Espaço Bizarro - Dreamwood (1972)

Realizado por James Broughton
Com Henry Taylor, Margo St. James, Diane Nelson


Recorrentemente descrito enquanto um dos mais extremados filmes de Broughton nos domínios do bizarro e do onírico, "Dreamwood" constitui uma deambulação imaginária do Homem em busca da natureza e do prazer, por oposição a uma realidade industrializada e inumana.

Mas, à semelhança da generalidade da obra de James Broughton, "Dreamwood" pode também ser visto enquanto exercício introspectivo, reflexo da permanente castração à qual Broughton foi exposto na sua juventude – fruto de uma caótica convivência materna – e do sinuoso percurso interior que teve de trilhar, até se afirmar artística e sexualmente: assumidamente eclético (foi um reconhecido dramaturgo, poeta e pintor) e bissexual, Broughton constituiu uma filmografia única, focalizada nos domínios do comportamento, do afecto, da jovialidade e do belo. Exemplificam-no os provocantes "Pleasure Garden" (1953), "The Bed" (1968), ou os já mais tardios "Erogeny" (1976) e "The Gardener of Eden" (1988), todos no domínio das “curtas”.
Dreamwood revisita os principais vectores que assoberbavam a psique de Broughton, constituindo-os ingredientes de um percurso surrealista, maquilhado com códigos de índole naturalista. Não é por isso estranho o travo amargo apenso à feminilidade cerceadora de algumas personagens, ou o recurso à nudez de adultos e de crianças: à exultação (libertadora) do corpo e do sexo, permanece subjacente a repressão que James Broughton viveu durante anos.

"Dreamwood" não é uma curta-metragem. Tratam-se de cerca de 40 minutos de delírio puro, acompanhados por uma narração minimalista e com sons de inspiração psicadélica, na qual misturas e sintetização “contemporâneas” coabitam com sons de árvores ou de aves; o recurso à fusão de imagens, por sobreposição ou por fading – manifestações típicas do experimentalismo  – é recorrente, se não mesmo exagerado, potenciando a associação e a sugestão; a dimensão do sonho é superlativada pela fotografia que, curiosamente, não esconde contrastantes marcas classizantes.
Hedonista, esotérico e fantasioso, "Dreamwood" constitui uma súmula do extravagante universo que Broughton construiu, no bulíçio da São Francisco intelectual e avant-garde dos anos setenta.  Consonantes com a produção Indie da época, a produção e divulgação de "Dreamwood" foram francamente limitadas, facto apenas recentemente contrariado pela compilação "The films of James Broughton", disponível em DVD.
Com um elenco constituído pelo séquito de amigos  de "não actores" de Broughton, no qual  a presença da activista e ex-prostituta Margo St. James não passa despercebida, "Dreamwood" não recebeu qualquer tipo de prémio ou de distinção, permanecendo votado ao esquecimento.

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