Crítica - Taking Woodstock (2009)


Realizado por Ang Lee
Com Demetri Martin, Emile Hirsch, Liev Schreiber, Henry Goodman

O Festival de Woodstock, um dos eventos musicais mais emblemáticos do mundo, celebrou muito recentemente o seu quadragésimo aniversário, um acontecimento que impulsionou o aparecimento deste “Taking Woodstock”, um filme comemorativo e moderadamente interessante que nos explica em traços muito genéricos, a grandiosa existência e essência deste icónico evento de música e alegria.
A história do filme transporta-nos até aos finais dos anos sessenta, onde encontramos Elliot Tiber (Demetri Martin), um modesto rapaz que se vê em maus lençóis quando percebe que os seus pais estão à beira da falência e prestes a perderem o velho motel da família. Quando sabe que, numa cidade próxima, os habitantes fazem de tudo para frustrar os planos dos organizadores de um certo festival hippie, encontra aí a grande solução para o seu problema. Elliot decide arrendar para o evento o enorme espaço junto ao minúsculo motel. O que ele não poderia imaginar é que aquela decisão o iria tornar parte da história e que a sua pequena cidade norte-americana se tornaria no centro do universo para as mais de 500 mil pessoas presentes.


O argumento baseia-se nas memórias literárias de Elliot Tiber, o grande impulsionador da organização do Festival de Woodstock em 1969. Os eventos que permitiram a celebração do festival são todos retratados com muita alegria e comédia, dois elementos essenciais para retratar com fidelidade a história do festival. A essência comemorativa e libertina do evento é a característica mais destacada pela narrativa. Através de várias personagens extremamente peculiares e engraçadas, entramos no mundo alternativo de Woodstock, onde Paz e Amor são as palavras de eleição e onde todos os problemas da sociedade ficam à porta, sendo barrados pela música extravagante de grandes ícones da indústria musical como Janes Joplin, Jimi Henrix e Joe Cocker. Os diálogos transmitem ao espectador a contagiante magia do evento mas também transmitem o estado altamente inconstante da sociedade norte-americana da época, ou seja, o espírito de uma população afectada pelas sucessivas guerras e tensões políticas que obrigavam os jovens a procurarem refúgio nas drogas e nos movimentos mais radicais que apoiavam algumas mudanças extravagante na política nacional e internacional do país. A história apresenta-nos várias personagens de qualidade que exteriorizam na perfeição esses sentimentos revolucionários, entre as personagens mais interessante encontramos um soldado revoltado e um travesti hilariante que simbolizam as forças de mudança e liberdade de uma sociedade que se começava a abrir a novas experiências e a aceitar novos modos de vida mais alternativos e fugazes. Numa primeira fase, o protagonista da história representa o corporativismo capitalista e a mítica ideologia do sonho americano, sendo portanto uma personagem que inicialmente contraria a ideologia do evento mas que rapidamente utiliza a energia positiva do festival para salvar os seus pais da falência, no entanto, essa entrega ao espírito das festividades não afecta a sua seriedade incontornável.


A direcção de Ang Lee é demasiado conservadora, não se ligando na perfeição com o espírito do argumento e do próprio evento. Ao cineasta faltou um pouco mais de sensibilidade norte-americana, um espírito mais alternativo e menos rígido que pudesse absorver todos os elementos essenciais do icónico festival que marcou várias gerações de norte-americanos, tornando-se num verdadeiro símbolo da revolução cultural e da mudança social. O aspecto musical do festival poderia ter sido abordado com mais profundidade e criatividade, faltou um enfoque mais pormenorizado nos artistas que maravilharam a audiência e que rapidamente se tornaram em lendas do evento.
O elenco é extremamente competente e agradável. O humorista Demetri Martin interpreta sem grandes dificuldades e com muita personalidade, o grande protagonista da história. O elenco secundário é abrilhantado pelas performances de luxo de Emile Hirsch e Liev Schreiber. A banda sonora do filme é extremamente interessante e representativa do estilo musical da época, apresentado sonoridades dos principais artistas musicais da época. A fotografia é demasiado simples e comercial, uma abordagem mais psicadélica do ambiente do festival poderia ter atribuído mais qualidade e profundidade ao filme. A obra cinematográfica que comemora o aniversário do Festival de Woodstock é divertida e interessante mas poderia ter captado na totalidade o espírito psicadélico e alternativo do icónico festival de música. A direcção de Ang Lee foi excessivamente conservador e comercial, não atribuíndo à obra a mentalidade revolucionária da época.


Classificação - 3 Estrelas Em 5

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3 Comentários

  1. O Festival de Woodstock, (...) celebrou (...)o seu "quinquagésimo aniversário" ???
    Não será antes quadragésimo?

    Parabéns pelo vosso blogue. É excelente e foi para mim uma agradável descoberta!

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  2. Boa Critica.
    Concordo plenamente na parte em que referem que a parte musical, "(...) poderia ter sido abordado com mais profundidade e criatividade (...)"; e ainda que a realizadora deveria ter captado melhor a essência do festival.

    Mais uma vez, Parabéns pelo blog.

    Continuação de bom trabalho.

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  3. "Taking Woodstock": 4*

    "Taking Woodstock" é um filme bastante bom, com uma história interessante e com um elenco que cumpriu o seu dever solidamente.

    Cumprimentos, Frederico Daniel.

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