culminar a frase de "The Ram" ao entrar no recinto de luta deixando Marisa Tomei para trás: "Não é aqui que saio magoado, é no mundo lá de fora". Muito intenso, sem dúvida.

    ResponderEliminar

//]]>