Com Tim Robbins, Elizabeth Peña e Danny Aiello
Adrien Lyne conquistou o seu lugar na sétima arte ao longo da década de '80, com sucessos mundiais como "Fatal Attraction" (1987), "Nine 1/2 Weeks" (1986), ou o musical "Flashdance" (1983). Marginal relativamente à orientação mainstream dos seus antecessores, "Jacob's Ladder" foi produzido entre 1989 e 1990, retratando uma inabitual reflexão em torno das sequelas do conflito do Vietnam, vividas por ex-combatentes norte americanos.
Abordar e representar o trauma de guerra não é um exercício fácil. Lyne conseguiu-o por mérito próprio, mas também devido ao irrepreensível argumento de Bruce Rubin, que cruza a inadaptação ao quotidiano nova iorquino com um ambicioso retrato do tumultuoso inconsciente de Jacob (Tim Robbins).
A profunda inquietação de Jacob constitui o cerne da narrativa, e é do seu conflito interior permanente, dominado por sentimentos de perda e ambivalência de percepções que se compreende o quão moribundo está. Seja na deprimida realidade metropolitana, marcada por episódios persecutórios, ou no contexto da carnificina do Vietnam.
O processo gradativo que Jacob percorre, escada entre os dois universos, anuncia-se num epifânico surto febril, magistralmente filmado por Lyne. E materializa-se no final de "Jacob's Ladder" onde, ao longo de mais de cinco minutos de delírio, a alma intraquila de Jacob revisita medos e fantasmas: espiral inanarrável no domínio do bizarro e do fantástico, retrata a obscuridade do caótico complexo psíquico de Jacob e constitui a chave de todo o filme, ao agregar referências presentes a jusante e, essencialmente, a montante da narrativa.
"Jacob's Ladder" é tido por um dos mais bem conseguidos filmes de Adrien Lyne, num registo claramente dissonante da sua restante (e reconhecida) obra. Recorrentemente descrito enquanto thriller psicológico, integra um apelativo imaginário dantesco - anjos da guarda degladiam-se com visões do inferno e assombrações - e sugere uma feroz crítica à guerra do Vietnam, na qual o uso do gás "BZ" constitui mobil inicial. A melhor performance individual da carreira de Tim Robbins merecia, à semelhança da realização, do argumento e da banda sonora, uma distinção de visibilidade internacional que nunca lhe foi atribuída.
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