Crítica - A Vida Privada de Salazar (2009)


Realizado por Jorge Queiroga
Com Diogo Morgado, Ana Padrão, Catarina Wallenstein, Soraia Chaves

Na tentativa de conseguir obter algum lucro com a mini-série “A Vida Privada de Salazar”, a SIC uniu-se à distribuidora Castelo Lopes para lançar esta espécie de biografia amorosa do ditador fascista português nos cinemas nacionais. As audiências televisivas desta mini-série foram as melhores do canal, mas não chegaram para superar as apostas de ficção nacional da TVI, a grande rival da estação de Carnaxide. A versão cinematográfica não apresenta grandes novidades em relação à versão televisiva, algumas cenas foram acrescentadas e outras apagadas mas a história central mantém-se idêntica.
Esta obra supostamente biográfica relata, com algum pormenor, as diversas facetas da vida amorosa de António Oliveira Salazar. Desde a sua juventude até aos seus últimos anos de vida, Salazar viveu rodeado de mulheres e paixões mas muitas delas mantiveram-se longe do curioso olhar popular que raramente ligava à vertente romântica do ditador. Esta produção nacional revela finalmente a identidade das principais mulheres da vida de Salazar e as razões que levaram o ditador a manter-se solteiro. Entre alguns factos historicamente correctos e outros largamente exagerados, “A Vida Privada de Salazar” apresenta-nos um argumento que aposta num claro sensacionalismo romântico, típico das novelas populares. A história foca-se única e exclusivamente na vida romântica de Salazar, deixando de lado a sua vertente política e ditatorial que marcou, durante décadas, o regime fascista do Estado Novo. Esta focalização específica acabou por distorcer a imagem do poderoso homem que governou com grande autoritarismo o nosso país, já que lhe atribui algumas atitudes e características pessoais que são categoricamente inverosímeis e historicamente irrealistas. Quanto aos romances que são abordados pelo filme, posso confirmar a existência histórica do seu envolvimento com Christine Garnier e Julinha, mas as restantes relações representadas nunca foram confirmadas por fontes oficiais e credíveis. Em suma, a história contada por “A Vida Privada de Salazar” deve ser encarada como uma obra de ficção e nunca como um biografia realista e credível, porque muitos dos factos presentes na obra não podem ser oficialmente confirmados pela história portuguesa.
Como geralmente acontece com a grande maioria das produções nacionais, especialmente as produzidas e apoiadas pelas estações de televisão privadas, o sexo e o romance fortuito marcam presença nesta obra aparentemente biográfica. Essa vertente carnal e superficial é exteriorizada através das actrizes femininas que dão vida às paixões de Salazar e que assumem uma prestação maioritariamente medíocre. Diogo Morgado é o único actor do elenco que apresenta uma performance minimamente interessante, mas verdade seja dita que a sua representação dos últimos anos de vida de Salazar, deixa muito a desejar. O elevado número de salas de cinema onde está obra será exibida é perfeitamente injustificável, porque a sua prévia exibição na televisão deverá afastar a grande maioria dos espectadores nacionais. Esta decisão torna-se ainda mais incompreensível quando verificamos que o mais recente trabalho de Manoel de Oliveira irá ser exibido num número claramente inferior de salas. Esta atitude visivelmente comercial desrespeita directamente um dos maiores valores do cinema nacional e o próprio público português, que se vê privado de uma obra original em detrimento de uma produção fraca e previamente exibida.

Classificação - 2 Estrelas Em 5

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4 Comentários

  1. Estava à espera de ler uma crítica sobre o filme em si e não sobre as circunstâncias históricas em que ele se baseia. O que é que interessa a veracidade histórica do argumento? É um filme. As pessoas querem saber se o filme é bom ou mau.

    PS: É mau. É muito mau.

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  2. Foquei-me essencialmente no argumento porque o filme/mini-série vende-se como uma biografia e quando estamos perante este género, acredito que o argumento deve-se focar nos factos históricos e verídicos sobre a figura em questão e não numa semi-verdade baseada em relatos da época. A nota negativa que dei confere o meu desagrado pela obra e aconselho todos os portugueses a optarem pela nova obra de Manoel de Oliveira, essa sim um filme nacional de qualidade.

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  3. Filipe Rodrigo Marques2 de maio de 2009 às 15:22

    Pois eu gostei bastante do filme. Achei que teve falhas, algumas até importantes como a caracterização. Relativamente ao argumento não achei o melhor do filme. Preferi contudo esta abordagem no cinema à da televisão. A realização do Jorge Queiroga surpreendeu-me. É muito boa, bem como a banda sonora do Bruno Bizarro (algo que em Portugal se esquece muitas vezes do valor das mesmas). Esta última foi no entanto prejudicada pela edição de som e pela montagem. Quanto ao Diogo Morgado para mim esteve muito bem. Filipe vargas, João Lagarto estiveram impecáveis. O elenco feminino principal, à excepção da Margarida Carpinteiro e da Ana Padrão esteve fraco.

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  4. o filme devia focar factos reais deste imortal, governante que durante cerca de meio seculo dirigiu-se os destinos da patria que ele deu a vida toda.Dizia ele tudo pela nacao, nada contra nacao.Nao podemos deixar de enaltecer o Dr.Salazar,foium governante impar na sua honestidade, pobre, filho de pobres.Hoje Portugal precisava de um outro Salazar para o endireitar.

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