Crítica - A Little Bit of Heaven (2011)

Realizado por Nicole Kassell
Com Kate Hudson, Gael García Bernal, Kathy Bates

É um produto angustiante, não pelo tema que aborda mas pela forma como o aborda. A premissa de “A Little Bit of Heaven” parece ter algum mérito emocional e até educacional, mas todas as coisas boas e bonitas que poderiam derivar deste filme perdem-se completamente no meio de um argumento superficial e inexplicavelmente parvo, que transforma a parte mais temida e dramática da luta contra o cancro num evento cheio de romance, humor e fantasia. A sua lamentável história dá-nos a conhecer Marley Corbett (Kate Hudson), uma jovem adulta bem-humorada que, embora seja muito bonita, não consegue encontrar um namorado porque tem um medo inexplicável de assumir compromissos com homens que a podem vir a magoar no futuro. A sua vida, aparentemente perfeita, sofre um enorme revés, quando descobre que tem um cancro em fase muito avançada e que, afinal, poderá já não ter muito tempo para cumprir todos os seus desejos. 

   

Os planos e objetivos dos criadores de “A Little Bit of Heaven” até poderiam ser os mais bem-intencionados do mundo, mas o que resulta deste seu péssimo trabalho de grupo não é um filme ligeiro e inspirador com uma curiosa veia romântica ou familiar, mas sim um produto muito fraco e sem nenhum valor, que não nos ajuda a encarar o cancro e a sua fase terminal com um certo ar de otimismo ou alívio emocional. Há por aí vários filmes que até nos conseguem vender esta ideia de esperança, mas “A Little Bit of Heaven” não é certamente um deles, até porque a sua trama preocupa-se mais com a luta romântica da protagonista do que propriamente com a sua luta oncológica. É, no entanto, fundamental referir que este não é um filme sobre o cancro, mas sim uma comédia romântica que usa o cancro como catalisador da sua história romântica. Isto ajuda a explicar o facto de não conseguirmos encontrar em todo o filme um único vislumbre credível ou até humanista dos dramas que envolvem a luta contra o cancro. É também por isso que a batalha da protagonista contra esta pavorosa doença é sempre atirada para segundo plano, em detrimento do inapropriado romance que nasce entre ela e o seu atraente médico. É verdade que a sua mediana essência romântica ajuda a explicar muita coisa, mas não serve como justificação para a patente má qualidade deste produto, onde um artificial melodrama humano e um ridículo romance leviano estão sempre em contato um com o outro. Este cruzamento de sentimentos e temas não resulta e está recheado de falhas. Os contrastes narrativos são demasiado extensos e evidentes, sendo, a certa altura, difícil de aceitar o facto de a protagonista estar mais preocupada com a sua relação com o seu médico (Gael Garcia Bernal), do que propriamente com a sua situação dramática e inevitavelmente mortal. Falta a “A Little Bit of Heaven” uma melhor e mais acentuada vertente dramática e, sobretudo, uma maior dose de realismo. A sua história tenta ser romântica, familiar e dramática, mas acaba apenas por nos dar uma ilusão de felicidade bastante fictícia e ridícula que nunca resulta. O facto de Kate Huson manter-se deslumbrante até final ou de ter conversas manifestamente idiotas com Deus/ Whoopi Goldberg só confirma o desnorte deste mau filme. 

 Classificação - 1 Estrela em 5

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