Realizado por Park Chan-wook
Com Song Kang-ho, Kim Ok-bin, Kim Hae-sook
Estreado entre nós no Fantasporto 2010 e tendo levado para casa o Grande Prémio da secção Orient Express desse mesmo festival, esperava-se que “Thirst” – o mais recente trabalho do aclamado realizador sul-coreano Park Chan-wook – aderisse ao circuito comercial com mais pompa e circunstância. Porém, apenas à segunda semana de visionamento, esta competente, original e interessante obra que aborda o tema vampírico de uma forma mais adulta e madura já se encontra em escassas salas de exibição a nível nacional. Não que o filme tenha algum problema grave. O único “incómodo” é ser de origem asiática e, portanto, estar fora daquele tipo de cinema estandardizado a que a maior parte do público está habituado.
De facto, o cinema asiático possui propriedades muito próprias. Ao contrário do cinema que provém da máquina industrial que é Hollywood, aqui não existem grandes efeitos especiais em 3D, nem se tentam criar grandiosos blockbusters onde o que mais importa é o lucro gerado no final. Aqui, louvavelmente, o que mais importa é a qualidade da história contada. Todas as cenas são filmadas com uma atenção enorme aos detalhes, toda a acção se desenrola num passo lento e demorado para que as personagens tenham tempo de se afirmar, evoluir e construir um prisma de realidade credível. Assim sendo, admito que o cinema asiático possa não ser para todos os gostos. Aqui e ali, surgem excentricidades e episódios metafóricos que podem alienar/confundir o espectador mais habituado a argumentos simples e absolutamente claros. Fiel às suas origens asiáticas, “Thirst” é um filme donde se pode retirar mais do que uma conclusão e onde várias análises e pontos de vista são bem-vindos e recebidos de forma salutar. Seja através de cenas com uma belíssima dinâmica e ângulos de câmara fenomenais (como a cómica e delicada cena final), seja pela forma poderosamente sensual como o realizador aborda as cenas de sexo e violência, o fantástico e genial cinema de autor de Park Chan-wook (realizador do envolvente "Oldboy") encontra-se bem vincado e confere a “Thirst” uma originalidade e criatividade artística simplesmente inesquecíveis.
Com Song Kang-ho, Kim Ok-bin, Kim Hae-sook
Estreado entre nós no Fantasporto 2010 e tendo levado para casa o Grande Prémio da secção Orient Express desse mesmo festival, esperava-se que “Thirst” – o mais recente trabalho do aclamado realizador sul-coreano Park Chan-wook – aderisse ao circuito comercial com mais pompa e circunstância. Porém, apenas à segunda semana de visionamento, esta competente, original e interessante obra que aborda o tema vampírico de uma forma mais adulta e madura já se encontra em escassas salas de exibição a nível nacional. Não que o filme tenha algum problema grave. O único “incómodo” é ser de origem asiática e, portanto, estar fora daquele tipo de cinema estandardizado a que a maior parte do público está habituado.
De facto, o cinema asiático possui propriedades muito próprias. Ao contrário do cinema que provém da máquina industrial que é Hollywood, aqui não existem grandes efeitos especiais em 3D, nem se tentam criar grandiosos blockbusters onde o que mais importa é o lucro gerado no final. Aqui, louvavelmente, o que mais importa é a qualidade da história contada. Todas as cenas são filmadas com uma atenção enorme aos detalhes, toda a acção se desenrola num passo lento e demorado para que as personagens tenham tempo de se afirmar, evoluir e construir um prisma de realidade credível. Assim sendo, admito que o cinema asiático possa não ser para todos os gostos. Aqui e ali, surgem excentricidades e episódios metafóricos que podem alienar/confundir o espectador mais habituado a argumentos simples e absolutamente claros. Fiel às suas origens asiáticas, “Thirst” é um filme donde se pode retirar mais do que uma conclusão e onde várias análises e pontos de vista são bem-vindos e recebidos de forma salutar. Seja através de cenas com uma belíssima dinâmica e ângulos de câmara fenomenais (como a cómica e delicada cena final), seja pela forma poderosamente sensual como o realizador aborda as cenas de sexo e violência, o fantástico e genial cinema de autor de Park Chan-wook (realizador do envolvente "Oldboy") encontra-se bem vincado e confere a “Thirst” uma originalidade e criatividade artística simplesmente inesquecíveis.
Tal como acontecia na obra-prima sueca “Let The Right One In”, “Thirst” aborda o género cinematográfico dos vampiros de uma forma perfeitamente original, particular e invulgar. Longe da banalidade e leviandade da saga “Twilight” (apesar desta saga ter as suas competências e pontos fortes), “Thirst” encara a temática dos vampiros de uma forma muito mais séria e madura. Apesar de não chegar ao patamar qualitativo do filme sueco, a película de Chan-wook pretende ser mordaz e reflexiva. Basta atender ao facto da sua personagem principal ser um padre que se torna vampiro, para depressa compreendermos que “Thirst” é um filme muito mais profundo do que aquilo que possamos imaginar.
Mas vamos ao enredo. Sang-hyeon (Kang-ho) é um padre que se encontra desencantado com a vida. Tentando imprimir algum sentido de ordem superior à sua existência, o padre decide inscrever-se num programa de análises clínicas onde se oferece como cobaia para sofrer os danos de uma terrível doença sem cura, na esperança de que o seu caso contribua para a descoberta da tão desejada cura. Sang-hyeon é injectado com uma amostra de sangue de proveniência desconhecida e, à medida que a doença (semelhante à lepra) se alastra pelo corpo, ele acaba por falecer. Porém, meros segundos após a declaração do estado de óbito, o padre regressa à vida e toda a comunidade interpreta o sucedido como um milagre. Endeusado pelo povo, Sang-hyeon tenta retomar a vida normal, mas depressa começa a sentir uma enorme fome de sangue. Aterrorizado, o padre chega à conclusão de que, para sobreviver à doença com que foi infectado (o vampirismo), ele terá de renunciar à moralidade da sua profissão, sucumbir aos desejos carnais e alimentar-se de sangue humano. Aí começa uma jornada na qual moralidades serão confrontadas e postas de lado, amizades serão quebradas, e uma relação amorosa terá início. Sang-hyeon acabará por se apaixonar por uma jovem de vinte e poucos anos chamada Tae-ju (Ok-bin), dando início a uma relação que culminará num conflito de interesses e consciências.
Mas vamos ao enredo. Sang-hyeon (Kang-ho) é um padre que se encontra desencantado com a vida. Tentando imprimir algum sentido de ordem superior à sua existência, o padre decide inscrever-se num programa de análises clínicas onde se oferece como cobaia para sofrer os danos de uma terrível doença sem cura, na esperança de que o seu caso contribua para a descoberta da tão desejada cura. Sang-hyeon é injectado com uma amostra de sangue de proveniência desconhecida e, à medida que a doença (semelhante à lepra) se alastra pelo corpo, ele acaba por falecer. Porém, meros segundos após a declaração do estado de óbito, o padre regressa à vida e toda a comunidade interpreta o sucedido como um milagre. Endeusado pelo povo, Sang-hyeon tenta retomar a vida normal, mas depressa começa a sentir uma enorme fome de sangue. Aterrorizado, o padre chega à conclusão de que, para sobreviver à doença com que foi infectado (o vampirismo), ele terá de renunciar à moralidade da sua profissão, sucumbir aos desejos carnais e alimentar-se de sangue humano. Aí começa uma jornada na qual moralidades serão confrontadas e postas de lado, amizades serão quebradas, e uma relação amorosa terá início. Sang-hyeon acabará por se apaixonar por uma jovem de vinte e poucos anos chamada Tae-ju (Ok-bin), dando início a uma relação que culminará num conflito de interesses e consciências.
Através de uma narrativa reflexiva e metafórica, “Thirst” coloca o espectador nos pés de Sang-hyeon e acompanha-o na desconstrução da sua personalidade outrora repleta de falsas e dúbias moralidades. Quanto mais sangue bebe, mais forte ele se torna; porém, consequentemente, mais a sua alma definha e perde paixão. Incapaz de aceitar o monstro em que se tornou, o padre acaba por abalroar tudo e todos na busca da única redenção possível. E este é o ponto forte da película; a viagem de transformação e desconstrução de Sang-hyeon que irá afectar todos em seu redor de uma forma tragicamente bela e mesmo, em algumas situações, cómica.
Facilmente se compreende que “Thirst” não é para todos os gostos. São mais de duas horas de um cinema muito próprio. Um cinema lento, detalhado e metafórico. Um cinema onde, por vezes, parece que estamos a assistir a uma excêntrica cadeia de acontecimentos semelhantes a uma trágica sessão de ópera nocturna. Um cinema que afasta muitos das salas, mas que merece ser visionado com muita atenção e paciência. Pois o produto que desabrocha no final constitui mais uma pérola vinda do oriente.
Facilmente se compreende que “Thirst” não é para todos os gostos. São mais de duas horas de um cinema muito próprio. Um cinema lento, detalhado e metafórico. Um cinema onde, por vezes, parece que estamos a assistir a uma excêntrica cadeia de acontecimentos semelhantes a uma trágica sessão de ópera nocturna. Um cinema que afasta muitos das salas, mas que merece ser visionado com muita atenção e paciência. Pois o produto que desabrocha no final constitui mais uma pérola vinda do oriente.
Classificação – 4 Estrelas Em 5
2 Comentários
adorei o teu texto mas tenho de confessar que já não paciencia para o vampirismo para além de que não sabia que também havia vampiros para além da Russia. Pensava que era uma personagem da mitologia ociendental. Ou haverá aí uma deliberada opção temática por um tema não asiático?
ResponderEliminarDe facto, desde que os vampiros voltaram à moda, parece que não se ouve falar de outra coisa. Mas enquanto forem surgindo abordagens decentes como este e o "Let The Right One In", não me importo de continuar a ver vampiros no cinema. Quanto aos vampiros asiáticos, este não é o primeiro filme asiático destas criaturas. Nos anime, vampiros é coisa que não falta e ainda há pouco tempo estreou entre nós o "Blood - The Last Vampire".
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