Realizado por Fernando Lopes
Com Belarmino Fragoso, Maria Amélia Fragoso, Ana Paula
Fragoso
A triste história da ascensão e queda de um (anti)herói
português é contada por Fernando Lopes num documentário fundamental na afirmação
do Novo Cinema. Belarmino, quase analfabeto, teve a oportunidade de sair da
miséria em que vivia como engraxador e se tornar num campeão internacional de
Box, mas perdeu-a. Esta história verídica, vista aos olhos de hoje, obriga-nos
a tomar consciência da miséria cultural que se vivia no país nesta época. Num
português muito mal falado, o boxeur e o seu manager (o manéger) apresentam
argumentos que justificam o desentendimento entre ambos e o consequente
fracasso profissional de Belarmino. Mas entrecortado com este litígio toma
contornos ante os nossos olhos um homem muito autêntico na sua imensa
simplicidade, cheio de contradições, de vícios, dono de uma moral duvidosa,
Belarmino é um homem lusitano, no aspeto físico, na coragem, na miséria.
Belarmino é um Boxeur pintor de fotografias ao detalhe, disparidade a que só a
miséria dá sentido.
A banda sonora, o tema, as tomadas de câmara, a fotografia e
o som são influenciados nitidamente pela nouvelle vague mas o filme é
profundamente neorrealista na humanidade da figura, no tema, na envolvência
poética com que a denúncia social é feita. Rocc ei il suoi fratteli está sempre presente no
nosso imaginário enquanto assistimos a este documentário, pelo ambiente do box
mas também pela exposição quase obscena da
vulnerabilidade humana. Como documentário imortalizou um homem que quis a
imortalidade e não soube conquistá-la, cristalizou instantes de uma Lisboa
muito diferente, onde as ousadias, a juventude, a sexualidade tinham contornos
hoje desaparecidos, o que nos deixa a refletir sobre a efemeridade do que temos
como definitivo. Augusto Cabrita recebeu o prémio do SNI pela fotografia do
filme.
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