Crítica - Evil Dead (2013)

Realizado por Fede Alvarez
Com Jane Levy, Shiloh Fernandez, Lou Taylor Pucci, Jessica Lucas

Foi com um crítica breve a “The Evil Dead” – o clássico de terror de Sam Raimi dos anos 80 – que me estreei a escrever para o Portal Cinema. Foi com esse texto que de certa forma me candidatei a colaborador deste espaço, de modo que o fascínio que nutro pelo sanguinolento filme de culto de Raimi é por demais evidente. Apesar de naturalmente envelhecido e ultrapassado (especialmente no que toca aos efeitos visuais), “The Evil Dead” continua a ser um dos filmes que mais me aterroriza sempre que o vejo de novo, causando-me calafrios pela noite dentro. Se fecharmos os olhos a algumas falhas relacionadas com limitações técnicas da era pré-digital e restrições orçamentais, “The Evil Dead” é ainda hoje um dos maiores arquétipos do cinema de terror, não deixando ninguém indiferente (mesmo os que o odeiam). Foi então com um misto de alegria e desconfiança que recebi a notícia de que estavam a planear fazer um remake do velhinho clássico de Raimi. Por um lado alegrei-me com a hipótese de reviver esta história macabra na escuridão de uma sala de cinema, mas por outro lado receei de imediato que fizessem asneira e destruíssem por completo o culto “deadite”. As primeiras imagens e a presença do próprio Raimi na equipa de produção, contudo, aliviaram-me a alma, pois deixaram-me convicto de que as coisas estavam no bom caminho. E agora que tive finalmente a oportunidade de ver esta película medonha, posso concluir o seguinte: este remake pode ter de comer muita sopa para chegar sequer aos calcanhares do original, mas não deixa de se afirmar como um filme de terror para homens de barba rija, distanciando-se facilmente das obras menores que têm manchado o bom nome do género e causando impacto suficiente para nos deixar com um nó no estômago.

Fede Alvarez e Rodo Sayagues (os argumentistas de serviço) não se colaram em demasia ao filme original e tiveram a coragem de alterar um pouco a narrativa, evitando tombar na cópia barata e despropositada. Ash (brilhantemente interpretado pelo mítico Bruce Campbell na obra de 1981) não está de volta e a sua namorada Linda também não. Neste arrojado e ultraviolento remake de 2013, os irmãos Mia (Jane Levy) e David (Shiloh Fernandez) tomam conta das operações em conjunto com o seu grupo de amigos mais próximos. Mia é uma jovem toxicodependente que simplesmente não consegue esquecer os traumas do seu passado e abandonar as drogas de uma vez por todas. De forma a evitar que uma overdose mande Mia desta para melhor, David e o seu grupo de amigos decidem então engendrar uma intervenção numa cabana isolada. Durante uns dias, o objetivo é vigiarem o comportamento de Mia na solidão da floresta, impedindo-a de consumir até à limpeza total do seu organismo corrompido. Porém, as coisas complicam-se quando o grupo descobre que a cabana foi o local de um ritual satânico. O Livro dos Mortos vai parar às mãos de um dos membros do grupo e daí até almas demoníacas começarem a possuir os jovens é um tirinho. Num piscar de olhos, Mia perde o controlo de si mesma e desata a atacar os seus amigos. E assim se inicia uma luta pela sobrevivência contra entidades demoníacas, que irá culminar num autêntico banho de sangue.

Como fã confesso da saga, é-me difícil ser exemplarmente imparcial. Todavia, tentarei analisar esta obra da forma mais neutra e idónea possível. “Evil Dead” (este, não o de 1981) será porventura um filme chocante e aterrorizador para a nova geração de cinéfilos. Para a geração que cresceu a pensar que filmes como “Saw” e “Scream” são o expoente máximo do cinema de terror, “Evil Dead” certamente causará um abalo maior do que um murro no estômago, pois é totalmente diferente de tudo aquilo que já tiveram oportunidade de ver. Para esses, este remake será uma nova descoberta, um expandir de horizontes, um despertar para um tipo de horror cada vez menos frequente e banido das salas. Para todos os cinéfilos da velha guarda, porém, “Evil Dead” somente despertará um sentimento de nostalgia, pois não convencerá por inteiro nem causará o impacto que seria desejável. Esta obra obteve a classificação de M/18 (algo raríssimo nos tempos que correm, onde a necessidade de absorver audiências mais vastas muitas vezes impede a consumação de fitas mais corajosas), o que por si só já atesta o seu arrojo e os seus objetivos. De facto, e tal como prometido, “Evil Dead” é cru e violento quanto baste para escandalizar muito boa gente. Todavia, não consegue ser assustador e jamais atinge a consistência (narrativa e artística) da genial obra de Raimi. A caracterização das personagens possuídas provoca arrepios e a iluminação sombria dos cenários causa alguns calafrios, mas o argumento sofre de inconsistências que o original não sofria e o ambiente terrorífico da película de 1981 simplesmente não existe neste remake. Fede Alvarez demonstrou que é um realizador corajoso e ambicioso, mas fica bem claro que não é nenhum Sam Raimi. Ao contrário de Raimi nos seus tempos de irreverente juventude, Alvarez joga mais pelo seguro e nunca surpreende o espectador com golpes de câmara inesperados. A nível sonoro, esta fita contemporânea fica igualmente muito abaixo da fita original, já que apresenta sons relativamente vulgares e pouco assustadores (a voz dos demónios soa muitas vezes mecânica e artificial, o que não é nada bom). Para além do mais, o último terço vacila demasiado com twists narrativos pouco convincentes e posturas de personagens pouco aconselháveis para a credibilidade dos eventos retratados, deitando por terra o que de bom havia sido feito. Fica então a ideia de um filme de terror ultraviolento e diferente do habitual, divertido e satisfatório mas pouco convincente. Esperava-se um pouco mais, mas vale ainda assim o preço do bilhete.
Classificação – 3,5 Estrelas em 5

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