Crítica - Morning Glory (2010)


Realizado por Roger Michell
Com Rachel McAdams, Harrison Ford, Diane Keaton, Patrick Wilson, Jeff Goldblum

As comédias são como os melões. Têm de ser muito bem escolhidas, senão corremos o risco de gastar dinheiro num produto de miserável qualidade. Tal como o género do Terror, também o género da Comédia tem sofrido um revés nas últimas décadas. Através das comédias românticas, este continua a ser um dos géneros cinematográficos mais produzidos pela Hollywood contemporânea, embora isso nem sempre constitua uma garantia de qualidade. O que se tem verificado nos últimos tempos é precisamente o oposto de tudo o que possa ser catalogado de “qualidade”, já que as comédias norte-americanas surgem em catadupa (é rara a semana em que não estreia um destes filmes) e a maior parte delas não fica muito longe do chamado “lixo cinematográfico”. É por isso que, tal como no género do Terror, temos sempre de pensar duas vezes antes de comprarmos um bilhete para uma comédia oriunda das terras do tio Sam.


Porém, de quando em quando, lá surge uma comédia made in Hollywood que merece a nossa atenção. Exactamente o que se passa com este “Morning Glory”. Este é um filme que chama a atenção, não apenas pelo seu elenco estrondoso, mas até mais pelo nome do realizador. Não nos podemos esquecer que Roger Michell é o génio por detrás de uma das comédias românticas mais belas e bem conseguidas de todos os tempos: “Notting Hill”. E mesmo que este “Morning Glory” não possua um argumento do grande Richard Curtis, o simples facto de colocar estrelas como Harrison Ford ou Diane Keaton às ordens de Roger Michell é mais do que suficiente para nos despertar o apetite. E em boa verdade se diga que, apesar de não chegar aos calcanhares do brilhante “Notting Hill”, “Morning Glory” consegue facilmente afirmar-se como uma das melhores e mais equilibradas comédias dos últimos anos.
O espectador é levado a acompanhar as desventuras de Becky Fuller (sempre simpática Rachel McAdams), uma produtora executiva de programas televisivos que vive para o trabalho e que foge a sete pés dos relacionamentos amorosos. Quando Becky se vê inesperadamente demitida de um programa matinal de relativo sucesso, após muito batalhar por uma nova oportunidade, encontra finalmente uma nova chance de concretizar o seu sonho num programa chamado Daybreak, de uma estação televisiva concorrente. A princípio, o seu entusiasmo é infinito. Mas quando vê que este novo programa tem audiências mais baixas que um jogo de voleibol e que a equipa com quem tem de trabalhar é tudo menos competente, ela depressa compreende que está perante o maior desafio da sua vida. Para tentar revitalizar o programa, Becky recorre aos serviços forçados de Mike Pomeroy (sensacional Harrison Ford, no registo mais carrancudo que se possa imaginar), uma estrela do jornalismo americano, que se recusa a fazer figura de parvo perante as câmaras. Mas o tiro sai-lhe pela culatra. E perante o atrito constante entre os egos de Mike e de Colleen Peck (Diane Keaton) – a co-apresentadora do programa –, Becky rapidamente chega à conclusão de que a sua entrada neste Daybreak pode muito bem ter sido um passo gigantesco em direcção ao suicídio profissional…


Acima de tudo, “Morning Glory” é um filme que tem como primordial objectivo levar o espectador a passar um bom bocado. Sem pretensiosismo, mas recusando-se também a cair na banalidade do costume, “Morning Glory” afirma-se como uma obra equilibrada, elegantemente filmada por Michell, e detentora de interpretações que não nos deixam indiferentes e que nos fazem rir às gargalhadas (especialmente através das expressões trombudas de Harrison Ford). O ponto fundamental para que este tipo de filmes funcione prende-se com o estabelecer de ligações afectivas com a audiência, através de um conjunto de protagonistas sincero, carismático e verosímil. E isso, “Morning Glory” fá-lo por inteiro. O espectador não precisa de muito tempo para começar a puxar pela fortuna da personagem de McAdams, assim como não precisa de se esforçar muito para se identificar com os maneirismos do Mike Pomeroy de Harrison Ford. Se há coisa que Roger Michell sabe fazer bem, para além de filmar com elegância e com sentido de timing, é fazer com que os seus actores despertem fortes afeições por parte do público. Tal como acontecia em “Notting Hill”, o público rapidamente se apaixona pelas personagens que está a observar, não conseguindo mais tirar os olhos do ecrã. E numa obra destas características, isso é meio caminho andado para o sucesso.
Ao contrário de algumas das suas obras mais recentes, Diane Keaton cai um pouco para segundo plano, num filme onde Rachel McAdams e Harrison Ford são as estrelas que brilham mais alto. É certo que, por vezes, a Becky de McAdams sorri demasiado e o Mike de Ford é excessivamente monocórdico. Mas em momento algum as suas personagens deixam de ser genuínas, levando o espectador a nunca parar de acreditar nelas. Algo que constitui, porventura, a força maior desta aprazível obra cinematográfica.


Num momento em que a vida real se afigura tão negra e desencantada, se estão à procura de alegria e de boa-disposição numa sala de cinema, “Morning Glory” é o filme certo para vocês. É, sem sombra de dúvida, uma das melhores e mais bem pensadas comédias desde “The Hangover”, estando muito longe da habitual torrente de parvoíce que Hollywood produz e que nos inunda as salas de cinema a ritmo de chita dos prados africanos. Finalmente, uma comédia a que vale a pena prestar alguma atenção. Coisa rara, nos tempos que correm.

Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

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2 Comentários

  1. Só esta crítica faz-me ir vê-lo amanhã...

    Gonçalo Silva

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  2. Já vi o filme e gostei muito da crítica!

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