Crítica - Incendies (2010)

Realizado por Denis Villeneuve
Com Lubna Azabal, Mélissa Désormeaux-Poulin, Maxim Gaudette

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas atribuiu o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2010 a “In a Better World” de Susanne Bier, no entanto, entre os cinco nomeados à vitória final encontrava-se este “Incendies”, um fabuloso melodrama franco-canadiano que teria sido um vencedor muito mais justo. A sua história é baseada na homónima obra teatral de Wajdi Mouawad e relata-nos a emocionante aventura familiar de Jeanne e Simon Marwan (Mélissa Désourmeaux-Poulin e Maxim Gaudette), dois irmãos gémeos que, durante a leitura do testamento da sua falecida mãe, descobrem que o seu pai ainda está vivo e que têm um irmão que nunca conheceram. Simon aceita com cautela e relutância estas novidades, mas Jeanne decide partir imediatamente para o Médio Oriente para os encontrar, mesmo sabendo que a região onde eles vivem tem sido dilacerada por inúmeras lutas internas e externas.


O seu denso e intenso enredo não é muito confuso, mas são várias as cenas onde o melodrama é acentuado de forma excessiva, no entanto, este é o único defeito de relevo desta valorosa obra canadiana, cuja fantástica narrativa mostra-nos a luta existencial que Jeanne Marwan trava contra o destino e contra as adversidades culturais para encontrar os seus familiares desconhecidos, satisfazendo assim a sua curiosidade e realizando o último desejo da sua mãe, Nawal Marwan (Lubna Azabal), cuja história de vida também nos é contada através de flashbacks que nos mostram as difíceis escolhas que esta teve que tomar e os remorsos que delas advieram. A sua conclusão é extremamente emotiva e dolorosa, mas oferece-nos um final extremamente satisfatório que não deixa dúvidas ou incertezas no ar.


A história de “Incendies” é fabulosa, mas não é o único elemento que o transforma numa obra merecedora de um visionamento, já que o trabalho do seu realizador e do seu elenco também é fenomenal. Mélissa Désormeaux-Poulin está fantástica como Jeanne Marwan, uma mulher forte e obstinada que levou Désormeaux-Poulin ao limite, forçando-a a utilizar todo o seu talento para nos oferecer uma performance realista e emocionalmente convincente. A veterana Lubna Azabal também está soberba como a sofredora Nawal Marwan. Maxim Gaudette não está tão bem como Désormeaux-Poulin ou Azabal, mas é o actor masculino de maior relevo deste “Incendies”, um extraordinário trabalho de Denis Villeneuve que merece ser visto por todos, mas sobretudo por quem aprecie um bom filme indie e melodramático.

Classificação – 4,5 Estrelas Em 5

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4 Comentários

  1. À muito tempo que não assistia a um filme tão arrebatador, é um verdadeiro primor na direcção e roteiro. Acho mesmo que merecia maior divulgação e exibição em mais salas. Cumprimentos!

    Sarah
    http://depoisdocinema.blogspot.com

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  2. É verdade Sarah. Merecia ter sido exibido em mais cidades.

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  3. Vi hoje o filme e não consigo desligar o filme na minha cabeça...Mesmo muito bom!

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  4. Respeitando a opinião da maioria dos comentadores, tenho de dizer que este filme está muito longe de ser um bom filme.

    *** SPOILER ***

    Em primeiro lugar, o argumento tem demasiados aspetos implausíveis. Uma dois coisas que eu considero mais implausíveis é como é que uma jovem adulta que, pelo que ficamos a saber com o diálogo com a avó (logo no início do filme, após o assassínio de Wahab pelos seus irmãos), nunca foi à escola e é analfabeta acaba por se tornar professora assistente (na universidade!!!) de matemática pura! Eu não digo que não possa acontecer nem que nunca tenha ocorrido, apenas acho que é inverosímil.

    Outra coisa que no argumento para mim não faz sentido é que espécie de mãe é que reservaria para os seus filhos a terrível descoberta que o casal de gémeos, e na verdade também o outro filho, acabaram por fazer. Eu consigo compreender que uma mãe (ou um pai) não consiga abandonar este mundo em paz sem contar uma verdade terrível, mas acho extremamente improvável que utilizasse a forma que esta utilizou para revelar a verdade, pois é demasiado cruel e provavelmente trará consequências brutais para o resto das vidas dos três filhos.

    Também me parece absurda toda a personagem do notário, apesar das boas memórias que o ator Remy Girard me traz (de «Declínio do Império Americano», de Denys Arcand). A sua rede de contactos é difícil de acreditar, mas se um notário é assim, da próxima vez que necessitar de um detetive, considere antes contratar um notário.

    Depois há toda a questão das idades e aparência física dos personagens, ao longo da trama. Acima de tudo, como é possível que um homem que violou repetidamente e durante vários anos uma mulher não a reconheça quando a vê numa piscina?

    É pena pois há no filme algumas boas ideias de cinema. Vê-se que não é feito por alguém sem talento. Particularmente a montagem e a fotografia/cinematografia são de nível elevado e ajudam a não tornar o filme um fracasso total.

    O argumento até começa com uma premissa bem interessante. Um casal de irmãos gémeos que, de repente, descobre que afinal pouco souberam sobre a sua mãe e que há coisas importantes que devem descobrir para compreenderem melhor quem são e de onde vieram. Também considero interessante e plausível que um dos irmãos parta de imediato nessa cruzada em busca do seu pai desconhecido, ao passo que o outro se deixa ficar, preferindo talvez fazer o luto típico da sua mãe para depois seguir com a sua vida, até ao momento em que tal se torna insustentável.

    Mas pior do que as falhas de argumento que, no fim de contas deverão ser imputadas à peça de teatro que o filme adapta, é a forma como ele é explorado pelo realizador. Há por todo o filme um desejo de manipular as emoções dos espetadores de forma sem sentido e gratuita. É óbvio que a guerra, ainda mais quando se trata de uma guerra civil, é terrível e implacável, mas há aqui demasiada violência gratuita que me parece ter o único objetivo de chocar o espetador.

    De facto, há todo um acumular de situações que roça a tortura cinematográfica: assassínios à queima roupa (mesmo de crianças) parece ser um dos pratos preferidos do realizador, mas também há crianças-soldado, violações repetidas (embora, neste caso, a violação não seja explorada graficamente).

    Como atrás referi, a guerra, todas as guerras, é um horror, mas prefiro ver a guerra como ela é ou foi num bom documentário do que numa obra de ficção.

    A cereja em cima do bolo é a forma como o realizador intercala as imagens de violência com um estilo videoclip, com música dos Radiohead, em duas cenas do filme. Eu adoro os Radiohead, mas acho que estão completamente fora de contexto neste filme e a sua música não corresponde ao tom geral do filme.

    Na verdade, este filme não é um fracasso total e a prova disso é que é de facto um filme difícil de esquecer e me compeliu a escrever este longo texto, após o ter visto pela primeira vez, ontem, na cinemateca de Bruxelas.
    Contudo, para mim, se fosse crítico de cinema e tivesse de lhe atribuir uma classificação, optaria por: 3/10.

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