Crítica – This Must Be The Place (2011)

Realizado por Paolo Sorrentino
Com Sean Penn, Frances McDormand, David Byrn
O 5º Festival de Cinema Italiano abriu sexta-feira com a exibição de "This Must be the Place" do galardoado Paolo Sorrentino (Il Divo, 2008), sem, contudo,  a esperada presença do realizador. "This Must be the Place", muito estranhamente traduzido para português como "Este é o Meu Lugar", é a primeira incursão de Sorrentino no circuito de cinema anglófono. Estou em crer, no entanto, que o filme agradou muito mais o público habitual de cinema independente europeu do que propriamente os amantes de Hollywood, tendo mesmo recebido algumas duras críticas em terras do Tio Sam. Indiscutivelmente brilhante é a arrasadora interpretação que Sean Penn faz de um rocker cinquentão, muito inspirado por Robert Smith dos de Cure (houve mesmo quem o considerasse um híbrido do vocalista gótico e de Eduardo Mãos de Tesoura, embora eu discorde dessa simplificação). É de resto em torno desta muito singular figura muito bem construída, quer no argumento quer nos cambiantes que Penn lhe confere, que reside a maior beleza da obra. Um tom de voz muito baixo e lento, reforçado por um andar arrastado (não é por acaso que Cheyenne traz sempre consigo qualquer coisa pesada com rodas) e por uma imagem muito antiquada, tão antiquada quanto pode ser a de um gótico na segunda década do século XXI, dão uma personalidade muito consistente à personagem de Cheyenne, que brinda o espectador várias vezes ao longo da película com tiradas geniais. O ar de quem tem o cérebro destruído pela heroína, a sua habilidade para rentabilizar os investimentos, o longo casamento com uma mulher mais viril do que ele, e a sua destreza ao volante são facetas que aparentemente se contradizem mas às quais Sean Penn consegue conferir autenticidade. Por outro lado, penso que mais nada no filme se encontra ao nível atingido pelo protagonista exceptuando, talvez, a banda sonora de David Byrne.

Cheyenne, que leva uma pacata vida burguesa em Dublin com a mulher, é obrigado, dada a gravidade do estado de saúde do seu pai, a ir a Nova Iorque. O cantor viaja de barco por ter medo de voar e acaba por chegar tarde mais. Depois de trinta anos de desentendimento, Cheyenne decide levar a cabo a vingança que o pai procurara toda a vida contra um homem que o humilhara. Nesta demanda, o cantor vai conhecer um caça-nazis que o ajudará. Mas a viagem é sobretudo um caminho de reconciliação consigo mesmo e com o seu pai. Ironicamente, contudo, ao telefone com a mulher e, quando esta, de forma pragmática, lhe pergunta se ele se anda à procura de a si mesmo, Cheyenne responde calmamente que está no Novo México e não na Índia. Em Dublin, para além da mulher, Jane (Frances McDormand), o rocker deixa também uma jovem amiga gótica, Mary (Eve Hewson, filha de Bono) e a sua desesperada mãe, personagens cuja introdução na obra é pouco clara para não dizer desadequada. David Byrne, por seu turno, não só compôs grande parte das músicas do filme, como nos encanta com um concerto ao vivo que dá um cunho de Wim Wenders à obra, (lembrei-me, por exemplo da actuação de Nick Cave em "As Asas do Desejo") cunho esse reforçado pela viagem de Cheyenne de carro pela América e pela presença de Harry Dean Stanton (Paris, Texas). O filme foi premiado em Cannes embora não tenha recebido a almejada Palma de Ouro.


Classificação - 4 Estrelas em 5

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