Realizado por Bille August
Com Jack Huston, Jeremy Irons, Mélanie Laurent
Eu gostava de poder dizer que “Night Train to Lisbon” ou “Comboio Noturno Para Lisboa” não é um mau filme. Eu adoraria poder dizer isto, mas infelizmente não o posso fazer porque tal afirmação positiva não corresponde à realidade. A verdade amarga é que este melodrama barato não passa de um produto anticlimático, desinteressante e entediante que causa embaraço a todos os envolvidos, não sendo portanto nada que valha a pena ser visto nas salas de cinema. Baseado no homónimo best-seller de Pascal Mercier, “Night Train To Lisbon” conta-nos a história de Raimund Gregorius (Jeremy Irons), um discreto docente suíço que, certo dia, entra em contacto com um estranho livro/ diário que foi escrito por um rebelde aristocrata que se envolveu com as forças da resistência antifascista nacional que, por sua vez, estiveram diretamente envolvidas na nossa revolução dos cravos. O professor fica intrigado com este produto literário e decide, por isso, viajar até Lisboa para tentar saber mais sobre o autor e descobrir o que é que lhe aconteceu.
O seu enredo, que em nenhuma parte do mundo pode ser considerado produtivo ou impressionante, divide a nossa atenção entre duas histórias distintas com um tema existencial em comum. A primeira desenrola-se nos nossos dias e centra-se no extenuante professor suíço que, com a preciosa ajuda de outras personagens, tenta reconstruir a vida do autor do livro e encontrar, em simultâneo, as respostas para as perguntas que não o param de atormentar. A outra história desenrola-se nas vésperas da Revolução de Abril e acompanha a atribulada existência de um médico aristocrata com fortes ideais antifascistas que, nas vésperas da grande revolução nacional, vê-se envolvido num triângulo romântico sem um pingo de emoção ou credibilidade. Este lado romântico de “Night Train to Lisbon” acaba por infetar todo o filme com um resistente vírus de mundanidade que atira, sem qualquer hesitação, para segundo plano qualquer outro tema potencialmente relevante, como por exemplo, a análise ao repressivo ambiente sociopolítico e ao estado de espirito dos portugueses durante aquela conturbada época. Todas estas questões sociais e históricas são ignoradas, numa primeira fase, em prol de uma história romântica sem valor que, a certa altura, também cede a sua posição central a uma extenuante visão filosófica sobre a banalidade da rotina e da existência humana que, como se pode calcular, está igualmente desprovida de qualquer interesse dramático. A estas péssimas opções narrativas que, em conjunto, formam um argumento deplorável, temos ainda que juntar as dúbias opções criativas do seu realizador, Bille August, que, no auge do seu bom-senso, preferiu brindar o público com um retrato visual quase turístico dos locais que vão aparecendo em cena, em vez de aproveitar a sua força natural e histórica para credibilizar a narrativa e aumentar a sua dimensão social. Para além disto, August também conseguiu a proeza de conferir a esta longa-metragem um inconcebível estilo televisivo quase amador. O seu aproveitamento do elenco também me parece insuficiente, mas neste caso os atores também têm que acarretar com uma quota parte da responsabilidade, nomeadamente o veterano Jeremy Irons, que apesar de não ter um papel à sua altura, pouco faz para tornar esta sua personagem um pouco mais cativante. Irons está portanto muito distante de um bom trabalho, mas infelizmente não é o único, porque a talentosa Mélanie Laurent também não está nos seus dias. O grupo de atores portugueses tem uma participação tão diminuta e secundária que quase nem merece uma alusão mas, ainda assim, convém referir que atores bem conhecidos da nossa praça como Beatriz Batarda, Marco d'Almeida, Nicolau Breyner e Adriano Luz têm uma pequena participação nesta fraca produção europeia que merece ser alvo de todas as piadas secas sobre comboios e seus atrasos, porque “Night Train To Lisbon” é já de si uma piada seca sem qualquer emoção.
Classificação - 1,5 Estrelas em 5
6 Comentários
Este tipo de comentários de críticos pseudo-entendidos que claramente não passam de tecnocratas/frustrados ja irritam....xiça...que ressabiadas. Vêm para aqui com a seus discursos intelectualóides a querer transparecer todo o esplendor da sua sofisticação mas não fazem mais do que revelar a pobreza de espirito com que olham para o mundo à sua volta. Como se o maldizer fosse uma qualquer prova do refinamento dos seus gostos e competências. Patético. Classificação para o trabalho deste senhor: 1 estrela, pela participação.
ResponderEliminarRicardo Parente:1
ResponderEliminarJoão Pinto: 0
As criticas referidas pelo João apenas reflectem escolhas do realizador em relação à abordagem do filme, que são irrelevantes para qualquer tipo de critica. Se o caro João Pinto pretende ver uma abordagem mais histórica, ligue a televisão no canal Odisseia.
Gostei muito do filme e do trilho seguido. Contar uma história adicionando romance, acho de muito bom tom (lembro que, filmar em Lisboa não é fácil). Dizer que Irons e outros seus iguais, foram banais é no mínimo, lamentável. Estive algum tempo sem aqui vir por esse mau tom, má critica, parece-me que vou de férias.
ResponderEliminarJorge Lopes
Não se percebe uma critica tão feroz e tão pouco especifica quanto ao que realmente podia o filme ter de melhor.
ResponderEliminarTalvez tenha sido mesmo o conteúdo do próprio filme, que tenha irritado tanto o estimado critico.
Afinal de contas, o fascismo em Portugal, está hoje mais forte que nunca no meio desta crise. Qual serão as "origens" do nosso estimado critico?
O filme é bom, é claro que não tão bom como a "casa dos espíritos", mas com um ambiente semelhante.
Irracional uma critica desta amplitude em relação a um filme bom, acima da média.
O conteúdo deve ter irritado o nosso critico.
O crítico deve ter algum problema... O filme não é notai dez, mas longe da desgraça apontada aqui. Somente um pouco de vida inteligente no cinema atual, cheio de 3Ds ridículos.
ResponderEliminarRídicula a crítica... vi o filme com atenção e achei bastante bom, um retrato engraçado daquela época e do choque de valores também, pecou sim pelo discurso ser 98% em inglês, passando-se 85% do filme em Portugal, foi bom pela boa poesia lusa que cativou os Europeus que fizeram do livro um Best-Seller. Se fosse filmado em Londres ou Paris já era um bruto filme, como envolve portugueses é ridículo...
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