Crítica - Mission: Impossible - Ghost Protocol (2011)

Realizado por Brad Bird
Com Tom Cruise, Jeremy Renner, Paula Patton, Simon Pegg

Muito por causa da forma veemente e por vezes obstinada com que defende as bases da cientologia (a religião que optou por adoptar), Tom Cruise já não é a maior estrela de cinema do mundo. A sua base de fãs decresceu significativamente nos últimos anos, graças a uma abjecta campanha de humilhação e descredibilização levada a cabo pelos media internacionais, que teimam em meter-se na vida pessoal das pessoas em vez de cingirem as suas reportagens àquilo que realmente devia interessar: a faceta profissional da pessoa em questão. Como passou a ficar na moda detestar Tom Cruise e fazer piadas acerca da sua pessoa, muitos foram aqueles que lhe viraram as costas, num fenómeno em tudo similar ao também injusto declínio de Mel Gibson. Esta é a natureza humana em toda a sua frontalidade, havendo pouco a fazer para dar a volta à situação. Mas por muito que se critique Tom Cruise, uma coisa o público em geral tem de admitir: ele é um dos actores mais dotados da sua geração e ninguém faz este tipo de papéis melhor do que ele. Graças ao suor e ao carisma natural do actor nova-iorquino de 49 anos de idade, Ethan Hunt continua em muito boa forma e promete não apresentar desde já os papéis para a reforma.


Desta feita, o agente do IMF Ethan Hunt (Tom Cruise) vê-se em muito maus lençóis. Após ser resgatado de uma prisão moscovita pelos agentes Benji (Simon Pegg) e Jane (Paula Patton), Hunt é levado a executar uma missão de alto relevo no interior do Kremlin, onde se julgam estar os códigos para o lançamento de um míssil nuclear potencialmente catastrófico. Essa missão, porém, dá para o torto. E com a destruição parcial de um dos monumentos mais importantes da nação soviética, os EUA são rapidamente apontados como o causador da desgraça e uma nova guerra fria instala-se perigosamente no horizonte obscuro. Como consequência da catástrofe, o IMF é encerrado de vez, já que Hunt é apontado pelas autoridades russas como o líder de uma missão secreta com vista à aniquilação do Kremlin. Ethan, Benji e Jane vêem-se assim atirados às feras em solo soviético, pois passam a ter pouco ou nenhum apoio técnico e arsenal para combater aqueles que os perseguem. Mas mesmo no mais negro dos cenários, eles não se podem dar ao luxo de desistir. Pois uma conspiração para despoletar uma guerra nuclear entre a Rússia e os EUA está em marcha, e só este trio de agentes com escassos recursos poderá salvar a humanidade da completa obliteração. Conjuntamente com a ajuda de Brandt (Jeremy Renner), um analista político que parece ter um passado misterioso…


Ao quarto filme da saga, é a primeira vez que vemos Ethan Hunt e a sua equipa terem de improvisar para levarem a cabo a sua missão, o que traz algo de fresco a um tipo de aventura mais que badalado. Para além de lutarem contra o relógio (como já é costume), Hunt, Benji, Jane e Brandt têm de se amanhar com aquilo que possuem e puxar arduamente pela cabeça para atingirem os seus fins. Este pequeno factor narrativo torna tudo bem mais interessante e apelativo, até porque nos oferece diversos momentos de comic relief. Desta vez não há uma vozinha na orelha que resolve tudo e mais alguma coisa. Não há um helicóptero no ar que ajude os protagonistas nos momentos mais delicados. Estes são obrigados a suar mais do que nunca, tornando a aventura muito mais aliciante para o público, até porque tem a oportunidade de se identificar muito mais com a aflição das personagens. Que não se julgue, contudo, que as imagens de marca da saga estão ausentes. Não. Os carros desportivos estão lá, os vestidos de gala também, a alta tecnologia igualmente. Mas a narrativa está construída para incentivar o desenrascanço das personagens, o que leva a audiência a torcer ainda mais por elas. Mais conhecido pelo seu trabalho nos filmes animados da Pixar, Brad Bird (realizador de obras como “The Incredibles” e “Ratatouille”) mostra que também se sente muito confortável a dirigir sequências de acção real, transportando um pouco da adrenalina que já havíamos visto em “The Incredibles” para a saga de Mission: Impossible. De resto, adrenalina é coisa que não falta a este “Mission: Impossible – Ghost Protocol”. A narrativa desenvolve-se com uma dinâmica estonteante e o espectador pouco tempo tem para respirar, pois há sempre alguma coisa em movimento, algum detalhe importante a enfiar na memória. Depois do renascimento operado por J.J. Abrams, a saga prova então que ainda está aqui para as curvas, apesar de alguns clichés que já lhe começam a ser habituais.


De facto, a realização cuidada de Brad Bird faz com que as personagens funcionem entre si. Mas todas elas acabam por cair um pouco num poço de características previamente idealizadas, servindo como uma espécie de marionetas de personagens passadas. Pois vejamos: Simon Pegg continua a servir a função de comic relief e acaba por substituir Ving Rhames no posto de informático de serviço; Paula Patton desempenha a função de agente sexy da película, substituindo Maggie Q. nessa função; e até Jeremy Renner acaba por ter uma presença muito similar à personagem de Jonathan Rhys-Meyers no filme anterior. Esta construção de personagens novas à la fábrica de fast food não ajuda a levar a aventura num sentido mais refrescante, tornando-as mesmo artificiais, como se fossem imitações baratas de um protótipo de sucesso garantido. Algo que acaba por não danificar os esforços de Paula Patton e Jeremy Renner (os novatos da saga), mas que retira alguns pontos à película em questão. Principalmente no terço final, alguns lugares-comuns perfeitamente evitáveis também abalam um pouco as fundações da película. O argumento ligeiramente previsível faz-nos ocasionalmente lembrar as fitas de Van Damme e de Stallone dos anos 80/90, o que não pode trazer nada de bom. Todavia, em última análise, é injusto massacrar demasiado uma obra que nos entretém e que se mantém minimamente crível do início até ao fim. Pelo que se deve concluir com a constatação de que “Mission: Impossible – Ghost Protocol” é uma óptima escolha para quem quiser passar uma tarde bem divertida na sala de cinema mais próxima de sua casa. 

Classificação – 3,5 Estrelas Em 5

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3 Comentários

  1. Concordo com suas opiniões quanto a vida pessoal de atores famosos. Gostei do seu texto, especialmente por exibir um vocabulário tão distinto. Quanto ao conteúdo crítico, me pareceu vago e impreciso. Parabéns e feliz Natal!!

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  2. Também gostei do filme. Está bom, não é nada de especial, mas poderia estar peior do que está... façam a crítica ao filme Warrior.

    Tenho sempre as vossas críticas como referência, assim como a nota atribuida no IMDB... Continuação de um bom trabalho..
    Feliz Natal

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  3. Feliz Natal a ambos. "Warrior" só está previsto estrear em Portugal em Janeiro de 2012, Alexandre. Na sua semana de estreia poderá contar com a crítica aqui no Portal Cinema. Terá de esperar até lá, pois salvo raras excepções, colocamos sempre as críticas na semana de estreia dos filmes.

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