Espaço Memória – Rocco E I Suoi Fratelli (1960)

Realizado por Luchino Visconti
Com Alain Delon, Renato Salvatori, Annie Girardot, Katina Paxinou

Quando Visconti realiza Rocco e i suoi fratelli afasta-se já de um estilo tendente para o neo-realismo, que ainda assim percorre o filme, para se centrar nos conflitos psicológicos de uma família siciliana que decide migrar para Milão em busca de uma vida melhor. Dividido em quatro partes, correspondendo aos nomes de quatro dos irmãos Parondi - são cinco no total - manipulados pela sua ambiciosa mãe (Katina Paxinou),  o filme oscila entre o retrato de uma família rural inadaptada ao meio urbano em que vive e a exploração da psicologia humana.
Rocco (um  extraordinariamente belo Alain Delon) torna-se boxeur a fim de redimir o seu irmão Simone (Renato Salvatori) que não conseguiu levar a bom termo uma carreira no pugilismo, entregando-se ao vício e aos ciúmes patológicos por uma prostituta (Annie Girardot). A figura de Rocco, protagonista desta película, assume contornos trágicos. Este homem abdica da sua vida e dos seus sonhos, nomeadamente do seu amor por Nadia, a mesma prostituta por quem Simone nutre uma dependência desesperada, a fim de recuperar o irmão, chegando mesmo a abarcar a carreira de que Simone desistiu  para pagar as dívidas deste mas nada surte efeito e o seu sacrifício mostra-se estóico a um ponto pouco credível.


Apesar destes momentos menos verosímeis o filme é uma obra incontornável. O carácter quase épico da narração da vida dos quatro irmãos rodado a preto e branco pela magistral câmara de Giuseppe Rotunno está eivado de momentos muito fortes como o da violação de Nadia ou o do seu fim roçando o film noir. As atitudes de cada um dos quatro irmãos mais velhos perante os mesmo problemas e a esperança depositada por Ciro (Max Cartier) em Luca (Rocco Vidolazzi) caracteriza bem o desenraizamento da família, a sua luta para manter a identidade e a violência da vida dos mais humildes numa cidade que não compreendem e que os esmaga. A construção das personagens, principalmente da de Rocco, ainda que pouco verosímil, apresenta características trágicas que dão grande profundidade emocional ao filme.
A obra, cujo argumento é da autoria do próprio Visconti, e de Suso Cecchi d’Amico, Vasco Pratolini, Pasquale Festa Campanile,Massimo Franciosa e Enrico Medioli, foi adaptada de uma passagem do romance Ponte della Ghisolfa de Giovanni Testori. O filme recebeu o prémio especial no Festival de Cinema de Veneza em 1960.

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