Crítica - Daybreakers (2010)


Realizado por Michael e Peter Spierig
Com Ethan Hawke, Willem Dafoe, Sam Neill, Claudia Karvan, Michael Dorman

O universo da “Twilight Saga” manchou inegavelmente e muito provavelmente irremediavelmente a imagem maléfica e ancestral dos vampiros, uma das criaturas mais fascinantes e assustadoras do mundo sobrenatural mas que actualmente está reduzida à banalidade por força da sua sobreexposição mediática e das inúmeras obras medíocres que os retratam como criaturas mais humanas que monstruosas, no entanto, ocasionalmente surgem alguns filmes de qualidade que retratam estas criaturas com alguma seriedade e exactidão histórica/mitológica, filmes como este “Daybreakers” que sem ser magnifico consegue nos oferecer um entretenimento de qualidade sem deturpar a imagem dos vampiros. A sua história é ambientada num futuro próximo e acompanha as devastadoras consequências de um misterioso vírus mutante que transformou a maioria dos humanos em vampiros, uma raça que rapidamente se transformou na espécie dominante do nosso planeta. Os vampiros caçam e criam humanos em cativeiro para que assim se possam alimentar constantemente, no entanto, este processo levou a humanidade até à beira da extinção, uma situação que também ameaça a sobrevivência dos vampiros porque se estes não se alimentarem sofrem uma estranha mutação. Edward Dalton (Ethan Hawke) é um cientista vampiro que se recusa a beber sangue humano e que se encontra a trabalhar num substituto alimentar artificial que poderá evitar a extinção de ambas as espécies, no entanto, este resultado também poderá ser alcançado por Audrey (Claudia Karvan), uma sobrevivente humana que descobriu uma cura para o vampirismo e que espera contar com o auxilio de Edward Dalton para a divulgar.


O enredo de “Daybreakers” é relativamente semelhante ao de “Resident Evil” porque em ambas as histórias somos confrontados com um vírus mutante que se espalhou pelo mundo e que transformou a esmagadora maioria dos humanos em criaturas sobrenaturais que dependem dos humanos sobreviventes para se alimentarem e sobreviverem mas em “Daybreakers”, ao contrário de “Resident Evil” onde essas criaturas (Zombies) são seres muito pouco inteligentes que destroem a civilização e que só se preocupam em satisfazer o seu incessante apetite, essas criaturas são maioritariamente vampiros inteligentes que tentam manter uma ordem politica e civilizacional relativa, uma ideia que é tacitamente apoiada/corroborada por vários exemplos como a existência de um mundo empresaria e farmacêutico ou a existência de forças de segurança que têm várias funções. Os vampiros em “Daybreakers” são criaturas muito próximas aos humanos mas se passam algum tempo sem sangue (humano ou animal) acabam por se transformar em criaturas tão destrutivas e irracionais como zombies. O herói desta história, Edward Dalton, é um vampiro mas não é um vampiro tradicional, muito pelo contrário, é uma criatura muito semelhante ao Louis de “Interview with the Vampire” (1994), uma personagem que também demonstrava ter uma forte ligação com o seu lado humano e que também se alimentava de sangue animal em detrimento de sangue humano, esta última característica acaba mesmo por contrariar a natureza canibal dos vampiros. Edward tem várias atitudes heróicas ao longo do filme e acaba mesmo por se revelar como um excelente aliado dos humanos, tendo inclusivamente atacado vários membros da sua própria espécie, no entanto, nunca compreendemos se esses acto heróicos são motivados pela sua genuína preocupação com o futuro da humanidade ou pelo seu desejo pessoal de reverter a sua condição vampírica.


A Bromley Marks, uma companhia farmacêutica que lidera o mercado de distribuição de sangue humano nos Estados Unidos da América e que tem algumas parecenças com a sinistra Umbrella Corporation (Resident Evil), é liderada por Charles Bromley, um típico empresário/magnata corrupto e sedento de poder que quer obter o máximo de lucro possível (uma visão muito crítica dos empresários farmacêuticos do mundo real) e que também se assume claramente como o grande vilão desta história. A facção humana em “Daybreakers” é liderada por Audrey, uma rapariga com um grande espírito diplomático que comanda um grupo de sobreviventes humanos que tentam destruir a hegemonia vampírica e que acabam por descobrir uma forma de o fazer através de Elvis, um ex-vampiro que se transformou em humano após um estranho acidente, no entanto, esta cura não é a única porque mais tarde uma segunda é descoberta por Edward mas infelizmente ao mesmo tempo em que estas curas são encontradas também a Bromley inventa finalmente um substituto artificial e viável para o sangue humano, uma situação que acaba por levar ao confronto final entre Edward e Charles. A história de “Daybreakers” também explora duas difíceis relações familiares entre Edward e Frankie (o seu irmão) e entre Charles e Alison (a sua filha humana), duas relações conflituosas que não têm um desfecho muito feliz e que acabam por conferir algum drama desnecessário a esta obra. O romance está timidamente presente nesta história através da evidente tensão sexual entre Audrey e Edward, no entanto, esta relação amorosa/sexual não é muito explorada e ainda bem que assim é. A conclusão de “Daybreakers” não é muito conclusiva porque ficamos sem saber se os vampiros vão aceitar receber uma das duas curas ou se vão preferir continuar vampiros e consumir o sangue falso da Bromley.


A dupla Michael e Peter Spierig conseguiu fornecer aos vampiros um filme digno do seu estatuto. É certo que “Daybreakers” tem alguns problemas estruturais/narrativos e também é verdade que a sua vertente técnica não é deslumbrante, no entanto, estas falhas não alteram o facto de estarmos perante uma obra que nos oferece várias sequências de acção muito atractivas e um ambiente futurista e obscuro muito interessante que certamente irá aguardar aos espectadores que apreciem este género de filmes. O seu elenco é maioritariamente competente, Ethan Hawke e Willem Dafoe (Elvis) estão muito bem nos seus respectivos papeis mas Sam Neill (Charles) poderia ter sido um vilão muito mais carismático e sombrio. Claudia Karvan também não é muito convincente como líder da resistência humana, um papel muito semelhante ao de Milla Jovovich em “Resident Evil” mas que esta actriz consegue interpretar na perfeição. “Daybreakers” é um razoável filme de vampiros que deverá entreter a esmagadora maioria dos espectadores, no entanto, não é aconselhável a todos aqueles que não apreciem obra onde a acção e a violência estão quase sempre presentes.

Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

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1 Comentários

  1. Gostei do filme e recomendo passa se bem os cerca de 90 minutos do filme

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