Com Thanapat Saisaymar, Jenjira Pongpas, Sakda Kaewbuadee
Boonmée (Thanapat Saisaymar) enfrenta os seus últimos dias de vida numa propriedade rural, na companhia de amigos. Da sua particular relação para com a doença que o consome, emerge uma espiritualidade conciliadora, graciosamente registada, que constitui o fulcro inequívoco de “Loong Boonmee raleuk chat”. O inabitual, mas lícito, desafio que o realizador tailandês Apichatpong Weerasethakul propõe aos espectadores – que o descobriram graças à Palma de Ouro conquistada no ano passado, mas que já o deveriam ter reconhecido em “Tropical Malady” (2004) e, sobretudo, em “Sang Sattawat” (2006) – é o de vivenciarem um ideário budista aplicado a um irreversível percurso para a morte, no qual natureza, pessoas, animais e espíritos adquirem especial preponderância.
O apêgo de Apichatpong Weerasethakul à floresta, à memória e ao “karma” lê-se na riquíssima carga poética das imagens que nos são apresentadas, no som contagiante que emana da exuberante vegetação da selva asiática, e na permanente dicotomia - o betão e a madeira, o desconforto e o conforto, a insatisfação e a aceitação, a religião e a crença - que vai acompanhando a narrativa de forma apreciavelmente crítica.
Anti-litúrgico, “Loong Boonmee raleuk chat” é um filme de janelas, de acepções e de sensações. A sua fotografia e ritmo divergem dos "standards" de hoje, onde o instantâneo, o saturado e o convencional são dados adquiridos: É quase sempre rodado à média-luz; possui um ritmo próprio; e propõe relações e códigos não-convencionais entre os seus intervenientes. Talvez por isso um relevante número de espectadores tenha abandonado a sessão à qual fui, antes do seu términus. E talvez por isso o júri de Cannes, presidido por Tim Burton, tenha tido de justificar a (legítima) atribuição do seu mais prestigiante galardão a esta obra do multi-facetado Apichatpong Weerasethakul, cineasta, arquitecto, escritor e editor tailandês.
Para além da conquista da Palma de Ouro (2010), “Loong Boonmee Raleuk Chat” venceu ainda o Prémio de Melhor Filme no Festival Internacional do Dubai (2010), o “Toronto Film Critics Association Award” para Melhor Filme de Língua Estrangeira (2010) e o “Muhr AsiaAfrica Award” no âmbito dos “Asian Film Awards”, (2011).
Classificação - 4 Estrelas em 5
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