Com John Hawkes, Helen Hunt, William H.Macy
A verídica e emotiva história de vida de Mark O'Brien serviu de base a esta comovente mas simultaneamente divertida comédia dramática, onde não existe nenhuma noção de futilidade e comercialismo, mas sim uma forte ideia de esperança e perseverança que acalenta os nossos corações e nos faz olhar para a vida com uma força redobrada. O positivismo de “The Sessions” é intoxicante e, pelos vistos, não sou o único a achar piada a esta dramédia, porque a crítica especializada também se rendeu por completo à sua louvável simplicidade e às penetrantes performances de John Hawkes e Helen Hunt, cujas respetivas carreiras ganharam um novo folego com esta calorosa produção criada por Ben Lewin (Guionistas/ Realizador). Em “The Sessions” acompanhamos portanto a constrangedora jornada de Mark O´Brien (John Hawkes), um homem de meia-idade que pretende perder a sua virgindade o mais rapidamente possível. Ele é bonito, inteligente e bem-humorado mas está completamente paralisado do pescoço para baixo. Esta sua condição física não ajuda em nada à concretização dos seus sonhos, mas O'Brien não desiste das suas ambições e, com a ajuda de um padre (William H. Macy) e de uma terapeuta sexual (Helen Hunt), vai tentar ultrapassar a tão almejada barreira da sexualidade.
A poliomielite é uma grave doença viral que, felizmente para todos nós, está praticamente erradicada da nossa sociedade, mas em tempos esta problemática enfermidade afetou e dificultou a vida de milhões de pessoas em todo o mundo. Uma das suas muitas vítimas foi o poeta Mark O'Brien que, aos seis anos de idade, contraiu uma estripe muito grave desta doença que o deixou paralisado do pescoço para baixo e com graves problemas respiratórios que o obrigavam a passar grande parte do seu tempo dentro de um Iron Lung, uma espécie de máquina ventiladora que permite facilitar a respiração a todos aqueles que sofrem de doenças respiratórias particularmente graves. Estas tenebrosas sequelas eliminaram por completo as noções de independência e privacidade da sua vida, mas Mark nunca deixou a sua limitada condição física dominar a sua existência ou até limitar a concretização dos seus sonhos. Ao todo, Mark O’Brien resistiu mais de quarenta anos às adversidades físicas e sociais da sua condição, tendo pelo meio vivido muitas experiências interessantes e imensamente curiosas, como aquela que conduziu à perda da sua virgindade. É precisamente a longa jornada que conduziu a esta sua primeira experiência sexual que é retratada neste tocante e bem-humorado “The Sessions”, onde somos confrontados com um argumento, sem excessos ou artifícios melodramáticos, que nos consegue emergir por completo, mas sem exageros ou estereótipos de maior, nos problemas e no quotidiano do protagonista. Este longo e constrangedor processo é acompanhado por um ambiente descontraído que nos relaxa e nos deixa à vontade para encaramos com leveza e naturalidade o progressivo envolvimento do protagonista na prossecução da sua causa, mas também nos permite seguir sem pressas ou pressão os vários dilemas morais, religiosos e sociais que ele enfrenta ao longo do filme e que representam uma ameaça constante à realização do seu sonho. Esta sua missão romântica permitiu-lhe travar uma forte amizade com várias personagens femininas muito independentes como a terapeuta Cheryl (Helen Hunt), com quem ele se envolve em picantes cenas expressivas e até explícitas que inevitavelmente o aproximam dela de uma forma romântica, no entanto, esta sua aproximação amorosa nunca estraga o filme com melosidade. A desinibida e madura Cheryl acaba mesmo por se tornar numa das peças fulcrais da sua vida, tal como o Padre Brendan (William H. Macy), que tem a complicada missão de o confortar e forçar a concretização dos seus planos. A direção de Ben Lewin também é fantástica, mas não tão soberba como a performance global do seu curto mas idóneo elenco. John Hawkes e Helen Hunt são os seus grandes destaques, já que têm ambos um desempenho absolutamente magistral. A veterana Hunt está quase perfeita e mostra-se muito à-vontade com o seu corpo e personalidade, mas confesso que a sua excelente performance, por muito boa que seja, não se compara à de John Hawkes, uma presença habitual em filmes indie de grande valor como os recentes “Martha Marcy May Marlene” (2011) ou “Winter´s Bone” (2010). Este competente mas ainda pouco conhecido ator volta a ter uma grande performance dramática, que é valorizada ainda mais pelo simples fato de ele dominar este grandioso filme com apenas um grupo de maravilhosos diálogos e um par de movimentos reduzidos. Infelizmente, “The Sessions” e John Hawkes foram ignorados pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, mas esta bela obra e este soberbo ator não precisam da aprovação desta entidade para serem valorizados. A verdade é que "The Sessions" não precisa de nenhum prémio dourado para se destacar com uma das melhores obras indies do ano transato, porque basta um visionamento para ficarmos com essa ideia na nossa cabeça.
Classificação – 4 Estrelas em 5
2 Comentários
Este filme é absolutamente maravilhoso! Tem tudo na dose certa, não cai no exagero melodramático do cinema norte-americano mas comove!
ResponderEliminarO esquecimento da interpretação de John Hawkes pela Academia é uma das grandes falhas do ano!
Excelente crítica. Continuem..
Ana
também há quem goste de levar na vunda
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