Pérolas Indie - También la Lluvia (2010)

Realizado por Icíar Bollaín 
Com Gael García Bernal, Juan Carlos Aduviri, Luis Tosar 
Género – Drama 

Sinopse - Um descrente produtor de cinema, Costa (Luís Tosas), e um jovem e idealista realizador, Sebastián (Gael García Bernal), viajam até à Bolívia para trabalharem em conjunto num ambicioso projeto cinematográfico sobre a chegada de Cristóvão Colombo à América, mas nenhum dos dois pode imaginar o desafio que lhes espera quando rompe no país uma guerra entre o governo e as populações indígenas pelo controlo e distribuição da água. 

Crítica – Foi por pouco que “También la Lluvia” não conseguiu a nomeação final ao Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2011, mas esta pequena derrota não retira nenhum valor a esta interessantíssima produção espanhola, que retrata um curioso paralelismo entre os tempos históricos referentes às colonizações espanholas e os tempos atuais referentes às constantes ingerências das multinacionais estrangeiras no domínio público dos países menos desenvolvidos, sendo que em ambos os casos os mais prejudicados são sempre os mais fracos, ou seja, todos aqueles que não têm à sua disposição um grande poder económico ou bélico. A parte histórica de “También la Lluvia” é retratada por intermédio do conturbado processo de filmagens da ambiciosa produção cinematográfica comandada por Costa e Sebástian, que nos mostra como é que os espanhóis colonizadores trataram os indígenas sul-americanos que, subitamente, deixaram de ser um povo independente e passaram a ser um povo oprimido por um grande império estrangeiro. Já a parte moderna e atual do argumento é abordada através dos vários eventos que decorrem à margem do processo de filmagens e que nos mostram que os descendentes dos indígenas colonizados continuam a ser oprimidos nos tempos atuais, não pelo império espanhol mas pelo governo boliviano, que decidiu vender os direitos sobre a distribuição da água do país a diferentes empresas internacionais que, para recuperarem o grande investimento que tiveram de fazer, decidiram aumentar exponencialmente os preços da água, algo que provoca uma grande onda de indignação entre as populações mais pobres que, face à sua delicada situação económica, não têm meios suficientes para suportar os elevados custos que acarreta o consumo de água que, como todos sabemos, é indispensável para a vida. As incríveis semelhanças morais e sociais que se verificam entre estas duas situações, que estão separadas por várias centenas de anos, são analisadas e desenvolvidas com um grande melodramatismo e criatividade pelo sublime enredo desta produção que, para além de criar um interessantíssimo paralelismo temporal entre a revolução dos indígenas sul-americanos contra os espanhóis e o protesto citadino que os bolivianos promovem contra o governo e a empresa norte-americana que controla a companhia das águas local, também explora os efeitos que estes dois eventos têm nas convicções pessoais dos dois protagonistas teoricamente imparciais que, à medida que a história vai avançado, vão mudando de opinião em relação a vários assuntos. Os dois envolvem-se mesmo numa profunda viagem emocional que os leva em sentidos opostos, já que o inicialmente idealista Sebástian acaba o filme numa posição bastante egoísta, enquanto que o inicialmente interesseiro Costa termina esta obra como um homem solidário e preocupado com o bem-estar dos outros. O argumento muito humano e envolvente de “También la Lluvia” é brilhante e é maravilhosamente interpretado por um elenco muito coeso e talentoso, onde Luis Tosar assina uma performance muito forte que exterioriza na perfeição a evolução da personalidade da sua personagem. O famosíssimo Gael García Bernal também não tem um mau trabalho, mas as carismáticas performances dos seus companheiros de elenco acabam por ensombrar um bocado o seu ajuizado desempenho. A cuidada direção e as soberbas e inventivas ideias de Icíar Bollaín, a aclamada realizadora de "Flores de Otro Mundo" (1999) e "Te Doy Mis Ojos" (2003), encontra-se também na vasta lista de pontos positivos deste mais que satisfatório “También la Lluvia”, que só perde algum interesse por ter chegado tão tarde às salas de cinema do nosso país. 

 Classificação – 4 Estrelas em 5

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