Espaço Memória - Sede (Töst) (1949)

Realizado por Ingmar Bergman
Com Birger Malmsten, Birgit Tengroth, Hasse Ekman, Eva Henning

Filme que revela já a dificuldade do cinema de Bergman, Töst foi concebido a partir de quatro contos da escritora Birgit Tengroth, que interpreta Viola no filme. A narração não é linear e por vezes torna-se confusa, mas sentimos sempre o acompanhar da destruição emocional de uma mulher que quis ser bailarina e não triunfou, que se apaixonou por um homem mais velho e casado que a abandonou quando ela engravidou. Mais tarde ela acaba por encontrar um marido que a ama mas que não consegue preencher-lhe o vazio que a esterilidade provocada pelo aborto que fizera. Na viagem de comboio que ambos empreendem, discutem permanentemente até o marido sonhar que a matou com uma garrafa e concluir que estão melhor juntos que separados. Paralelamente assistimos à história de uma mulher viúva que procura o psicoterapeuta o qual, ao não a conseguir seduzir, a tenta destruir psicologicamente. Esta mulher acaba nos braços da mais proeminente bailarina da companhia da primeira bailarina da história que tenta ter com ela uma relação lésbica sem sucesso.


O drama psicológico das personagens (todas estas mulheres fumam ininterruptamente do início ao fim do filme) é o ponto-chave do filme bem como a incomunicabilidade entre elas e as outras personagens. Principalmente a primeira das bailarinas que intervém vai sofrendo contínuos desgastes emocionais, uma destruição da auto-confiança, visível por exemplo quando pergunta à criança no comboio se gosta de dela e a criança nega, e ainda na tentativa de suicídio que o marido impede ou também na sua constante inquietação que contrasta vivamente com a calma que apresentava no inicio da sua relação com o homem casado. É a exploração do dramas emocionais dos indivíduos e do poder que pessoas moralmente duvidosas tentam exercer sobre o equilíbrio dos que lhe parecem mais fracos, a instabilidade, a incerteza, a falta de entendimento reveladores daquilo que experimentou na sua própria infância. Retemos já nesta obra a atracção pelas personagens femininas, a narrativa poética, a atenção da câmara ao pormenor da interpretação do actor, que o realizador explorará ao logo da vida. Embora não esteja ao nível de Morangos Silvestres, a sua obra-prima, este foi o filme que colocou o realizador no trilho por que ficou internacionalmente conhecido. O filme também é divulgado em Portugal com o título Sede de Paixão e no Brasil como Sede de Paixões.

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