Espaço Memória – Raging Bull (1980)

Realizado por Martin Scorsese
Com Robet De Niro, Cathy Moriaty, Joe Pesci, Frank Vincente

Inspirado nas memórias do ex-boxeur, campeão de peso-médio, Jake La Motta, o filme foi uma proposta de De Niro a Scorsese e um papel a que se entregou completamente, tendo chegado a engordar 27 Kg para representar a personagem depois da reforma. O filme não é fiel às memórias do pugilista, é antes uma obra sobre a vida de um homem que, segundo o realizador, “lutou como se não merecesse viver”. Extraordinariamente animalesco no modo como luta e vive a sua vida pessoal, passando por dois casamentos e três filhos, La Motta vivia dividido entre o seu talento inato e brutal e os ciúmes doentios da sua estonteantemente bela mulher. No meio de tudo isto estão as apostas ilegais e os combates viciados que acabaram com a sua carreira.
O filme tem uma estrutura circular, desde o início onde vemos um gordo e acabado LaMotta a recitar poesia, passando por todas as épocas da sua vida, sempre acompanhadas por uma banda sonora fiel às épocas em questão, para terminar com o período final da sua carreira, agora como entertainer num bar.


Curioso neste filme, para além da inesquecível interpretação de Deniro, é a relação que se constrói entre a sua personagem e o irmão e agente, Joey (Joe Pesci). Acusando-o de o trair com a própria esposa devido aos seus ciúmes doentios, Jake espanca-o em frente à família e destrói a relação entre ambos, por outro lado, Jake sente que o declínio da sua carreira começou quando o irmão o envolveu num combate viciado em que se viu obrigado a ser derrotado devido aos contratos com a máfia que controlava as apostas ilegais. O diálogo final de Jake La Motta com o espelho é uma evocação explícita do conflito entre os dois irmãos em “Há Lodo no Cais” que referimos na semana passada.
A personagem de Jake filmada por Scorsese e encarnada por De Niro é uma procura do boxeur pela aceitação de si mesmo e dos seus actos infames, muito menos violentos no filme que na realidade da vida do pugilista, e uma vingança constante nos outros da raiva que tinha de si mesmo. A cena da prisão, onde Jake se vê sozinho, sem ninguém onde descarregar essa raiva, é sintomática deste profundo conflito interior.


O filme foi filmado a preto e branco pela descrença do realizador na durabilidade da cor mas resultou num filme de grande impacto visual, dada a concentração no essencial que a cor faz dispersar. Para Scorsese este era o filme que viria desbloquear a sua criatividade. “ Pus tudo o que sabia e sentia nesse filme e pensei que ele seria o fim da minha carreira. Era como despejar todo o meu saber para dentro do filme, para de seguida esquecer tudo e ir à procura de outro modo de vida.”. O filme recebeu o Óscar de Melhor Actor Principal pela excelente interpretação de Robert De Niro e o de Melhor Montagem para Thelma Schoonmaker, tendo sido nomeado para outros seis que não recebeu.

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