Crítica - Troll Hunter (2010)


Realizado por André Øvredal
Com Otto Jespersen, Glenn Erland Tosterud, Johanna Mørck

Uma equipa de jovens cineastas ouve falar num massacre que está a decorrer em terras inóspitas da Noruega e decide investigar o caso. Uma série de ursos aparecem mortos nas florestas recônditas do país nórdico e ninguém parece saber muito bem quem estará a cometer tais assassinatos. Desejosos por obter material que lhes permita elaborar um documentário irreverente e ambicioso, os cineastas passam a seguir todos os passos de Hans (Otto Jespersen), um homem misterioso e de poucas palavras que se afirma como o principal suspeito dos terríveis acontecimentos. Todas as noites sem excepção, Hans abandona o parque de campismo onde vive para se embrenhar nas florestas obscuras, Deus sabe com que intento e para fazer o quê. Sempre com a câmara às costas e os microfones na mão, os jovens perseguem-no pela escuridão adentro sem pensarem duas vezes, sempre na esperança de captar o homem em flagrante delito. No entanto, o que acabam por descobrir é que Hans não anda por ali a matar ursos inocentes. Na verdade, Hans é um caçador de trolls. E depois de avistarem uma destas criaturas fantásticas com os próprios olhos, os jovens cineastas depressa se vêem inseridos numa corrida desenfreada pela sobrevivência. Mas nem assim deixarão de filmar os acontecimentos, até porque tal material cinematográfico poderá vir a torná-los famosíssimos. Isto faz-vos lembrar um certo filme de sucesso chamado “Blair Witch Project”? É natural que faça, pois a base conceptual é a mesma. Mas não deixem que as óbvias semelhanças vos enganem. “Blair Witch Project” e este “Troll Hunter” podem partilhar algum código genético, mas enquanto o primeiro é um filme de terror mais que assumido, o filme norueguês desponta ante os nossos olhos como algo muito mais leve e até cómico, não pretendendo levar ninguém a borrar-se de medo.


De facto, ao contrário de obras como “[REC]”, “Paranormal Activity”, “Cloverfield” ou o já mencionado “Blair Witch Project”, “Troll Hunter” não deve ser levado muito a sério. Se é verdade que possui alguns elementos de terror puro e duro, verdade também não deixa de ser que os trolls estão muito longe de serem assustadores. Alguns deles são até bastante fofinhos (se fecharmos os olhos ao facto de que acabaram de arrancar a cabeça a alguém), fazendo lembrar as criaturas amigáveis de “Where the Wild Things Are”, de Spike Jonze. A estrutura narrativa obedece aos mesmos padrões dos filmes de terror mencionados anteriormente. Nem a mensagem de que as filmagens foram encontradas acidentalmente e de que os protagonistas estão desaparecidos ficaram em falta, tentando levar o espectador a acreditar que o que está a ver corresponde a uma realidade não adulterada. Mas por esta altura já ninguém se deixa levar por tal mensagem. Funcionou com “Blair Witch Project” porque era algo inaudito até então, deixando muito boa gente na dúvida sobre a veracidade do que estava a visionar. Como hoje em dia já não pega, aquele impacto que “Blair Witch Project” conseguiu causar já não se faz sentir. Contudo, este tipo de abordagem favorece um certo realismo difícil de atingir com o processo de filmagem habitual, criando sempre uma atmosfera tensa e alarmante que nos faz vibrar pelo bem-estar das personagens. É uma abordagem que encaixa como uma luva no género do terror, portanto, precisamente porque torna todo o ambiente mais vívido e as personagens mais verosímeis. Mesmo que saibamos que não estamos a assistir a algo que aconteceu realmente.


A sua premissa invulgar faz com que “Troll Hunter” seja uma obra sobejamente interessante. O elenco oferece-nos prestações sem grandes falhas a apontar, o realizador André Øvredal faz coisas fantásticas com um orçamento que não terá sido propriamente esmagador, e os valores de produção com respeito pelo detalhe e pelo realismo levam-nos a acreditar no microcosmo que nos é apresentado. O argumento confere espaço para que as personagens respirem, permitindo ao espectador compreendê-las e conhecê-las melhor. Otto Jespersen é quem mais beneficia com este último aspecto, presenteando-nos com uma personagem carregada de carisma e profundidade dramática. O caçador de trolls composto por Jespersen tem tanto de soturno como de alma brava, deixando o espectador com a nítida sensação de apenas ter acesso a uma camada muito leve da sua personalidade. Afinal de contas aquilo que se quer para uma personagem rica e cativante. Pena é que alguns pontos da narrativa não primem pela credibilidade, retirando alguns valores a uma obra que poderia ter ido ainda mais longe. Para além disso, “Troll Hunter” não mantém a mesma intensidade narrativa do início até ao fim, passando por alguns pontos mortos que prejudicam o ritmo da película. Uma obra que merece ser vista, porém, e que certamente lançará André Øvredal – um cineasta com um currículo escasso – para voos ainda mais altos.

Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

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3 Comentários

  1. O filme me surpreendeu. A princípio achei se tratar de uma produção de terror fraca mas o filme trilha outro caminho: ele persuade e conduz o espectador a um universo fantástico, com um realismo impressionante. O espectador pode ainda se impressionar com a beleza exótica da Noruega e bater palmas para a ótima atuação de Otto Jespersen (HANS - O Caçador de Trolls)

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    1. Foram alguns dias achando q o filme era real, bem, tenho uma mente aberta, mas o filme me abriu de uma forma tão incrivel q, eu... acredito em trolls!

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  2. O filme me surpreendeu. A princípio achei se tratar de uma produção de terror fraca mas o filme trilha outro caminho: ele persuade e conduz o espectador a um universo fantástico, com um realismo impressionante. O espectador pode ainda se impressionar com a beleza exótica da Noruega e bater palmas para a ótima atuação de Otto Jespersen (HANS - O Caçador de Trolls)

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