Pérolas Indie - Paradise: Love (2012)

Realizado por Ulrich Seidl
Com Inge Maux, Margarete Tiesel, Inge Maux
Género – Drama

Sinopse – Teresa (Margarete Tiesel) é uma solitária mulher austríaca de meia-idade que decide fazer uma viagem de lazer até ao Quénia. O objetivo de Teresa não passa por fazer uso das maravilhosas praias do país ou aproveitar ao máximo todos os luxos do seu resort de cinco estrelas, mas sim ter relações sexuais com vários homens mais novos, que estão disponíveis para realizarem todas as suas fantasias por um preço.

Crítica – A primeira parte da trilogia “Paradise” põe em evidência o turismo sexual, mas esta produção quase documental de Ulrich Seidl não explora este drama social e sexual do ponto de vista das vítimas (mulheres) perante os clientes (homens), já que inverte os papéis e explora a prostituição masculina sob o ponto de vista de uma cliente feminina. O filme dá-nos a entender que essa mulher (Teresa) decidiu recorrer à prostituição masculina porque já não tem relações sexuais há alguns anos e quer, portanto, encontrar desesperadamente alguém que a trate bem e que a satisfaça sexualmente, mas estes seus objetivos mudam radicalmente quando ela começa a ter encontros sexuais regulares com vários jovens locais que, infelizmente, não correspondem às suas elevadas e irrisórias expectativas porque, para além de a enganarem com histórias mirabolantes, não parecem gostar nada dela. É por isso que esta mulher austríaca que, no início, só queria encontrar o seu monógamo príncipe encantado africano e que até estava algo hesitante em relação ao turismo sexual, acaba por se transformar numa pessoa desinibida e incrivelmente fria, que, no final da sua estadia, já não se importa nada com as questões morais da prostituição e nem sequer questiona os pagamentos pelos serviços sexuais, já que passou a ver os homens africanos como meros objetos sexuais que dizem muitas mentiras e que estão ali para a agradar e para receber o seu dinheiro. No início de “Paraide: Love” até conseguimos sentir alguma pena da protagonista, que, apesar de ter uma filha, parece levar uma vida muito solitária e frustrante, algo que a leva a procurar alternativas radicais e ilícitas como a prostituição, para assim encontrar alguém que lhe dê algum amor e atenção mas, à medida que a trama se desenvolve, começamos a descobrir a verdadeira personalidade da protagonista, que, afinal de contas, não passa de uma mulher picuinhas e arrogante que não se preocupa minimamente com os sentimentos dos outros. O seu pior lado vem à tona quase no final do filme, quando humilha um tímido jovem empregado do resort porque este se recusou a ter sexo oral com ela. Para além de nos mostrar o seu lado mais cínico e malvado, esta sua péssima atitude também pode ser encarada como uma maneira violenta que ela encontrou de libertar toda a sua frustração em relação às suas experiências sexuais durante a viagem ou até em relação à sua vida sexual e familiar atual, já que nada correu como ela planeou e, quando chegar a casa, terá que lidar com a sua filha que, aparentemente, está cada vez mais distante. As aventuras sexuais de Teresa são retratadas de uma forma bastante explícita por Ulrich Seidl, que fez questão de filmar tudo ao pormenor e, em algumas cenas, até transforma este produto num filme semi-pronográfico. As cenas de sexo e sedução são todas muito claras, físicas e abertas. Os nus frontais são uma constante e há até uma cena explícita de strip masculino, onde as atrizes femininas não se inibem de tocar e estimular o órgão sexual do ator africano. É por isso que “Paradise: Love” pode ser considerado um filme demasiado frontal, controverso e sexual, até porque grande parte da sua duração é preenchida por cenas desse género, ou então por momentos de sedução onde as carícias sexuais são uma constante, no entanto, acho que esta forma aberta de filma consegue valorizar a experiência do espetador, porque é tudo exibido sem qualquer preconceito e censura. É portanto necessário valorizar o trabalho do realizador, mas sobretudo de todos os atores envolvidos, que demonstraram uma grande capacidade de desinibição e controlo em todas as cenas explicitas do filme. O único defeito assumido desta produção está na forma como retrata o turismo sexual em países menos desenvolvidos, já que só toca levemente nas várias questões morais e sociais que se levantam em relação a este polémico tema atual. Seidl até nos mostra como agem os prostitutos e como é que estes conseguem convencer as suas clientes a darem-lhes muito dinheiro, mas não explora com grande detalhe as suas dinâmicas profissionais ou as gigantes contradições sociais e culturais entre a sua realidade e a vida das suas clientes, no entanto, existe uma cena espetacular que mostra bem estas diferenças. Este pequeno momento consegue ilustrar na perfeição as dicotomias entre os turistas e os locais, já que ilustra a separação entre o luxo e a miséria ao mostrar uma praia dividida por uma corda que de um lado tem um pequeno molhe de africanos e do outro um pequeno molhe de turistas, que têm uma piscina e um relvado verdejante atrás de si. É pena não haver mais cenas que, tal como esta, exibam explicitamente as diferenças e as bases das questões que o filme levanta na nossa cabeça. A própria história de Teresa podia ter sido desenvolvida com um pouco mais de substância, já que todas as ilações que retiramos resultam de suposições baseadas no seu comportamento e personalidade, no entanto, este formato narrativo até acaba por resultar. É uma pena que "Paradise:Love" tenha algumas falhas mas, como um todo, até se destaca como um filme bastante interessante e inconvencional. 

 Classificação - 3,5 Estrelas em 5

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