Realizado por Tony Gilroy
Com Jeremy Renner, Rachel Weisz, Edward Norton, Stacy
Keach
O que fazer quando uma
trilogia de sucesso (tanto a nível crítico como comercial) chega ao fim
anunciado, mas os produtores desejam dar-lhe continuidade em virtude dos bons
resultados? Caso as estrelas da saga estejam fartas da mesma e se recusem a colaborar,
a solução passa por arranjar um protagonista semelhante ao original e fazê-lo
viver uma aventura paralela, de preferência na sombra do herói desaparecido e
com uma narrativa que decorra no mesmo espaço físico e/ou temporal. Foi precisamente
isto que Tony Gilroy decidiu fazer neste “The Bourne Legacy”. Jason Bourne (o
tal protagonista original interpretado pelo carismático Matt Damon) não entra
neste filme, tendo pouca ou nenhuma relevância para o desenrolar desta nova
narrativa. O seu nome e a sua fotografia são introduzidos duas ou três vezes na
película, apenas e só para que o espectador se identifique com o universo
apresentado na trilogia original. E isto acaba por ser o suficiente para que
ele sinta que está a ver um novo filme de Jason Bourne, apesar de agora o herói
se chamar Aaron Cross e de o programa Outcome nada ter a ver com os programas
Treadstone e Blackbriar. “The Bourne Legacy” desabrocha então como uma espécie
de spin-off da série Bourne, onde o material de origem é relegado para as
sombras e um novo herói desponta no horizonte. No entanto, o espírito deste tenso
universo de espionagem à americana mantém-se praticamente inalterado, com a
tensão do argumento e o ritmo frenético das sequências de ação a tomarem conta
de tudo e de todos.
A narrativa deste
quarto filme da saga decorre no mesmo espaço temporal de “The Bourne Ultimatum”.
Enquanto Bourne passa as passas do Algarve para finalmente desvendar o segredo
por detrás da sua verdadeira identidade, Aaron Cross (Jeremy Renner) descobre
que os responsáveis do programa Outcome (um programa semelhante a Treadstone) estão
a eliminar todos os agentes ativos desse programa, friamente e sem qualquer
tipo de explicação. Vendo então a sua vida seriamente ameaçada, Aaron escapa
das montanhas do Alasca onde estava a cumprir um período de castigo e
encaminha-se para a base de operações com o intuito de desvendar o que raio se
está a passar. Cedo compreende que se encontra em guerra aberta com Eric Byer
(Edward Norton), o grande mestre de xadrez da CIA, responsável pela criação de
todos estes programas de agentes secretos. E sabendo que as hipóteses de
sobrevivência são escassas a menos que se livre da dependência medicamentosa
que lhe foi imposta pelo programa, Aaron persegue o paradeiro da Dra. Marta
Shearing (Rachel Weisz), que entretanto também foi apontada como alvo de abate
urgente por causa dos conhecimentos que possui e que podem pôr em causa as
instâncias superiores da CIA. Assim começa uma frenética luta pela
sobrevivência para Aaron e Marta, que unem forças para escaparem ao destino
macabro que Byer lhes traçou.
Os fãs da trilogia
arquitetada pelos realizadores Doug Liman e Paul Greengrass não deverão ficar
desiludidos com esta nova entrega do universo Bourne. É certo que a câmara de
Tony Gilroy é mais académica e “certinha” do que a de Greengrass, surpreendendo
menos e demonstrando menos criatividade. Mas para alguns isso até poderá ser um
fator positivo, já que desta forma não sairão da sala tão nauseados pela
irrequietude da câmara. Gilroy não consegue transmitir o mesmo ritmo e a mesma
tensão que Greengrass tão bem conseguia. Mas a verdade é que também não fica
assim tão longe dos resultados de Greengrass, até porque se nota um esforço
tremendo para manter o universo Bourne igual a si mesmo, mexendo no menor
número de coisas possível, seja a nível de estilo visual, seja a nível do
processo de montagem final. Bem vistas as coisas, “The Bourne Legacy” fica a
morder os calcanhares aos dois últimos filmes da trilogia original (os da
autoria de Greengrass), de forma que os aficionados da saga poucas diferenças
encontrarão entre a trilogia e este spin-off. Para isso muito terá contribuído
o input de Tony Gilroy, ele que foi o argumentista desde o início da saga e que
aqui acumula as funções de realizador à escrita do argumento. Sente-se então
que a saga não poderia ter ficado entregue a melhor pessoa, já que Gilroy é “prata
da casa”. Jeremy Renner demonstra ser um substituto à altura de Matt Damon,
compondo uma personagem tão ou mais interessante do que a de Damon. Rachel
Weisz consegue também surpreender, aproveitando todos os minutos em que entra
em cena para nos fornecer uma prestação sólida, crível e repleta de emoção. Só
é pena que Edward Norton não tenha mais possibilidade de brilhar, limitando-se
a cumprir o seu papel de forma algo automática. Em suma, pode dizer-se que “The
Bourne Legacy” cumpre com tudo aquilo que prometia. A tensão da narrativa é
quase palpável, as prestações dos atores pouco ou nada deixam a desejar e as
sequências de ação são simplesmente arrepiantes. A prova de que o universo
Bourne não morreu com o desaparecimento de Jason Bourne.
Classificação – 4 Estrelas em 5
3 Comentários
Vim agora do cinema e fiquei agradavelmente surpreendido. A sensação que tinha, do que tenho lido e ouvido, é que o filme é muito fraco. Eu gostei mais deste do que dos últimos dois. A ausência do Greengrass foi definitivamente um factor de peso ;-)
ResponderEliminarEu depois de ter visto o filme pareceu-me apressado e com muitas partes paradas que quebram o ritmo do filme, sendo este um filme à parte dos livros de Robert Ludlum sofreu muito com isso também pois a personagem de Aaron Cross não é muito consistente, contudo o filme entrega aquilo a que se comprometeu mas abaixo da trilogia Bourne, daria-lhe 3/3,5 em 5
ResponderEliminarPessoalmente considero que a ausência de Paul Greengrass fez muita diferença.Em minha opinião o filme é bom,estando a meu ver ao nível do primeiro filme da saga mas o Supremacia e Ultimato continuam a ser melhores.Este novo capítulo tem realmente um ritmo diferente e com algumas partes paradas que o quebram.Não deixa no entanto de ser interessante e felizmente respeita todo o backstory já existente.Não fiquei desiludido e espero que façam mais uma sequela!
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